Preto Zezé
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Preto Zezé

Ativista, empresário, escritor e presidente da Central Única das Favelas (Cufa-RJ)

Informações da coluna

Preto Zezé

Ativista, empresário, escritor e presidente da Central Única das Favelas (Cufa-RJ)

O cenário social e político brasileiro está radicalizado, com disputas nas ruas e nas redes sociais entre narrativas que refletem conveniências políticas e ideológicas. No meio disso, existe uma crise social sem precedentes, herança de uma sociedade baseada em escravidão, destruição de ecossistemas e submissão de povos originários.

A fatura chega a áreas urbanas superlotadas, onde mais de 20 milhões de brasileiros vivem em favelas, enfrentando adversidades sociais, insegurança e falta de direitos básicos. Estive no Rio Grande do Sul, observando de perto a realidade e o trabalho da sociedade civil na tragédia. Agentes públicos como policiais e bombeiros, que perderam suas casas, estão alojados em casas de parentes e trabalhando desde o primeiro dia, quando as águas invadiram o estado. A situação é preocupante.

A água bate à nossa porta e agora precisamos pensar no mundo que deixaremos às próximas gerações. Em meio ao caos, agentes públicos se esforçam para responder ao desespero de milhares de pessoas. Organizações e lideranças públicas se mobilizam para ter acesso a doações e distribuí-las rapidamente. Diferentemente da pandemia de Covid-19, em que a logística era controlável, a crise ambiental torna isso impossível.

Estamos constantemente mudando de lugar, contando com voluntários, estabelecendo novas rotas e criando espaços de acolhimento, principalmente para crianças, idosos, mulheres e animais de estimação. A radicalização e a insatisfação popular com os gestores públicos se unem à produção maciça de informações falsas, agravando o caos. Isso impacta a vida real.

Capa do audio - Pablo Ortellado - CBN Ponto de Vista

Vi bombeiros hostilizados e policiais acusados de impedir ações públicas diante de uma população desesperada, que cria soluções imediatas em meio às enchentes. Agora que o impacto inicial da tragédia diminuiu, as doações também diminuem, surgem doenças, e contabilizamos prejuízos.

Nesta fase “pés na lama”, aumentam os pedidos para que o país se una em torno de ajudar a quem mais precisa. Concluo dizendo que precisamos encontrar um lugar na política onde todos possam ser ouvidos, fazer um pacto com informações baseadas em evidências e fatos e construir agendas públicas de interesse comum, respeitando as diferenças, mas mantendo o foco na coletividade.

A natureza não pactua; a água invade todos os lugares, levando o recado: ou mudamos radicalmente nossa relação com o planeta, produzindo relações justas entre seres humanos e natureza, ou seremos banidos como espécie.

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