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'Supremacia branca é um veneno', diz Biden em Buffalo, chamando ataque que matou 10 de terrorismo racista

Em discurso que homenageou vítimas do massacre, presidente americano afirma que país tem que enfrentar a realidade 'do terror doméstico'
Presidente Joe Biden durante pronunciamento em Buffalo, onde um atirador racista matou 10 em supermercado Foto: Leah Millis / Reuters
Presidente Joe Biden durante pronunciamento em Buffalo, onde um atirador racista matou 10 em supermercado Foto: Leah Millis / Reuters

BUFFALO, EUA — O presidente americano, Joe Biden, afirmou nesta terça-feira que "a supremacia branca é um veneno" durante discurso em Buffalo, onde um supremacista branco matou 10 pessoas em um supermercado de um bairro majoritariamente negro no sábado, descrevendo o crime como terrorismo racista.

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— A supremacia branca é um veneno, é um veneno que atravessa nosso corpo político — disse Biden, acrescentando que o silêncio é "cumplicidade". — E foi permitido crescer e apodrecer bem diante de nossos olhos. Não mais, não mais. Precisamos dizer com toda a clareza e força que pudermos que a ideologia da supremacia branca não tem lugar nos Estados Unidos. Nenhum.

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O presidente prosseguiu, classificando o ataque também como “racista”.

— O que aconteceu aqui é simples e direto. Terrorismo. Terrorismo. Terrorismo doméstico — disse.

No entanto, o presidente não fez nenhum anúncio preciso de novas políticas para combater a violência, além de expressar seu apoio à retirada de armas de assalto das ruas. Adotando um tom mais pragmático em determinado momento, afirmou que a violência não pode ser completamente interrompida — mas pode ser monitorada e combatida.

Mais cedo, Biden colocou flores em um memorial improvisado para as vítimas do ataque e se encontrou com as famílias delas, a maior parte negras, que foram assassinadas por um jovem branco, de 18 anos.

Depois do discurso, antes de ir embora da cidade, Biden admitiu que há pouco o que possa fazer sobre o controle de armas por meio de decretos, sendo necessário "convencer o Congresso” a adotar leis mais rígidas sobre armas — o que, reconheceu, seria “muito difícil”.

— Parte do que o país tem que fazer é olhar no espelho e encarar a realidade — disse ele. — Temos um problema com o terror doméstico, é real. Isso é o que a comunidade de inteligência vem dizendo, é o que os militares vêm dizendo há muito tempo. Não há nada de novo nisso.

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Durante a visita a Buffalo, Biden, acompanhado por sua esposa, Jill, e uma variedade de líderes políticos de Nova York também visitou o memorial montado sob uma árvore para prestar homenagem perto do supermercado onde os tiros foram disparados.

Autoridades dizem que Payton Gendron, de 18 anos, cometeu um ato de "extremismo violento com motivação racial" quando abriu fogo com um rifle semiautomático no sábado no Tops Friendly Market. Ele atingiu 13 pessoas, matando 10.

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Depois de visitar o supermercado, Biden e a primeira-dama conheceram as famílias das vítimas em um encontro a portas fechadas no Centro Comunitário Delavan Grider.

Durante o seu pronunciamento, emocionado, o presidente descreveu cada uma das vítimas do massacre, citando seus nomes e histórias, como a de Celestine Chaney, que estava no supermercado para comprar morangos para fazer um bolo, e como a de Andre Mackniel, que fora ao local para comprar um bolo de aniversário para seu filho de 3 anos.

Após uma pausa, Biden disse: "Seu filho está comemorando aniversário, perguntando: 'Onde está o papai?'"

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A cena em Buffalo era muito familiar para Biden , que mais uma vez assumiu o papel de consolador-em-chefe.

Biden disse aos americanos que concorreu à Presidência para restaurar a alma dos EUA, após o fracasso do antecessor Donald Trump em denunciar uma manifestação mortal da supremacia branca em Charlottesville, Virgínia, e assumiu o cargo semanas após um ataque mortal ao Capit��lio dos EUA , que incluiu grupos com motivações raciais.

Mas a viagem a Buffalo também mostra o pouco que Biden conseguiu para reprimir o aumento de grupos supremacistas brancos ou conter a violência armada, com muitos legisladores republicanos bloqueando os esforços para avançar nas medidas de controle de armas e o país sofrendo uma onda de ataques a tiros  nos últimos meses.

Biden já pediu ao Congresso que exija novas verificações de antecedentes para compradores de armas e proíba armas de "assalto" de estilo militar e carregadores de munição de grande capacidade. Mas os democratas que apoiam amplamente as medidas de controle de armas não têm votos suficientes para aprová-las.

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Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca disse na segunda-feira que o governo Biden está implementando uma "estratégia nacional para combater o terrorismo doméstico, reconhecendo que a questão evoluiu para a ameaça terrorista mais urgente que os Estados Unidos enfrentam hoje."

Um alto funcionário do FBI disse ao Congresso em novembro que a agência estava realizando cerca de 2.700 investigações relacionadas ao extremismo violento doméstico, e o Departamento de Justiça disse em janeiro que estava criando uma nova unidade para combater o terrorismo doméstico.

A polícia no domingo confirmou que investigava as postagens on-line de Gendron, que incluíam um manifesto de 180 páginas que ele teria escrito descrevendo a " Grande Teoria da Substituição ", uma teoria da conspiração de que os brancos estavam sendo substituídos por minorias nos Estados Unidos e em outros lugares.

No discurso, Biden disse que o país deve "rejeitar a mentirar" da teoria supremacista branca.

— Peço a todos que rejeitem a mentira — disse o presidente. — Peço a todos os americanos que rejeitem a mentira e condeno aqueles que espalham a mentira por poder, ganho político e lucro.