Pedro Doria
PUBLICIDADE
Pedro Doria

Jornalista

Informações da coluna

Pedro Doria

Um acordo entre Apple e Google, ainda não assinado, poderá mudar profundamente a maneira como inteligência artificial generativa faz parte do cotidiano de todos nós. Não é só: se for concretizado, e tudo indica que será, mudará por completo a dinâmica desse mercado nascente, dando fôlego ao Google em sua briga contra a OpenAI.

Na virada do ano, a Apple perdeu para a Microsoft o título de empresa com maior valor de mercado da Bolsa de Valores de Nova York. A razão é justamente a sociedade firmada pela empresa de Bill Gates com a OpenAI, que a pôs na dianteira do novo mercado. A terceira maior empresa americana, correndo por fora, mas ainda distante das duas líderes, é justamente o Google.

A posição do Google é ainda mais ingrata. O algoritmo conhecido como “transformer”, criado em 2017 por engenheiros da companhia, é a base da nova inteligência artificial generativa. Foi inventado pelo Google, mas desenvolvido com mais rapidez pela OpenAI. O comando do Google encarou a IA capaz de criação autônoma sempre com muita cautela e, assim, perdeu a corrida. Seu novo projeto, Gemini, foi lançado neste ano com o objetivo de enfrentar ChatGPT e Dall-E, da OpenAI, mas não conseguiu ainda atrair público. Quando começou a gerar imagens como nazistas negros, o impacto foi grande o suficiente para fazer com que os executivos decidissem retirar alguns recursos do sistema, tornando-o ainda menos competitivo.

Para a Apple, o problema é maior. Desde cedo, a companhia fundada por Steve Jobs escolheu disputar com uma estratégia diferente o jogo do Vale do Silício. Em vez de explorar os dados dos usuários de seus produtos para vender propaganda, como fazem Google e Meta, a Apple cobra caro pelos aparelhos e, em troca, garante privacidade. Só que, sem uma quantidade abissal de dados gerados por usuários em todo o mundo, não é possível treinar um algoritmo de inteligência artificial de qualidade. No momento em que IA se tornou o rumo que todos devem seguir no ambiente digital, a Apple se viu com um problema.

No ano passado, tanto Google quanto Samsung lançaram celulares com capacidade de inteligência artificial. É o retoque de fotografias, ajustando expressões faciais e dando nitidez ao que saiu borrado. Tradução ao vivo de conversas pelo telefone ou presenciais. Legendas automáticas para qualquer vídeo que chegue ao aparelho. O último iPhone não tinha nada sequer próximo disso.

A solução mais evidente é firmar parceria com um dos dois — Google ou OpenAI. Alguns veículos chegaram a anunciar que engenheiros testaram uma Siri, a assistente dos iPhones, movida a GPT. Mas, segundo a Bloomberg, a escolha final foi fechar com o Gemini.

Para o Google, é uma primeira vitória. Enfim. Os celulares Android já terão, naturalmente, os recursos de IA da companhia. Se o Gemini estiver também nos iPhones, 2 bilhões de aparelhos em todo o mundo, quer dizer que o espaço da computação móvel será mais difícil para a concorrente trilhar.

Para a Apple, tirar poder da OpenAI é, indiretamente, esvaziar a Microsoft. Mas não é só esse cálculo que passa pela cabeça dos líderes da empresa. Preço conta, e o fato de haver uma parceria consolidada com o Google, que fornece a busca-padrão dos iPhones, entra na balança.

Depois de quase dez anos, a Apple decidiu encerrar seu projeto de carro elétrico autônomo. Centenas de engenheiros haviam sido contratados sem que nada jamais fosse apresentado. Com a entrada das chinesas nesse espaço, produzindo carros muito mais baratos, o mercado ficou bem mais competitivo. E não tem jeito. O momento é de foco na inteligência artificial.

Mais recente Próxima A mentira de Kate