Eleições 2022
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Por Marlen Couto — Rio de Janeiro

Nos atos de 7 de setembro no Rio e em Brasília, nesta quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro repetiu, em parte, o discurso do ano passado, mas modulou o tom ao mirar o Supremo Tribunal Federal (STF), sem citar e fazer xingamentos diretos a ministros da Corte, e ao não atacar as urnas eletrônicas e a Justiça Eleitoral. Se em 2021, na Avenida Paulista, em São Paulo, o presidente subiu a temperatura política do país ao chamar de “canalha” Alexandre de Moraes e afirmar que não iria mais cumprir decisões judiciais do magistrado — pontos do qual recuou dias depois em uma nota —, o agora oficialmente candidato à reeleição pelo PL optou por mandar recados indiretos e ameaças veladas.

— Esperem uma reeleição para vocês verem se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição — declarou.

Em Brasília, pela manhã, o tom foi o mesmo e o presidente citou que “todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”:

— Pode ter certeza é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Com uma reeleição, nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora dela.

Apesar disso, as manifestações de seus apoiadores, por meio de faixas, cartazes e gritos de ordem, pediam sem meias palavras o fechamento do Supremo, a destituição de seus ministros e atacavam o processo eleitoral, como ocorreu há um ano.

Em setembro de 2021, quando o percentual dos que avaliavam seu governo como ruim ou péssimo, segundo o Datafolha, chegava a 53%, 11 pontos a mais que hoje, Bolsonaro fez um discurso antidemocrático mais contundente contra o Supremo. Também em cima de um carro de som, o presidente focou os ataques em Moraes, relator dos inquéritos que apuram a disseminação de fake news e o financiamento e a organização de atos contra as instituições.

— Não podemos admitir que uma pessoa, um homem apenas, turve a nossa democracia e ameace a nossa liberdade. Dizer a esse indivíduo que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda para arquivar seus inquéritos. Ou melhor, acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixe de oprimir o povo brasileiro — afirmou, na ocasião.

Além disso, se no ano passado, os ataques às urnas eletrônicas estavam na ponta da língua do presidente, que chegou a afirmar, sem apresentar provas, que o sistema eleitoral não “oferece qualquer segurança por ocasião das eleições”, o tema não foi citado pelo presidente em 2022, quando preferiu pedir a participação de seus eleitores no pleito — embora declarações golpistas e ataques ao processo eleitoral tenham aparecido novamente nos cartazes de seus apoiadores e em uma faixa no carro de som em que discursava no Rio.

— A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-lo do que é melhor para o nosso Brasil — enfatizou em Brasília.

Atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, com diferença de 13 pontos, Bolsonaro optou por explorar em sua fala o antipetismo que ajudou a elegê-lo em 2018 e atacou políticos e governos de esquerda, como os da Argentina, Venezuela e Nicarágua, sugerindo que "esse tipo de gente" fosse "extirpada" da política. Ao se referir a Lula, Bolsonaro o chamou de "quadrilheiro de nove dedos". Em 2021, a oposição à esquerda teve menos espaço na fala do presidente. Na ocasião, Bolsonaro se limitou a dizer que “as cores da nossa bandeira são verde e amarelo”.

— Compare o Brasil, os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua. De comum esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos esses chefes dessas nações são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição. Não é apenas voltar à cena do crime. Esse tipo de gente tem que ser extirpado na vida pública — afirmou Bolsonaro nesta quarta-feira.

Uma novidade este ano foi a maior participação da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, exaltada com uma fala machista do presidente no ato de Brasília. Em uma tentativa de aceno ao eleitorado feminino, segmento no qual Lula tem vantagem maior, segundo as pesquisas, Bolsonaro comparou Michelle à socióloga Rosângela Silva, a Janja, mulher do petista:

— Podemos fazer várias comparações. Até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir; uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é o meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente. E eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansado de serem felizes, procure uma mulher, uma princesa, se case com ela, para serem mais felizes ainda.

Aliados

Há também tópicos citados em 2021 que permaneceram no discurso. O presidente usou nos dois momentos tom religioso, ao dizer ser um presidente que acredita em “Deus” e a destacar valores conservadores. Como mostrou a última pesquisa Ipec, Bolsonaro tem ampla vantagem em relação a Lula entre o eleitorado evangélico (46% a 27%).

