Eleições 2022
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Por Guilherme Caetano — São Paulo

Por meio de seu sistema de recomendação de vídeos, o YouTube brasileiro tem privilegiado conteúdo alinhado ao governo de Jair Bolsonaro (PL) aos usuários que navegam pela rede social. É o que aponta um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), antecipado pelo jornal Folha de S.Paulo nesta terça-feira e a que O GLOBO também teve acesso.

Por meio de 18 testes realizados pelos pesquisadores com um usuário "neutro", sem histórico de interações na plataforma, vídeos dos canais da Jovem Pan aparecem como primeira sugestão em 55% das vezes. O vídeo mais recomendado foi o da entrevista concedida pelo presidente ao Programa Pânico em 26 de agosto. A emissora costuma repercutir teses pró-Bolsonaro.

Naquela ocasião, Bolsonaro exaltou os feitos de seu governo e atacou Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal adversário na disputa eleitoral e que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto.

A Jovem Pan passou por uma guinada rumo ao bolsonarismo nos últimos anos, e a atenção dada pela empresa às teses de Bolsonaro é retribuída por apoiadores do presidente. No ato pró-governo do 7 de Setembro na Avenida Paulista, por exemplo, manifestantes entoaram coro a favor da emissora algumas vezes. Alguns de seus comentaristas, que costumam comparecer em palanques pró-Bolsonaro, vão concorrer nas eleições em partidos da base do governo federal.

"A recomendação de conteúdo tem forte impacto nas escolhas dos usuários, especialmente por fazer acreditar que os vídeos recomendados são baseados em critérios de relevância, e não guiados por acordos comerciais ou outros interesses", diz o estudo "Recomendação no YouTube: o caso Jovem Pan", elaborado pelo Netlab, da Escola de Comunicação da universidade.

Os pesquisadores dizem que o favorecimento da Jovem Pan pelo sistema de recomendação ocorre em dois níveis. O primeiro, quando o vídeo é sugerido na página inicial da rede social. E o segundo, na recomendação de vídeos relacionados ao primeiro clique.

Esse sistema leva o usuário a mergulhar num "ciclo de retroalimentação", argumentam, cujo impacto se intensifica na medida em que 70% do que os usuários assistem é fornecido para eles por meio de recomendações.

O YouTube já vinha sendo apontado como um repositório central para alimentar narrativas políticas. Por meio desse sistema de recomendação a plataforma insufla a radicalização dos usuários, aproximando rapidamente pessoas com interesses em ideias conservadoras a conteúdos ainda mais extremistas, de acordo com estudo publicado por Rebecca Lewis, pesquisadora de Stanford, em 2018.

Como O GLOBO mostrou em 2021, o YouTube funciona como um motor do ecossistema de páginas e canais de extrema-direita, de acordo com levantamento dos pesquisadores Leonardo Nascimento e Paulo Fonsenca, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e de Letícia Cesarino, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Eles coletaram 4 milhões de mensagens publicadas em 150 chats (grupos e canais) bolsonaristas no Telegram, entre janeiro e outubro daquele ano, e identificaram uma avalanche de compartilhamentos de links do YouTube. Os vídeos mais populares faziam ataques ao sistema eleitoral e a adversários de Bolsonaro e pediam intervenção militar para manter o presidente no poder.

A hipótese dos pesquisadores é que o Telegram funcione como um propulsor para a circulação de canais bolsonaristas do YouTube, plataforma que remunera produtores de conteúdo de acordo com o volume de acessos de cada página: entre US$ 0,25 e US$ 4,50 para cada mil visualizações. Para eles, a rede social de vídeos é o "coração" do ecossistema de desinformação.

Já o estudo da UFRJ diz que diferentes pesquisas vêm indicando que o uso do YouTube contribui para a radicalização de seus usuários. E menciona um artigo de Zeynep Tufecki, publicado na Scientific American, que se refere à plataforma como um dos "mais poderosos instrumentos de radicalização do séxulo 21", ao induzir o usuário a dar "mergulhos cada vez mais profundos em direção a conteúdos radicais": "Ou seja, o consumo de vídeos que tratam de temas triviais pode levar os usuários a conteúdos conspiratórios e extremistas".

Tufekci argumenta que a lógica financeira orienta a produção de conteúdo extremista. Isso porque a receita da plataforma depende dos recursos publicitários dos vídeos assistidos pelos usuários, cuja atenção é mais facilmente conquistada por "conteúdos incendiários".

Vídeos alinhados a Bolsonaro costumam repercutir ataques às eleições. Outra reportagem do GLOBO, de maio, mostrou que canais de apoio a Bolsonaro haviam faturado até R$ 1 milhão com a reprodução de 1.960 vídeos com teses conspiratórias sobre o processo eleitoral no YouTube, que renderam 57,9 milhões de visualizações

Em sua política contra desinformação eleitoral, o YouTube diz que não permite “conteúdo postado após a certificação dos resultados oficiais para promover alegações falsas de que fraudes, erros ou problemas técnicos generalizados mudaram o resultado de eleições nacionais anteriores”. A regra, no entanto, só se aplica às eleições americanas, às eleições federais da Alemanha de 2021 e à eleição presidencial do Brasil de 2018 — caso incluso em março de 2022, de maneira retroativa.

Lado do YouTube

Procurado, o YouTube afirmou, por meio de nota:

"Nosso sistema de recomendações busca ajudar as pessoas a encontrarem vídeos que lhes ofereçam algo útil e interessante. Para fazer isso, nos baseamos em vários tipos de 'sinais', ou seja, dados que alimentam o sistema. Esses sinais incluem cliques, tempo assistindo, respostas a pesquisas, número de compartilhamentos, números de cliques em 'gostei' e 'não gostei', entre outros."

Desde 2019, o nosso sistema de recomendação vem passando por uma série de atualizações para reduzir o conteúdo que está no limite das diretrizes - atualmente, o consumo de conteúdo limítrofe que chega por meio das recomendações é inferior a 0,5%. O YouTube também oferece aos espectadores uma variedade de ferramentas para melhorar a experiência deles na plataforma e decidir quais informações pessoais serão usadas para influenciar as recomendações."

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