Washington Olivetto
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Washington Olivetto

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Washington Olivetto

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Tenho um amigo italiano que é um fenômeno de sobrevivência pessoal e sucesso profissional.

Não conheceu seus pais porque, quando nasceu, foi abandonado na porta de uma igreja. Acabou entregue a um orfanato. Aos 2 anos, foi adotado por um casal que não conseguia ter filhos, mas, três anos depois, o casal se separou, e meu amigo voltou para o orfanato. Na adolescência, começou a estudar artes gráficas e arrumou seu primeiro emprego.

Em pouco tempo, já era um bom profissional e, aos 22 anos, montou em sociedade com sua namorada da época, que virou sua mulher até hoje, uma gráfica que se transformou numa das maiores da Europa.

Há muitos anos faz a maioria das embalagens dos panetones e colombas pascais da Itália e fornece boa parte das embalagens dos produtos da Danone, na França.

Meu amigo italiano é um homem que, merecidamente, pode se dar ao luxo de gestos impensáveis. Em 2000, no dia em que a Ferrari foi campeã mundial de Fórmula 1, depois de anos de jejum, ele, que já tinha uma Ferrari Dino, resolveu comprar uma Ferrari Modena para comemorar o título.

Quando, em fevereiro de 2002, terminou o episódio do meu sequestro no Brasil, ele resolveu oferecer uma festa em minha homenagem. A grande atração da festa era Roberto Murolo, o João Gilberto da canção napolitana, que ele sabia ser meu cantor italiano preferido. Murolo fez naquela noite uma das suas últimas apresentações em público e cantou todos os clássicos do seu repertório, incluindo a fabulosa “Malafemmena”.

Meu amigo italiano mora perto de Milão, onde estão suas indústrias, mas tem uma casa em Antibes, no sul da França. Ele diz que comprou aquela casa porque o sul da França, na verdade, é uma continuação da Itália.

Meu amigo italiano passa férias e alguns fins de semana em Antibes, mas, antes de chegar, manda para lá uma van com produtos italianos porque os considera melhores que os franceses. Segundo ele, a água Perrier é boa, mas a San Pellegrino é muito melhor. Isso vale para tudo, incluindo queijos e vinhos.

Meu amigo é um italiano típico, nacionalista ao extremo, como a maioria dos italianos, franceses, espanhóis e até mesmo alguns portugueses. Tudo deles é melhor. Tudo deles é superior. Ingleses nessa questão são diferentes. Têm consciência de que são bons mesmo em ganhar dinheiro e preferem consumir o que existir de melhor de cada país, sem nenhuma restrição.

Meu amigo italiano, nos últimos tempos, fala de tudo, mas evita falar de futebol, depois que a Itália não foi classificada para o Mundial de 2022.

Outro dia, ele me ligou para contar que estava promovendo uma noite de queijos e vinhos em sua casa de Milão para comemorar o fato de a Itália ter sido a grande vencedora da lista dos 50 melhores queijos do mundo. Dos 50 eleitos, a Itália tem 18, nove entre os dez primeiros.

Perguntei a ele quais seriam os vinhos servidos, e ele me disse que havia escolhido o italiano mais bem colocado na lista dos melhores do mundo. Fui ver a lista, e o italiano que ele escolheu é um Argiano Brunello di Montalcino, colocado em quarto lugar num ranking onde o primeiro foi um francês, o segundo um americano e o terceiro um australiano.

Observei que os bons vinhos brasileiros, surgidos nos últimos anos, ainda não estão nessa lista, mas acho que, com o tempo, eles chegam lá.

Depois de ler sobre os vinhos, resolvi checar a lista dos queijos. Realmente, entre os 50 eleitos, a maioria absoluta é italiana, mas no meio deles estão dois brasileiros. O queijo coalho, ocupando o 38º lugar, e o Canastra, num glorioso 12º lugar. Belíssimo resultado. Faz do Canastra, com o Vini Jr., um dos destaques do Brasil na Europa em 2023.

Apesar de que, se eu comentar com meu amigo italiano sobre os craques do Real Madrid Vini Jr. e Rodrygo e sobre o Endrick, ele certamente dirá que, em matéria de brasileiros, bons mesmo foram os que jogaram em Milão. E que, desses três citados, o melhorzinho deve ser o Endrick, porque começou numa equipe que, antes de se chamar Palmeiras, se chamava Palestra Itália.

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