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O grave acidente entre um Porsche e um Renault Sandero numa avenida de São Paulo, na madrugada do domingo de Páscoa, expôs a leniência das autoridades com infratores contumazes e a dificuldade crônica dos governos para reduzir a violência no trânsito — a despeito de o país possuir uma legislação rigorosa, implementada justamente para conter a matança nas ruas e estradas.

Não se pode dizer que seja incomum o acidente que matou o motorista de aplicativo do Sandero. Inicialmente, o condutor do Porsche alegou estar “um pouco acima” da velocidade. A perícia constatou que, no momento da colisão, ele corria a 114,8km/h (depois de chegar a 156,4km/h), mais que o dobro do permitido na via (50km/h).

Tampouco se pode afirmar que seja incomum a atitude leniente de autoridades em casos assim. Chama a atenção que policiais não tenham feito o teste do bafômetro no motorista que dirigia em alta velocidade, como seria praxe (depois, eles foram afastados). Testemunhas desmontaram a versão segundo a qual ele não bebera. Imagens das câmeras corporais mostram que os próprios policiais notaram sinais de embriaguez. Apenas na sexta-feira, a Justiça de São Paulo mandou prendê-lo preventivamente, após outros três pedidos de prisão negados.

Não foi a primeira imprudência desse motorista no trânsito. Ele havia recuperado a carteira de habilitação apenas 12 dias antes do acidente. Pela legislação, o direito de dirigir é suspenso quando o condutor atinge 40 pontos na soma das infrações. Pelo visto, o curso de reciclagem, obrigatório nesses casos, não serviu para nada.

A mistura de álcool e volante infelizmente provoca acidentes o tempo todo. Em fevereiro, um motorista aparentemente embriagado avançou sobre dezenas de foliões num bloco de carnaval em São Gonçalo (RJ). No último dia 27, três guardas municipais foram atropelados em Indaiatuba, interior de São Paulo (o motorista se recusou a fazer o teste do bafômetro e acabou detido). No dia 30, um condutor que mal conseguia ficar de pé invadiu o canteiro central e colidiu contra um motociclista no bairro do Tatuapé, em São Paulo.

Nos anos 2000, as madrugadas dos fins de semana no Rio ficaram marcadas pelas sucessivas mortes de jovens em acidentes de trânsito. Eles iam para as baladas, consumiam altas quantidades de bebida alcoólica e depois assumiam o volante. Surgidas em 2008, as operações da Lei Seca reduziram drasticamente essas tragédias, por meio de blitzes aleatórias para submeter motoristas ao teste do bafômetro.

As necessárias campanhas de conscientização, por si só, não são suficientes para evitar que motoristas arrisquem a própria vida e a dos outros. É preciso aumentar a fiscalização. As blitzes da Lei Seca, sem dia, hora ou local marcado, já se mostraram uma experiência bem-sucedida. Mas há que manter a regularidade das operações. É fundamental ainda rigor com infratores. Não basta ter leis rígidas. É preciso aplicá-las. Ou a imprudência e a impunidade continuarão a fazer vítimas no trânsito.

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