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O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) reivindicou nesta quinta-feira a autoria pelas duas explosões de quarta-feira em Kerman, no Irã, que deixaram ao menos 84 mortos e 284 feridos durante uma procissão em homenagem ao general Qassem Soleimani, morto pelos EUA em 2020. Segundo analistas, o atentado sugere um ressurgimento sangrento da organização jihadista, que foi dizimada em 2019. Não está claro, porém, qual afiliada do EI teria cometido o massacre, apontado como o mais mortal em território iraniano desde a Revolução Islâmica de 1979.

As explosões ocorreram quando uma multidão marcava o quarto aniversário da morte de Soleimani, arquiteto das operações militares do Irã no Oriente Médio, em um ataque de drone americano em 3 janeiro de 2020 em Bagdá, capital do Iraque.

Chefe da força de elite Quds da Guarda Revolucionária, Soleimani projetou o eixo de influência do Irã no exterior, remodelando a geopolítica do Oriente Médio por meio de uma rede de grupos que se opõem a Israel, incluindo o movimento xiita libanês Hezbollah e o grupo fundamentalista islâmico Hamas. Também era muito respeitado na República Islâmica por seu papel na derrota do EI no Iraque e na Síria.

No Telegram, o EI chamou o atentado de quarta de "dupla operação de martírio" e descreveu como dois de seus membros, identificados pelos nomes de Omar al-Mowahid e Sayefulla al-Mujahid, "detonaram seus coletes de explosivos" no meio de "uma grande multidão de apóstatas perto do túmulo do líder hipócrita", referindo-se ao general.

O anúncio coincide com as avaliações da Inteligência americana e de autoridades militares regionais, que apontaram como provável que o ataque fosse obra do grupo jihadista.

O Irã não reconheceu imediatamente a alegação. Citando "uma fonte com conhecimento do assunto", a Irna, agência oficial de notícias do país, confirmou apenas que a primeira explosão foi detonada por volta das 14h45 (horário local), a cerca de 700 metros do túmulo por um "homem-bomba", cujo corpo ficou em pedaços. Já a segunda, que ocorreu cerca de 15 minutos depois, está sendo investigada, mas é provável que também tenha sido causada por um homem-bomba, acrescentou.

Já o ministro do Interior, Ahmad Vahidi, anunciou o reforço da segurança nas divisas porosas do Irã com o Afeganistão e o Paquistão. À Isna, uma agência de notícias independente, ele disse que as autoridades identificaram "pontos prioritários a ser bloqueados ao longo da fronteira" com os dois países, que há muito tempo são ponto de acesso importante para milícias, contrabandistas de drogas e migrantes irregulares.

Bode expiatório externo

Inicialmente, líderes iranianos culparam Israel e EUA pelo ataque, alimentando o temor de aumentar ainda mais a tensão na região. Mas as autoridades ocidentais lançaram dúvidas sobre essa alegação, dizendo que, embora se acredite que Israel tenha realizado regularmente operações secretas no Irã, elas geralmente foram direcionadas contra indivíduos específicos, cientistas ou autoridades, ou contra instalações nucleares ou de armas.

"No passado, Israel demonstrou capacidade de atacar dentro do território iraniano e tem motivação para se vingar do Irã por seu apoio de longa data ao Hamas", mas "esse ataque não tem as características das operações secretas israelenses anteriores no Irã (assassinatos de cientistas e comandantes da Guarda Revolucionária e sabotagem de instalações nucleares e militares)", explicou no X (antigo Twitter) Ali Vaez, especialista em Irã e pesquisador sênior do International Crisis Group, um centro de pesquisas ocidental especializado em crises globais.

Na quarta, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, prometeu uma "resposta dura" aos "inimigos malignos e criminosos da nação", sem citar nomes, enquanto o presidente Ebrahim Raisi falou em "mão divina da vingança", que, segundo ele, se abaterá sobre os culpados.

"O mártir Soleimani é mais perigoso para os inimigos do que o general Soleimani. Eles temem sua foto, seu túmulo e os peregrinos. Com a permissão de Deus, a mão divina da vingança surgirá na hora e no lugar certos e os patrocinadores dos ataques terroristas em Kerman pagarão um preço lamentável", escreveu Raisi no X, antigo Twitter.

