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Artigos escritos por colunistas convidados especialmente para O GLOBO.

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Nunca o planeta esteve tão dependente de políticos mais bem preparados para lidar com rápidas mudanças e tomar decisões baseadas em argumentos racionais e na ciência. Isso envolve atuar nas questões climáticas. Elas começam a ganhar ainda mais relevância, e o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista mundial.

Possuímos a maior floresta tropical do planeta, o maior estoque de carbono florestal, a maior biodiversidade, a maior quantidade de água doce. Excluídos os oceanos, nos 6% da cobertura da Terra que contempla o território brasileiro, temos a capacidade de absorção de 40% de todo o estoque de carbono da área seca do planeta.

Este é o cenário do total de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases (SEEG) 2021: mudança de uso da terra, 49%; agropecuária, 25%; energia, 18%; resíduos, 4%; processos industriais e uso de produtos, 4%. Metade de todas as nossas emissões é resultado do desmatamento, em grande parte ilegal. Resolvendo esse problema, nosso mapa de emissões será exemplo para todos os países.

A oportunidade para discutir esses temas acontecerá na COP28 aqui no Brasil. Serão debatidos assuntos como transição energética e financiamento estrangeiro para países em desenvolvimento com potencial de conservação. O Pantanal pode e deve despontar como bioma alternativo para os investimentos feitos em massa na Amazônia.

Nesse contexto, o Mato Grosso do Sul vive um momento ímpar. O estado é um dos que mais crescem no país. Seu PIB mais que quintuplicou nos últimos anos, um crescimento asiático em pleno Centro-Oeste brasileiro. A área convertida para agricultura no Planalto, as maiores plantas de celulose do planeta e um setor de serviços pujante fazem a arrecadação estadual bater recordes. No componente ambiental, o estado é detentor da maior área úmida do planeta, o Pantanal. O bioma é um terço do estado, o mais preservado do Brasil e um dos mais preservados do mundo (mais de 80% de cobertura vegetal nativa).

Nos últimos anos, porém, viu seus índices de desmatamentos explodir. Corumbá pulou para a posição de segundo município que mais desmatou áreas em 2022 em todo o Centro-Oeste, e a área desmatada cresceu quase três vezes de 2021 para 2022 e de 2022 para 2023. Tudo ocorreu com licenças ambientais.

O desmatamento no Pantanal é promovido, majoritariamente, por uma dezena de fazendeiros vindos de áreas de agricultura e pecuária intensiva que têm conseguido autorizações, algumas perto de 20 mil hectares de áreas contínuas. São fazendeiros que enriqueceram fora do Pantanal e agora compram áreas no bioma e, literalmente, passam o “correntão”.

As denúncias indignadas de pantaneiros antigos e tradicionais também explodiram. Eles sabem que essa nova forma de atuar no bioma será a destruição da natureza que tanto prezam e protegem por séculos.

Nesse contexto, o governador Eduardo Riedel foi eleito e em pouco tempo de governo teve a sensibilidade de suspender o modelo que permitia a destruição indo na contramão do mundo civilizado. Foi exemplo para pensar que precisamos de líderes e políticos atualizados com as questões mundiais.

Agora, com apoio do Ministério do Meio Ambiente, as sociedades sul-mato-grossense e brasileira têm a oportunidade de discutir o que querem para o Pantanal. Produtores rurais, sindicatos rurais, universidades, pesquisadores, ambientalistas, empresários do turismo, o Legislativo, as secretarias de governo podem opinar e dialogar.

“Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.” (Manoel de Barros)

*Alexandre Bossi é presidente do SOS Pantanal, Coronel Ângelo Rabelo é presidente do Instituto Homem Pantaneiro

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