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Por O Globo com agências internacionais — Washington

O presidente Joe Biden ameaçou pela primeira vez, na quinta-feira, condicionar o apoio dado a Israel à adoção pelo governo de Benjamin Netanyahu de medidas tangíveis para responder à catástrofe humanitária em Gaza. No primeiro telefonema entre os dois líderes após a morte de sete trabalhadores humanitários em um ataque israelense no enclave palestino, o americano subiu o tom. Mas na prática, a Casa Branca tem resistido aos apelos para limitar os fluxos de armas para os israelenses e pressiona o Congresso para aprovar um plano de venda de caças F-15 no valor de US$ 18 bilhões (R$ 91 bilhões).

Na quarta-feira, o Washington Post revelou que, desde o início da guerra contra o grupo terrorista Hamas, em outubro, foram feitas mais de 100 vendas secretas de armamentos pelos Estados Unidos a Israel, incluindo munições de precisão, bombas de pequeno calibre, mísseis do tipo “bunker buster”, capazes de penetrar camadas de concreto, armas de pequeno calibre e munição de artilharia de 155mm. Os números foram apresentados por integrantes do governo americano a congressistas de forma sigilosa, segundo o jornal.

Uma dessas transferências teria sido autorizada no mesmo dia em que os ataques aéreos israelenses mataram sete trabalhadores humanitários da organização World Central Kitchen (WCK) em Gaza, de acordo com o Post, que citou várias autoridades. A lista de artefatos aprovada pelo Departamento de Estado incluía mais de mil bombas MK82, mais de mil bombas de pequeno diâmetro e fusíveis para bombas MK80, acrescentou.

Um funcionário do Departamento de Estado confirmou ao Post a aprovação, mas disse que ela ocorreu em algum momento "anterior" ao ataque israelense ao comboio de ajuda humanitária.

Na semana passada, os EUA autorizaram a transferência de armamentos semelhantes no valor de bilhões de dólares para Israel, incluindo mais de 1.800 bombas MK-84 (a maior da série) e 500 bombas MK-82 , segundo o Post. O Departamento de Estado também enviou recentemente uma notificação informal a dois comitês do Congresso para iniciar um processo de revisão legislativa do pedido, um primeiro passo para que o departamento dê autorização formal para a transferência de até 50 caças F-15. O acordo, que seria uma das maiores vendas de armas dos EUA para Israel em anos, ainda incluiria munições, treinamento e outros tipos de apoio, segundo o Politico e a CNN.

Washington concede US$ 3,8 bilhões em assistência militar anual a Israel, seu aliado de longa data. As últimas transferências vieram de autorizações concedidas pelo Congresso vários anos antes do início da guerra contra o grupo terrorista Hamas em outubro, mas o governo dos EUA tem autoridade para suspender um pacote de armas a qualquer momento antes da entrega — o que não foi feito pela Casa Branca até o momento, apesar da pressão exercida por deputados e senadores democratas.

Críticos da campanha de Israel em Gaza — na qual mais de 32 mil palestinos foram mortos, de acordo com as autoridades do Ministério da Saúde — dizem que o governo Biden deve usar qualquer influência disponível para fazer com que Netanyahu mude sua abordagem. Até mesmo alguns dos aliados democratas mais próximos do líder americano têm cada vez mais concordado com o aumento do controle sobre o armamento, incluindo o senador Chris Coons, confidente do presidente.

— Acho que chegamos a esse ponto — disse Coons à CNN na manhã de quinta-feira, acrescentando que se Netanyahu ordenasse que os militares israelenses invadissem a cidade de Rafah, no sul de Gaza, e "lançassem bombas e enviassem um batalhão para perseguir o Hamas e não fizessem nenhuma provisão para civis ou ajuda humanitária, eu votaria para condicionar a ajuda a Israel”.

Durante uma ligação de 30 minutos na quinta-feira, Biden pediu a Netanyahu que "anuncie e implemente uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com os danos aos civis, o sofrimento humanitário e a segurança dos trabalhadores humanitários", informou a Casa Branca. Mas Washington não chegou a dizer diretamente que os EUA interromperiam o fornecimento de armas ou imporia condições para seu uso, como os democratas pediram que ele fizesse.