— Somos uma pátria majoritariamente cristã, que não quer a liberação das drogas, que não quer legalização do aborto, que não admite a ideologia de gênero. Um país que defende a vida desde a sua concepção — disse em Brasília pela manhã.

Bolsonaro também usou, como em 2021, seu discurso para defender aliados alvos de operações. Desta vez, foram lembrados empresários que entraram na mira da Polícia Federal por mensagens golpistas no WhatsApp — Luciano Hang esteve ao lado do presidente em Brasília e no Rio. Em 2021, o presidente se referiu a aliados alvos de pedidos de prisão feitos por Alexandre de Moraes como “presos políticos”. Na época, o ex-deputado Daniel Silveira (PTB) estava entre os presos por determinação do ministro do STF, no âmbito do inquérito dos atos antidemocráticos.

Veja o que muda e permanece no discurso de Bolsonaro

1. Supremo

2021 - “Não podemos admitir que uma pessoa, um homem apenas turve a nossa democracia e ameace a nossa liberdade. Dizer a esse indivíduo que ele tem tempo ainda para se redimir. Tem tempo ainda para arquivar seus inquéritos. Ou melhor, acabou o tempo dele. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha. Deixe de oprimir o povo brasileiro"

"Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou"

2022 - “Pode ter certeza é obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da nossa Constituição, Com uma reeleição. nós traremos para dentro dessas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora dela. (...) Hoje todos sabem quem é o Poder Executivo. Hoje todos sabem o que é a Câmara dos Deputados. Todos sabem o que é o Senado Federal. E também todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal"

2. Urnas e eleições

2021 - "Não podemos ter eleições que pairem dúvidas sobre os eleitores. Nós queremos eleições limpas, auditáveis e com contagem pública dos mesmos. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada ainda pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”

2022 - "A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar. Vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-lo do que é melhor para o nosso Brasil"

3. Michelle Bolsonaro

2022 - "Podemos fazer várias comparações. Até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir; uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é o meu lado não, muitas vezes ela está é na minha frente. E eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansado de serem felizes, procure uma mulher, uma princesa, se case com ela, para serem mais felizes ainda'.

4. Referência religiosa

2021 - “Agradeço a Deus pela minha vida e também a ele que pelas mãos de 60 milhões de pessoas me colocaram nessa missão de conduzir o destino da nossa nação. Hoje nós temos um presidente da República que acredita em Deus, que respeita os seus militares que defende a família, e deve lealdade ao seu povo”

2022 - “Somos uma pátria majoritariamente cristã, que não quer a liberação das drogas, que não quer legalização do aborto, que não admite a ideologia de gênero. Um país que defende a vida desde a sua concepção”

5. Ataques à esquerda

2021 - “Hoje temos uma fotografia para mostrar para o Brasil e o mundo. Não de quem está agora nesse carro de som, mas uma fotografia de vocês para mostrar para o mundo e para o Brasil que as cores da nossa bandeira são verde e amarelo. Cada vez mais nós somos conservadores. Cada vez mais respeitamos as leis e nossa Constituição”

2022 - "Compare o Brasil, os países da América do Sul, compare com a Venezuela, compare com o que está acontecendo na Argentina e compare com a Nicarágua. De comum esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos são amigos do quadrilheiro de nove dedos que disputa a eleição no Brasil. Esse tipo de gente tem que ser extirpado da vida pública. Eu peço a vocês que não tentem convencer um esquerdista, faça o contrário, fale para ele convencer você a ser esquerdista. Veja o documento dele, o que eles têm pra falar pra vocês? Não tem, são cabeças vazias. Pessoas que não têm nada a acrescentar. E depois de ele tentar te convencer, fale pra ele onde ele está errado. Porque eu sou o presidente da República de 215 milhões de brasileiros"

6. Defesa de aliados

2021 - "Liberdade para os presos políticos. Fim da censura. Fim da perseguição aqueles conservadores, aqueles que pensam no Brasil"

2022 - "Hoje estive com os empresários acusados de golpistas. Pelo amor de Deus. Eles tiveram a privacidade violada (..). Queremos que os empresários e que vocês tenham liberdade para decidir o seu futuro. Somos escravos das nossas decisões. Veja a vida pregressa, principalmente para tomar as suas decisões. Tenho certeza que vocês sabem o que fazer para se manter no caminho certo"

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