Política
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Por Guilherme Caetano e Ivan Martínez-Vargas — São Paulo

Às vésperas de completar cem dias no comando do estado mais poderoso do Brasil, agrados a militares, falta de transparência na gestão pública e a relação com o bolsonarismo têm marcado o governo de Tarcísio de Freitas.

Enquanto a gestão se prepara para apresentar ações em andamento em suas secretarias, O GLOBO analisou as agendas do governador, públicas e privadas, para mostrar a que grupos o ex-ministro do governo Bolsonaro mais se dedicou até agora. O envolvimento com o bolsonarismo acontece sempre com uma espécie de distância segura, representa um constante dilema entre não desapontar a base que o elegeu, mas também dar sinais de que não é da extrema-direita.

Dos 220 compromissos públicos, agendas internas em reuniões com secretários (70 vezes), encontros com políticos e autoridades (50) e atos de governo, como anúncios, entregas e obras (26) são os mais frequentes. Em seguida, aparecem as três categorias nas quais Tarcísio mais investe seu tempo: empresários (26), representantes de países estrangeiros (12) e policiais e militares (11).

Agendas de Tarcísio — Foto: Infoglobo
Agendas de Tarcísio — Foto: Infoglobo

Eventos culturais (4), visitas a projetos e sociais (3) e atendimento à imprensa (3) surgem bem atrás. Todas as entrevistas divulgadas na agenda oficial foram dadas à Jovem Pan, veículo simpático ao seu governo. As agendas do governador na cidade de São Sebastião (SP), cumpridas em fevereiro como resposta aos deslizamentos de terra provocados pelas chuvas no Litoral Norte, não constam do site do governo e, por isso, não foram analisadas. A reportagem contabilizou somente as entrevistas divulgadas em agenda oficial. O governo de São Paulo informou que Tarcísio concedeu ao menos 28 conversas com a imprensa e 57 coletivas nestes cem dias.

Em três meses, Tarcísio marcou presença em eventos militares em média a cada oito dias, quase semanalmente. O segmento é considerado reduto eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro e do próprio governador paulista, que tem formação militar. O levantamento considera as agendas divulgadas até 31 de março.

Esses eventos envolvem formaturas de curso superior da Polícia Militar, entregas de veículos e solenidades de passagem de comando e condecorações, por exemplo. Mas os acenos à categoria vão além das agendas. Tarcísio concedeu em fevereiro aumento de remuneração aos militares e policiais militares da Casa Militar, e instituiu medalhas comemorativas para três batalhões da PM.

Cabos e soldados da PM lotados na pasta tiveram um aumento de 72,7% nas gratificações que se somam ao salário, de R$ 2.504,70 para R$ 4.326,30. Os valores do posto de tenente-coronel, no topo da carreira, passaram de R$ 4.895,55 para R$ 8.197,20 (reajuste de 67,4%). O governo tem se recusado a informar quantos servidores foram beneficiados pelo aumento.

As agendas do governador também têm sido marcadas pela reverência à iniciativa privada. Em discurso na última semana, ele sugeriu erradicar a pobreza no estado com investimentos empresariais. Em evento com empresários no mês passado, agradeceu aos presentes pela ajuda na crise com as chuvas no litoral Norte e dedicou ao setor privado a atenuação do "sofrimento de muita gente".

Tarcísio vem recebendo uma série de representantes de companhias que detêm grandes contratos com o estado. Em janeiro, ele se encontrou com representantes da ViaMobilidade, que administra as linhas 8 e 9 da CPTM em um contrato que tem sido constantemente alvo de questionamentos por parte de usuários e do Ministério Público por falhas na prestação dos serviços.

Também se encontrou, por exemplo, com integrantes da diretoria da CCR, controladora da ViaMobilidade e empresa que administra o maior número de concessionárias em São Paulo, e Rubens Ometto, controlador da Cosan, da Rumo e da concessionária Comgás. O empresário doou R$ 200 mil à campanha de Tarcísio e mais R$ 3 milhões ao diretório nacional de seu partido, o Republicanos.

Atuação na tragédia

A forma com que o governo lidou com o temporal que deixou 65 mortos em fevereiro no litoral Norte de São Paulo rendeu elogios a Tarcísio. Após a Defesa Civil falhar em retirar as pessoas da área de risco, ele transferiu seu gabinete para São Sebastião, cidade mais atingida pelas chuvas, articulou respostas emergenciais — como a realocação das pessoas afetadas pelos deslizamentos — e instituiu data para o começo do treinamento antidesastre na região.

Lula e Tarcísio se reúnem após chuvas em São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo.
Lula e Tarcísio se reúnem após chuvas em São Paulo — Foto: Maria Isabel Oliveira/ Agência O Globo.

De maneira geral, no entanto, há falta de transparência na sonegação de informações públicas por parte do governo estadual, de acordo com Renato Eliseu Costa, professor de gestão pública da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Reforma oculta

O governo tem se recusado a informar ao GLOBO o custo da reforma que está sendo implementada no Palácio dos Bandeirantes. Na última semana, o segundo andar inteiro do prédio estava em obras que, segundo secretários do governo, reverterão a intervenção feita pelo então governador João Doria em 2019 — que descaracterizou o prédio parcialmente tombado. Na ocasião, a reforma realizada por Doria envolveu pintar móveis e paredes de preto. Custou R$ 1,1 milhão. A atual intervenção, dizem membros da gestão Tarcísio, tem a função de devolver cores originais ao palácio construído na década de 1960.

— O caso da reforma no palácio deveria ter todas as informações públicas, a menos que colocasse em risco informações de segurança do governador. Detalhes como minuta do contrato, prestador de serviço e valores pagos devem ser públicos no Portal da Transparência e não estão — ressalta o professor Costa.

Eleito pelo voto bolsonarista, Tarcísio vem se equilibrando para lidar com a militância mais radical — intransigente com sua postura de chefe de executivo estadual. O governador foi criticado por bolsonaristas ao se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília e ceder espaço e influência em seu governo a Gilberto Kassab, presidente do PSD e detestado por seus apoiadores mais à direita.

Procurado, o governo de São Paulo afirmou que "os mais de 300 compromissos públicos realizados pelo governador desde o início da atual gestão foram desenvolvidos para atender as necessidades das pessoas e dar solução às questões do Estado". Afirmou ainda que o governador "atendeu a imprensa em diferentes ocasiões, tendo concedido 57 entrevistas coletivas, uma série de entrevistas exclusivas para diversos veículos da capital e do interior do estado".

"Em relação aos servidores lotados na Casa Militar, as informações são públicas e podem ser consultadas no Diário Oficial. As reformas no Palácio dos Bandeirantes seguem em andamento e são realizadas por necessidade de manutenção e para otimizar o uso do espaço público na nova gestão", informou a assessoria em nota.

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