Pedro Doria
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Pedro Doria

Jornalista

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A não ser que a Amazon surpreenda, com sua Alexa, ou que o Google salte à frente, a Siri da Apple deverá se tornar a primeira assistente digital de voz a conversar de verdade. Depois de meses de negociação com OpenAI de um lado e Google do outro, a empresa fundada por Steve Jobs anunciou ontem ter fechado uma parceria com a criadora do ChatGPT. Será ela a fornecedora da inteligência artificial nos computadores Mac, nos iPads e iPhones.

A OpenAI apresentou o GPT 4o, com capacidade de interagir por voz num bate-papo entre nós, humanos, e as máquinas, não faz nem um mês. A primeira aplicação de grande escala será na transformação da Siri. É curioso. Afinal, na batalha das assistentes de voz, a Apple perdeu feio. Nessa briga, a Alexa é de longe a campeã, mais popular. Em segundo veio Google Assistente, também com boa linha de caixas de som para automatizar residências, além dos muitos celulares Android espalhados pelo mundo. A Siri não pegou e, mesmo entre dedicados fãs da Apple, sempre foi motivo de piada.

Por mais que tenham feito companhia a muita gente, até durante a pandemia, essas assistentes por voz vinham perdendo popularidade. Para a maioria, tornaram-se aquela máquina perdida em casa para a qual se pergunta que horas são, se pede um despertador ou cronômetro. No máximo, para alguns mais sofisticados, liga e desliga um par de lâmpadas. O tempo de perguntar uma piada passou. Em grande parte, isso aconteceu porque o tempo de uso deixou claro seu principal problema: as assistentes são muito ruins de linguagem natural. Não dá para improvisar um comando. É preciso decorar uma lista de palavras-chaves, que devem ser proferidas numa ordem muito específica, para arrancar mais recursos. E ninguém faz isso.

O ChatGPT 4o faz, ou ao menos traz a promessa de fazer muito em breve. É capaz de interagir num diálogo, assim como compreende a intenção de um comando, não importa que palavras ou em que ordem sejam ditas. Basta falar como se fosse para outra pessoa. E essa tecnologia. Que a Siri pudesse ser a primeira a dar esse salto não estava no roteiro de ninguém no Vale do Silício.

Não será em todos os iPhones, ao menos neste primeiro momento. É na linha 15, lançada no ano passado. Ou então nos Macs e iPads com o chip M1 ou superior — são os chips produzidos pela própria Apple, potentes o bastante para aguentar o tranco do processamento no próprio aparelho.

Capa do audio - Pedro Doria - Vida Digital CBN

Este é um ponto importante: inteligência artificial precisa de muito processamento. Em geral, quando interagimos com ChatGPT ou Google Gemini, mandamos a informação para fora das nossas máquinas, na nuvem, onde computadores potentes ouvem o pedido e geram a resposta. A Apple, até para se diferenciar de Google e Meta (dona de Facebook, Instagram e WhatsApp), vem insistindo nos últimos dez anos na garantia de privacidade. Os dados de quem usa aparelhos com a maçã não são usados para propaganda de ninguém. Não são negociados com outras empresas. Paga-se caro, faz parte da grife Apple, mas a contrapartida é essa. Só a Apple oferece realmente privacidade.

Isso pôs a companhia em xeque perante a chegada da inteligência artificial. Como explicar aos usuários que, agora, os dados vão para a nuvem e servirão, inevitavelmente, para treinar algoritmos? A solução é um meio-termo. Muita coisa será processada localmente mesmo, na máquina. Quando não der, a Siri pedirá licença. Posso enviar para o ChatGPT?

Para a OpenAI, periga ser a melhor notícia do ano. O ChatGPT tem, registrados, 200 milhões de usuários. É muito, é um mundo. Mas existe 1,5 bilhão de iPhones espalhados pelo planeta. É verdade que apenas 70 milhões são do modelo mais recente, a família 15. Mas o tamanho do público potencial é gigantesco. Para quem tem como principal concorrente o Google, estar simultaneamente no Windows da Microsoft e na família de produtos Apple é tudo com que se poderia sonhar.

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