Irapuã Santana
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Irapuã Santana

Doutor em Direito

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Irapuã Santana

Doutor em Direito

Diversidade e inclusão formam uma área que se tornou de grande interesse nos últimos cinco a dez anos. No Brasil, ela ganhou mais força justamente pela característica da sua população: grande mistura de raças, credos, cores e origens. Não à toa, reza a lenda que o passaporte brasileiro é muito valorizado para fins de falsificação, exatamente porque o brasileiro não tem uma cara apenas.

Apesar dessa grande mistura que nos constitui, nossa sociedade, quando olhamos mais de perto, é bem dividida. Cem milhões de pessoas vivem com até R$ 413 por mês. Segundo o IBGE, dos 10% mais pobres da população, 75% são pessoas negras. Enquanto as mulheres são maioria, em média têm renda quase 21% menor que a dos homens.

Exemplos não faltam para mostrar que uma pequena quantidade de pessoas homogêneas dita as regras, enquanto o restante imenso tenta sobreviver como é possível.

Segundo a tese de doutorado de Rafael Osório, para sair dos 10% mais vulneráveis e chegar à média da sociedade, demora nove gerações. Obviamente, isso é um projeto de país que tem sido executado de maneira quase perfeita.

Entretanto as camadas mais excluídas jamais se furtaram ao debate e à luta por melhoria de condições de vida. A partir do momento em que se começou a exigir mais fatias do bolo, uma das saídas foi o investimento na diversidade e na inclusão. Como o modo de funcionamento de séculos era imutável, a resistência foi — e segue sendo — bem grande à implantação. Chegamos assim ao quadro em que surgem muitos especialistas, muitas empresas e instituições querendo demonstrar que estão em comunicação com essa nova demanda. E isso vira um prato cheio para o atual mercado de trabalho brasileiro que se dispôs a falar sobre esse movimento ou a praticá-lo.

O primeiro ponto é que diversidade é sinônimo de riqueza, sim. Nisso, progressistas identitários se encontram com os liberais na economia sem se darem conta. Qual é a principal bandeira do livre mercado? Na liberdade de expressão, ideias diferentes, quando colocadas em contato, geram fortalecimento argumentativo, porque há uma disputa em que a alegação mais adequada vence, até que chegue uma nova. Logo, estamos falando de diversidade de argumentos, que vêm de uma diversidade de ideias, originadas de pessoas distintas, diretamente influenciadas por sua origem, experiências e uma multiplicidade de fatores. Na economia, a mesma coisa: empreendimentos competirão entre si para captar o maior número de consumidores na busca do lucro. Como farão isso? Com ideias inovadoras, buscadas justamente nas diversas visões de mundo dentro daquela empresa.

Para não ficar apenas no plano filosófico, segundo relatório da McKinsey, empresas que investem em diversidade étnica e de gênero geram, respectivamente, 36% e 25% a mais de lucro do que outras que não adotam a mesma política.

Falando de Brasil, isso se torna ainda mais importante, na medida em que a maior parte da população segue deixada de lado, expondo nosso grande potencial diariamente desperdiçado, mantendo o país em subdesenvolvimento eterno.

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