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A opinião do GLOBO

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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

A Polícia Federal investiga o vazamento de material radioativo da Usina Angra 1 em 16 de setembro do ano passado, como revelou O GLOBO. Seis meses depois, pairam dúvidas sobre a natureza do incidente — inicialmente omitido das autoridades — e sobre os procedimentos adotados. É algo inaceitável tratando-se de instalação nuclear e dos potenciais riscos para a população e para o meio ambiente.

O Ibama tomou conhecimento do vazamento no fim de setembro por meio de denúncia anônima. O episódio só foi confirmado em 11 de outubro, três semanas depois do ocorrido, em comunicado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) feito pela Eletronuclear, empresa responsável pela usina. O Ibama multou a Eletronuclear em R$ 2 milhões pelo vazamento e em R$ 101 mil pela demora em informá-lo.

A Eletronuclear afirma que “pequeno volume” de material radioativo (90 litros) foi lançado “de forma involuntária” no sistema de águas pluviais e que, por se tratar de um “incidente operacional”, a notificação não era obrigatória. De acordo com a empresa, análises no local não encontraram “nenhum resultado significativo”. A Cnen também informou que o material lançado na Baía de Itaorna, em Angra, não acarreta risco.

Algumas questões, contudo, persistem. Se a notificação não era necessária, por que então foi feita com atraso? “Se vazou um pouco que seja, deveria ter avisado”, disse Ney Zanella dos Santos, presidente da ENBPar, estatal que controla a Eletronuclear. “Se não avisaram, erraram.”

Preocupam também divergências sobre a gravidade do episódio. Segundo a Eletronuclear, ele foi classificado como nível 2 (incidente) na International Nuclear and Radiological Event Scales (Ines), escala usada para avaliar acidentes nucleares. Num relatório de fevereiro, porém, técnicos do Ibama afirmam que as informações da Eletronuclear não deixam claro se foi usada mesmo a Ines. Para a Cnen, o vazamento estava no nível zero, em que “nenhuma mudança na segurança é observada, bem como nenhuma consequência à população geral”.

A julgar pelo que foi informado até agora, as análises não descobriram riscos para os moradores ou para o meio ambiente. Tanto melhor. Mas a forma como a comunicação foi conduzida desperta preocupação. A melhor forma de lidar com incidentes ou acidentes nas usinas nucleares é agir com a máxima transparência, como demonstram diversos episódios ao longo da História, de Three Mile Island a Tchernóbil. Isso lamentavelmente não aconteceu. É fundamental informar imediatamente qualquer evento suspeito às autoridades e à sociedade, que tem o direito de saber o que se passa ao redor, especialmente quando o vizinho é uma usina nuclear.

P.S.: A Eletronuclear enviou ao GLOBO a seguinte nota a respeito do editorial acima: "A Eletronuclear esclarece que não forneceu informações errôneas sobre a classificação do incidente ocorrido em Angra 1 em setembro de 2022. O editorial afirmou que a Eletronuclear havia classificado o incidente como um evento de nível 2 na escala Ines (International Nuclear and Radiological Event Scales), quando na verdade a escala utilizada pela Eletronuclear se refere à 1REN2, que faz parte dos procedimentos de operação da usina e que apenas categoriza o tipo de evento ocorrido, diferente da Ines, que caracteriza a severidade de acidentes nucleares. A atual diretoria executiva da Eletronuclear se compromete a agir com transparência e divulgar amplamente todos os eventos industriais, independentemente da gravidade, e está colaborando com as investigações em andamento. Esses esclarecimentos são importantes para evitar a disseminação de informações equivocadas e confusão sobre os acontecimentos".

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