Edu Lyra
PUBLICIDADE
Edu Lyra

Fundador e CEO da Gerando Falcões

Informações da coluna

Edu Lyra

Fundador e CEO da Gerando Falcões

Gosto muito de uma ideia da escritora Maya Angelou, segundo a qual a coragem é a mãe de todas as virtudes. Isso porque, sem coragem, nenhuma outra atitude moral, como a compaixão, pode ser consistente. Sem coragem, somos justos ou solidários apenas quando é conveniente, quando fazer o certo não dá muito trabalho.

Lembro-me de Maya Angelou quando penso nos grandes desafios brasileiros. Nossas mazelas sociais e ambientais são como uma bomba-relógio que, se não for desarmada logo, explodirá no colo de todos nós, ricos ou pobres, brancos ou pretos, “faria limers” ou favelados.

Uma sociedade capaz de desarmar bombas-relógios tem de avançar em três frentes. Precisa dominar o conhecimento técnico, para saber como funciona o circuito da bomba e onde estão suas fragilidades; precisa ser cuidadosa, para não cortar algum fio errado; e precisa, é claro, ter coragem, para encarar a ameaça.

Essas são as três habilidades que devem mover o setor social. É preciso conhecer as experiências locais e internacionais mais exitosas, para aprender com seus acertos e reproduzir, na maior escala possível, o que elas têm de melhor. É preciso assimilar, sem preconceitos, os conhecimentos, tecnologias e recursos que a iniciativa privada e o poder público têm a oferecer.

Assim como o especialista que desarma bombas-relógios, temos que agir com cuidado e frieza, afastar o imediatismo e apostar não somente em ações emergenciais, mas também em programas estruturados, que geram frutos no longo prazo porque atacam corretamente os pontos fracos de uma estrutura social injusta.

Por fim, é preciso coragem para inovar, pois isso sempre resulta em críticas e vaias, em fracassos e recomeços. Mas inovar é necessário. Caso contrário, estaremos nos contentando com, no máximo, uma versão melhorada da sociedade desigual em que vivemos.

Desarmar a bomba-relógio brasileira requer mais de nós. Requer a coragem que os colombianos tiveram para transformar completamente o panorama social de Medellín em duas décadas. Não precisamos de melhorias pontuais. Precisamos de um salto que nos dê a esperança de erradicar para sempre a extrema pobreza.

Todo gesto de coragem implica alguma dose de medo. Afinal, desde Aristóteles sabemos que coragem não é a ausência do medo, mas uma virtude que se encontra equilibrada entre o medo paralisante e, na outra ponta, o comportamento intempestivo, irresponsável.

O oposto da coragem não é o medo, mas a covardia, a mesma covardia que permitiu ao número de favelas brasileiras saltar de 7 mil para quase 14 mil em uma década, que fecha os olhos para nossos índices obscenos de desigualdade social, que aceita conviver, em pleno século XXI, com racismo e homofobia.

Vencer o medo é fundamental não apenas para curar as chagas do passado, mas para garantir o futuro do país. Nas próximas décadas, os grandes polos de inovação estarão no Sul global, não no Vale do Silício. Sem coragem, como o Brasil conseguirá aproveitar essa oportunidade de se tornar protagonista da próxima revolução tecnológica?

Há um poema de Robert Frost que se encerra com estes versos: “Dois caminhos se separavam em um bosque, e eu... / Eu escolhi o menos percorrido / E isso fez toda a diferença”. Tenhamos também essa coragem no enfrentamento de nossos grandes problemas sociais, para que possamos fazer toda a diferença na vida de quem mais precisa.

Mais recente Próxima Ação social se faz com estratégia