O advogado Marco Aurélio de Carvalho não esconde o “lulofanatismo” em seu escritório em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo. Em volta da mesa na qual trabalha, exibe uma coleção de miniaturas de Lula, além de fotos e a biografia do presidente. Na sala ao lado, onde se reúne com clientes — alguns, inclusive, empresários bolsonaristas—, mantém um quadro da foto do petista abraçado por apoiadores no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, antes de ser preso em 2018.
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Militante do PT desde os 12 anos, Marco Aurélio tornou-se importante figura no círculo de amizades do presidente. A relação entre os dois se estreitou durante a Lava-Jato, quando o coordenador do Prerrogativas — grupo de juristas progressistas que atuou em prol de Lula em 2022 — virou voz ativa na advocacia contra o hoje senador Sergio Moro (União-PR) e a operação. O advogado estava no restrito grupo de aliados que buscaram Lula no aeroporto de Congonhas (SP), após ele deixar a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Na campanha, o advogado ajudou a articular a chapa com Geraldo Alckmin, organizando o jantar que marcou a primeira aparição pública dos dois. Em paralelo, sua mulher passou a ser uma das melhores amigas da primeira-dama, Janja.
Com a vitória de Lula, a expectativa do advogado e de aliados era a indicação para um ministério. Mas ele acabou preterido e, segundo amigos, frustrado. A cobiçada Secretaria-Geral da Presidência ficou com Márcio Macêdo, apesar de Marco Aurélio ter reunido o apoio de movimentos sociais, entre os quais o MST.
O coordenador do Prerrogativas foi sondado para outros cargos, mas recusou. Foi contemplado apenas no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o “Conselhão”. Longe da Esplanada, agora atua por conta própria, como um articulador informal de Lula.
Marco Aurélio se incumbiu da tarefa de reaproximar Dias Toffoli do aliado. O entorno do presidente diz que ele não perdoa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por ter inviabilizado a sua ida ao enterro do irmão, Vavá, em janeiro de 2019, quando estava preso em Curitiba. Um ano antes, quando o PT foi destroçado pela Lava-Jato e Jair Bolsonaro despontava com favoritismo nas pesquisas de intenção de voto, Toffoli chamou a ditadura militar de “movimento de 1964”.
Ao ver o ministro sair cada vez mais da órbita petista, o Prerrogativas avaliou ser importante impedir que Toffoli fosse abraçado pelo bolsonarismo. A homenagem feita por Marco Aurélio ao ministro em maio de 2019, depois que ele assumiu a presidência da Corte, foi decorrência dessa estratégia, que se intensificou após a eleição.
Por meio do Prerrogativas, Marco Aurélio também tenta quebrar o gelo da relação dos ministros indicados por Bolsonaro ao STF, André Mendonça e Kassio Nunes Marques. O grupo promoveu um jantar em maio para receber Mendonça, com a presença de dois ministros de Lula. O episódio teve tom de reconciliação e afagos de integrantes do governo ao ministro “terrivelmente evangélico” de Bolsonaro. O próximo encontro deve ser com Nunes Marques.
A movimentação, no entanto, não se restringe a dirimir rusgas entre desafetos. Por meio do Prerrogativas, Marco Aurélio influencia no processo de escolha para os tribunais. O advogado, porém, nega.
Ainda que não seja um articulador oficial do governo, Marco Aurélio cumpre algumas missões a pedido de Lula. A mais recente foi abrandar as críticas de colegas juristas pela possível escolha de um homem branco para ocupar a vaga de Rosa Weber, que se aposenta este ano. O advogado foi a público dizer que Lula deve ter “ampla liberdade” de escolha, fala que rendeu críticas, especialmente de mulheres.
Rusgas com Dino
Embora seja próximo a Lula, Marco Aurélio foi voto vencido em decisões importantes do presidente, como a indicação de Cristiano Zanin ao STF. Ele defendia o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto, nome da preferência do ministro Ricardo Lewandowski. Outro revés foi em relação ao desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que resultou numa desavença com Flávio Dino, favorável à unificação das pastas e que via na proposta do colega uma tentativa de esvaziar seu poder e ficar com uma das vagas.
Desde então, Marco Aurélio virou desafeto de Dino. A relação degringolou após uma integrante do Prerrogativas criticar a escolha da advogada Marilda Silveira para ajudar Dino nas indicações para tribunais. A campanha contra Marilda citava, por exemplo, o fato de ela ter assinado uma ação para proibir Lula de dar entrevistas quando