"O presidente Biden enfatizou que os ataques aos trabalhadores humanitários e a situação humanitária geral são inaceitáveis", informou em um comunicado. "Ele deixou claro que a política dos EUA com relação a Gaza será determinada por nossa avaliação da ação imediata de Israel com relação a essas medidas."

A declaração foi a mais incisiva emitida pela Casa Branca nos seis meses de guerra entre Israel e o Hamas, ressaltando a crescente frustração do presidente com Netanyahu, que desafiou a pressão americana para reduzir o sofrimento dos civis em Gaza. Foi a primeira vez também que Biden sugeriu que os EUA podem condicionar sua assistência a Israel, um importante aliado no Oriente Médio.

Horas depois da conversa, Israel anunciou a reabertura da passagem de Erez, entre o país e Gaza, fechada desde os ataques do Hamas ao país, para proporcionar a entrada de mais ajuda humanitária no enclave. A porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA Adrienne Watson elogiou a medida, mas cobrou também a “implementação rápida e completa” da reabertura do porto de Ashdod para entregas de assistência humanitária direto a Gaza e do aumento significativo da ajuda jordaniana — que deve passar por Israel — ao enclave.

Todos os anos, os EUA fornecem cerca de US$ 3,3 bilhões (R$ 16,43 bilhões) em ajuda a Israel para adquirir equipamentos e serviços militares de empresas americanas, além de uma pequena parcela que pode ser destinada a compras internas. Mas em situações como a guerra em Gaza, onde o Exército israelense precisa de armas, munições e equipamentos, são abertas linhas adicionais — oficialmente, apenas duas dessas linhas foram aprovadas pela Casa Branca desde o dia 7 de outubro, uma de US$ 106 milhões (R$ 527,8 milhões) e outra de US$ 147 milhões (R$ 732 milhões), em dezembro. Um novo pacote, que prevê assistência de segurança de US$ 14,1 bilhões (R$ 70 bilhões), está parado na Câmara.

Contudo, como aponta o Washington Post, outras 100 autorizações de venda foram feitas longe do escrutínio público, uma vez que seus valores ficaram abaixo de um patamar que obriga o debate aberto sobre as operações.

De acordo com a Lei de Controle de Armas e Exportação, o presidente precisa de aprovação do Congresso sobre transações acima de US$ 25 milhões (R$ 126 milhões) que envolvam o envio de armas de guerra para outros países, incluindo aliados como Israel. Mas menos de 10% de todas as vendas de armas dos EUA para governos estrangeiros atingem esses níveis, de acordo com várias pessoas familiarizadas com o processo de consulta, que não estavam autorizadas a comentar publicamente sobre ele. Isso significa que o Congresso analisa apenas os maiores e mais significativos negócios propostos.

A Casa Branca afirmou ao Washington Post que seguiu todos os protocolos para manter os membros do Legislativo informados sobre esse tipo de ação.

Ajuda militar estável

Desde a fundação do país em 1948, Washington deu a Israel cerca de US$ 130 bilhões (R$ 657 bilhões), de acordo com números oficiais, um valor que se ajusta a cerca de US$ 300 bilhões (R$ 1,516 trilhão) quando a inflação é levada em conta. Israel é, portanto, "o maior beneficiário em termos cumulativos" da ajuda externa dos EUA "desde a Segunda Guerra Mundial", de acordo com um relatório recente do Congresso, que observa que essa assistência também inclui "ajuda econômica significativa" entre 1971 e 2007. Desde então, a ajuda tem sido quase que exclusivamente militar, totalizando mais de US$ 3,5 bilhões (R$ 17,6 bilhões) anuais sob acordos plurianuais, o atual até 2028.

"Os Estados Unidos fornecem a Israel acesso a alguns dos equipamentos militares mais avançados do mundo, incluindo o jato de combate F-35", observa o Departamento de Estado dos EUA, segundo o qual também são os EUA que financiam e fornecem parcialmente equipamentos para o Domo de Ferro, o eficaz e caro escudo de Israel contra foguetes disparados de Gaza ou do Líbano.

A ajuda dos EUA está essencialmente condicionada à compra de equipamentos de fabricantes americanos. A lei dos EUA proíbe o governo de fornecer armas a países responsáveis por "violações graves dos direitos humanos", um lembrete em um momento em que alguns países expressaram preocupação com o altíssimo custo humano da ofensiva de Israel em Gaza.

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