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Por O Globo — Rio de Janeiro

Faz quase sete meses que Christine Dawood, de 48 anos, precisa lidar com a dor de uma dupla perda. Seu marido, Shahzada, e seu filho, Suleman, estavam a bordo do submersível Titan, que implodiu durante uma expedição rumo aos destroços do Titanic, no fundo do Atlântico Norte, em junho passado.

Em entrevista ao jornal "DailyMail", ela conta que sua última lembrança do marido e do filho é do embarque no submersível. Christine lamentou o fato de não ter aproveitado a última noite ao lado dos parentes.

— Quase não interagi com eles [na noite anterior] porque estava vomitando muito. Fui para a cama bem cedo — disse ela, que disse sentir algum alívio em saber que ambos não sofreram na tragédia, já que a implosão levou à morte em milissegundos.

Prestes a embarcar, Shahzada estava "literalmente radiante" e o filho, "emocionado" em dividir tal experiência com o pai. Após a tragédia, Christine tenta superar a perda ao lado da filha, Alina, de 18 anos.

— Sou viúva, perdi um filho e não tenho nem 50 anos. Tenho 48 — afirmou ela, que lamentou não ter podido sepultar os parentes.

Christine contou ao "DailyMail" que, em viagem recente a Cingapura, ela e Alina "sentiram" a presença do marido e do filho ao entrarem no mar. Christine disse que toda vez que entrar no oceano, ela poderá se conectar com eles "porque fazem parte dele".

Segundo ela, a família cogitava a aventura desde 2018, mas adiou o projeto por causa da pandemia de Covid-19. Com o atraso nos planos, Suleman fez 18 anos e acabou indo no lugar da mãe. Cada um deles pagou US$ 250 mil (mais de R$ 1,2 milhão, na cotação atual) pela viagem.

Investigação em aberto

Ao longo de cerca de um semana, autoridades americanas e canadenses se mobilizaram para encontrar e tentar resgatar os cinco tripulantes do submarino Titan, criação da OceanGate, empresa que realizava viagens até os destroços do Titanic, no Atlântico Norte. Quase sete meses após a tragédia, as investigações sobre o incidente seguem, com questões ainda em aberto.

O submarino desapareceu no dia 18 de junho, poucas horas após iniciar sua descida ao fundo do mar. Sua tripulação, composta de cidadãos dos Estados Unidos, Reino Unido, Paquistão e França, morreu durante uma implosão, causada pela força da pressão na estrutura do submersível. Cerca de 80 horas após o desaparecimento, quando a reserva de oxigênio do veículo já estaria no final, foi anunciada a descoberta dos destroços.

Destroços do submersível Titan são retirados do mar após implosão; veja imagens

Destroços do submersível Titan são retirados do mar após implosão; veja imagens

Os restos do Titan foram encontrados no fundo do mar, 500 metros da proa do Titanic, que está a quase quatro quilômetros de profundidade e 600 km da costa de Terranova, Canadá. Morreram na implosão os bilionários Hamish Harding, o mergulhador francês Paul-Henry Nargeolet, além do empresário paquistanês Shahzada Dawood e seu filho, Suleman Dawood. O CEO da OceanGate, Stockton Rush, que comandava o submersível no momento da implosão, também morreu.

A Guarda Costeira americana apura o caso. "A investigação está atualmente na fase de apuração de fatos, que envolve a análise de provas e a realização de entrevistas com testemunhas, e a data de conclusão da investigação é desconhecida neste momento", disse o órgão por meio de nota. No dia 8 de novembro, as autoridades afirmaram terem concluído uma "revisão de evidências dos detritos" do Titan, em Rhode Island.

Uma das principais questões ainda não desvendadas é o que causou a implosão do submarino. Entre as explicações mais prováveis está o uso de materias não testados, como fibra de caborno, na estrutura do veículo subaquático. Segundo relatado por um ex-sócio de Stockton Rush, CEO da OceanGate e um dos tripulantes do Titan no dia da implosão, a utilização desse material foi motivada por uma busca em cortar custos da empreitada.

