O ato de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) em São Paulo, nesta quarta-feira, repetiu o tom golpista do ano passado. Cartazes de apoiadores pediam a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e intervenção das Forças Armadas para "manter a lisura das eleições". Um caixão com um boneco do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), chegou a ser carregado pela Avenida Paulista.
A ausência de Bolsonaro e a chuva na capital paulista, que só deu trégua no início da tarde, no entanto, contribuíram para um ato bem mais tímido este ano. Diferente de 2021, quando quase toda a avenida foi ocupada por apoiadores, neste 7 de setembro a concentração se deu principalmente entre o cruzamento da Rua Pamplona com a Alameda Ministro Rocha Azevedo.
A chuva ajudou a atrasar a ocupação da avenida. Às 11h15min, a frente do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), ainda estava vazia, e a maior parte dos apoiadores se abrigando debaixo de marquises ao longo da Paulista. O ato só tomou corpo por volta das 14h.
Moraes foi um dos principais alvos de apoiadores de Bolsonaro em São Paulo. Placas chamavam o ministro de “vergonha” e “inimigo do Brasil”. Outro cartaz trazia a frase: “Xandão ditador vagabundo”. Um grupo de bolsonaristas ainda levou um caixão com o boneco do presidente do TSE e pedidos de destituição dos ministros da Corte.
"Bolsonaro acione FFAA, expurgue o STF e TSE e garanta a lisura da eleição", dizia o cartaz, fazendo referência às Forças Armadas.
O ato contou com a participação de candidatos apoiados pelo presidente nas eleições deste ano. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente que disputa um outro mandato na Câmara dos Deputados, chamou a esquerda de "antinatural" e pediu votos para o pai:
Em cima de um trio, Eduardo criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “cachaceiro”, e desacreditou as pesquisas eleitorais que mostram Bolsonaro atrás de Lula nas intenções de voto. O deputado fez uma homenagem às “tias do zap” e ao “povo de verde amarelo” que afirma trabalharem para a reeleição de Bolsonaro.
O candidato de Bolsonaro ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), consolidou sua estratégia de se colar à imagem do presidente. Com 21% das intenções de voto na última pesquisa Ipec (ex-Ibope), o ex-ministro elogiou a gestão do mandatário e não tratou de temas polêmicos. Diferente de outros apoiadores de Bolsonaro, o candidato não deu declaração com tom golpista ou mesmo citou o STF.
— (Nosso) país teve uma condução firme, uma condução forte. Um presidente comprometido com seu povo. Um presidente leal ao seu povo. Um presidente, acima de tudo, brasileiro, que trouxe de volta o verde e amarelo. Que trouxe de volta os valores da família — afirmou Tarcísio, que ainda fez referência ao slogan de Bolsonaro. — Como diria o capitão do povo, que vai vencer de novo: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.
Já o ex-ministro Marcos Pontes (PL), que disputará o Senado na chapa de Tarcísio, investiu em um discurso nacionalista. A apoiadores, o candidato repetiu várias vezes que sempre esteve disposto a morrer para defender o país.
— Me perguntam: o que você vai fazer no Senado? Eu vou defender esta bandeira. Defender cada um de vocês com o sacrifício da própria vida se for necessário. Mas a gente vai vencer, esse país vai vencer — afirmou Pontes.
De banda gospel a ‘Pai Nosso’
O ato a favor de Bolsonaro neste 7 de Setembro teve manifestações de diferentes religiões judaico-cristãs. Em carros de som espalhados pela via, os organizadores chamaram os manifestantes a orar um “Pai Nosso” pelo presidente, lembrando a facada que Bolsonaro sofreu no pleito de 2018.
Uma banda gospel se apresentou em um dos lados da Paulista. Em outro quarteirão, um dos trios elétricos foi palco para um culto evangélico. O pastor que discursava pregou que Bolsonaro representaria os cristãos, e Lula, "o Satanás". Bandeiras de Israel e homens usando quipás — chapéu utilizado por judeus— também estiveram presente.
Críticas às pesquisas
Críticas às pesquisas eleitorais foram outra constante nos atos. Uma das apoiadoras bolsonaristas segurava uma placa com a frase “Segundo o DataFolha, eu não estou aqui”. No carro de som do agro, organizadores compararam as pesquisas ao "Papai Noel" e perguntaram se o público acreditava nos números que mostram Lula à frente de Bolsonaro. A multidão negou.