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A estratégia do voto útil, que uniu legendas da centro-direita à extrema esquerda nas eleições legislativas da França, conseguiu barrar a vitória do Reunião Nacional (RN), de extrema direita. Com um comparecimento eleitoral recorde de 67%, os franceses mais uma vez impuseram um limite à ascensão ao poder do partido extremista, que saíra vitorioso no primeiro turno. O RN registrou um crescimento histórico e obteve 143 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional — ou 25%, percentual que só havia superado no segundo turno de eleições presidenciais —, mas ficou longe do primeiro lugar e da maioria absoluta que pareciam a seu alcance.

Ainda que tenham se dissipado os temores sobre uma vitória do RN, ainda persiste a ansiedade sobre o futuro. Nenhum grupo obteve a maioria necessária para formar um governo. A coalizão mais votada, do esquerdista Nova Frente Popular (NFP), somou 182 deputados. Mas trata-de de um grupo heterogêneo. Fazem parte dele a legenda de extrema esquerda França Insubmissa (FI), com 74 deputados desse total, os socialistas, com 59, os verdes, comunistas e outros partidos, com 47. Em segundo lugar ficou o grupo de centro do presidente Emmanuel Macron, com 168 deputados. Em terceiro, o RN.

Será preciso, portanto, negociar uma aliança, tarefa nem sempre fácil na política francesa. O primeiro-ministro Gabriel Attal pediu demissão, e o presidente Emmanuel Macron solicitou que ele permaneça no cargo até uma definição. Os Jogos Olímpicos começam em Paris no próximo dia 26. O temor era que houvesse um vácuo de poder com o evento em marcha.

Todos os olhos agora estão voltados para o NFP. Seu líder, Jean-Luc Mélenchon, um radical anticapitalista tido como antissemita, declarou não estar disposto a negociar com Macron. Os socialistas parecem mais abertos. Seu líder, Olivier Faure, declarou que apresentaria uma proposta no prazo de uma semana. O NFP foi uma aliança de conveniência montada para a eleição, nada garante que resista.

Uma das questões que devem causar mais discussão na formação da coalizão é a reforma da Previdência. Mesmo partidos mais moderados de esquerda exigem a revogação das mudanças promovidas por Macron. Outro ponto de discórdia é o que fazer com os impostos. O governo quer mantê-los no patamar atual. A esquerda exige alta acentuada. Caso nenhuma força política seja capaz de formar coalizão, Macron poderá apontar um governo liderado por um funcionário de alto escalão ou figura pública apartidária para ficar no poder até junho do ano que vem, quando uma nova eleição poderá ocorrer.

Seja qual for a solução, o legado de Macron está em risco. Ao se lançar candidato à Presidência em 2016, ele tinha como meta um programa liberal. Boa parte das reformas foram aprovadas sob intensos protestos. Passados sete anos, o RN obteve uma vitória inédita nas eleições ao Parlamento Europeu no início de junho. Macron antecipou então as eleições legislativas para mostrar que o voto na extrema direita tinha um teto. O susto com os resultados do primeiro turno levou ao acordo tático com o NFP, em que houve 132 renúncias entre os esquerdistas e 80 entre os centristas para facilitar o voto útil contra o RN. Esse objetivo alijou os extremistas do poder, mas a coalizão liberal liderada por Macron perdeu 77 assentos. O projeto de um centro duradouro se enfraqueceu.

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