— Nossa teoria era que, se pudéssemos seguir o exemplo de Elon Musk na SpaceX e usar capital privado para construir submarinos de mergulho profundo, poderíamos torná-los disponíveis para qualquer pessoa que precisasse deles, pesquisadores, cineastas, exploradores, a uma fração do custo — disse Guillermo Sohnlein ao The New York Times.

Ao jornal americano, o engenheiro e especialista em submarinos Graham Hawkes, que conhecia Rush, disse lametar não ter alertado o empresário dos riscos no uso da fibra de carbono. Segundo ele, trata-se de um materia pouco confiável: em um dia poderia descer até 3 mil metros e, no seguinte, implodir ao chegar em 2,7 mil. Isso porque a estrutura poderia sofrer danos impossíveis de serem detectados.

Ao GLOBO, o oceanógrafo e militar americano Don Walsh, signatário de uma carta escrita pela Sociedade de Tecnologia Marinha (MTS) que em 2018 já apontava erros da OceanGate, levantou ainda a possibilidade da implosão ter sido provocada pela janela do submarino:

— Houve uma falha massiva no casco de pressão quando ele implodiu. Provavelmente ocorreu em menos de um segundo. A falha pode ter sido devido ao casco experimental, não testado, feito de filamentos de fibra de carbono trançados ou à grande janela única que não foi fabricada de acordo com os padrões aceitos para a profundidade máxima de operação do submarino.

Alguém pode ser responsabilizado?

Os clientes da OceanGate eram obrigados a assinar um termo de responsabilidade antes de embarcar no submarino da empresa. O documento deixa claro aos passageiros que eles assumem os riscos de morte e ferimentos graves sem a possibilidade de qualquer recurso contra a empresa responsável pela expedição. "Assumo total responsabilidade pelo risco de lesões corporais, invalidez, morte e danos materiais devido à negligência da [OceanGate] durante o envolvimento na operação", diz um trecho do termo.

De acordo com especialistas ouvidos pelo GLOBO, familiares de vítimas do acidente podem buscar a reparação dos danos na Justiça, mas uma vitória nos tribunais é incerta.

— Claro que esse termo faz você entender que envolve riscos, mas não é carta branca para acontecer a morte. Depende da causa. Vamos pensar no médico: assinei o termo de um procedimento estético que pode gerar uma cicatriz que não sai nunca. Agora, se a cicatriz foi por erro médico, não foi natural, aí o termo não vale. Isso olhando pela lógica da lei do Brasil, que é diferente, mas é inspirada por legislações europeias. O termo não apaga erros. Vai depender de cada país. Mas, como é algo muito exclusivo, a Justiça vai levar em consideração o apetite da vítima pelo risco — disse ao GLOBO a professora de Direito da Uerj, Milena Donato.

Morto no desastre, o fundador e CEO da OceanGate é quem pilotava o submarino em sua viagem final. Em agosto, o banqueiro Gordon A. Gardiner foi escolhido para substituir Stockton Rush no cargo. De acordo com a empresa americana, ele foi nomeado CEO e diretor "para liderar a OceanGate nas investigações em andamento e no fechamento das operações da empresa". Atualmente, o site oficial da companhia diz apenas que suas operações comerciais e de exploração estão suspensas. Não há, até o momento, confirmação de que parentes de algumas das vítimas tenham processado a OceanGate.

As investigações sobre o caso, feitas por autoridades americanas e canadenses com cooperação de franceses e britânicos, seguem. A Guarda Costeria dos EUA disse que seu objetivo é de ajudar a impedir que novas tragédias do tipo ocorram novamente, mas que recomendações sobre sanções civis e criminais também podem ser feitas:

— Meu objetivo principal é evitar um incidente similar com as recomendações necessárias para aumentar a segurança do domínio marítimo em todo o mundo — disse Jason Neubauer, investigador-chefe da Guarda Costeira, em uma entrevista coletiva em Boston.

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