Afiliadas do EI

As autoridades americanas acreditam ser improvável que a intenção do EI fosse incriminar Israel pelos atentados ou desencadear uma guerra mais ampla. Em vez disso, provavelmente o grupo, que é sunita, está aproveitando uma oportunidade para atingir seu inimigo Irã, que tem um governo islâmico xiita e lidera, financia e arma grupos em todo o Oriente Médio — incluindo o Hamas, que governa a Faixa de Gaza e contra quem Israel trava uma guerra desde 7 de outubro.

O EI classifica os xiitas como hereges e já realizou vários ataques contra povos que seguem essa vertente da religião muçulmana, principalmente no Iraque. O grupo também reivindicou a responsabilidade por vários ataques anteriores no Irã, incluindo o mais recente, em outubro de 2022, quando um homem armado matou 13 pessoas em um santuário na cidade de Shiraz. As agências de inteligência iranianas disseram já ter frustrado uma série de conspirações jihadistas em seu território.

Para Mick Mulroy, ex-funcionário do Pentágono americano, o Estado Islâmico "não perdeu o interesse" pelo Irã, "mas parece ser um momento estranho para lançar um ataque com o atual conflito em Gaza e o apoio unificado dos muçulmanos aos palestinos". A declaração do Telegram não especificou a afiliada do EI por trás dos atentados.

Colin Clarke, analista de contraterrorismo do Soufan Group, uma empresa de consultoria de segurança sediada em Nova York, suspeita que a afiliada do EI em Khorasan, também conhecida como ISIS-K (na sigla em inglês), sediada no Afeganistão, seja a provável autora do ataque.

— O ISIS-K demonstrou a intenção e a capacidade de atacar alvos dentro do próprio Irã — afirmou Clarke ao New York Times. — O ISIS-K, que tem uma agenda altamente sectária, quer atacar o Irã, porque o país é a potência xiita mais proeminente. Mais do que outras ramificações do ISIS, a propaganda do ISIS-K se concentra continuamente em difamar os xiitas como apóstatas.

Ali Vaez, do Crisis Group, explica que "a fronteira com o Afeganistão é porosa, o que facilita a entrada do ISIS-K [no Irã] e a realização desses ataques contra alvos fáceis". Para ele, "o ataque em Kerman destacou mais uma vez a vulnerabilidade do Irã e o fracasso do governo em fornecer segurança".

Desde que o califado autodeclarado do grupo terrorista foi derrotado em 2019, várias facções assumiram o território antes sob seu domínio, segundo relatório publicado em julho de 2022 pelo Crisis Group.

"O Estado Islâmico está aproveitando as divisões entre esses atores para fortalecer suas forças e aumentar seus contingentes", afirma o documento. "No centro da Síria, ele treina a maioria de seus novos recrutas; no nordeste, reúne fundos e armazena suprimentos; e no noroeste, mantém esconderijos para comandantes de nível médio e sênior."

Luto nacional

O Irã realizou um dia de luto nacional nesta quinta-feira para homenagear as vítimas das explosões, que ocorreram não apenas em um momento tenso no Oriente Médio — um dia após o assassinato no Líbano do número 2 da ala política do Hamas, que é apoiado por Teerã —, mas também em uma data altamente simbólica para alguns iranianos, o quarto aniversário da morte do general Soleimani. O poderoso líder militar, considerado uma força maligna no Ocidente, é reverenciado por muitos iranianos, especialmente por aqueles que apoiam o governo.

Por outro lado, os funerais públicos das vítimas, previstos para sexta-feira, "foram suspensos por decisão" das autoridades e contarão apenas com a presença de familiares, indicou o governador de Kerman, sem dar mais detalhes.

Na quarta-feira, as autoridades iranianas estimaram em 103 o número de mortos nas duas explosões, total que foi revisto para 84 nesta quinta. Há o risco, porém, de o número de vítimas fatais aumentar novamente devido à condição grave de alguns dos feridos.

"O ato cego e rancoroso foi para induzir a insegurança no país e se vingar do amor e da devoção da grande nação do Irã, especialmente da zelosa geração jovem, ao mártir Qassem Soleimani", dizia uma declaração da Guarda Revolucionária nesta quinta-feira, de acordo com a Fars, outra agência de notícias semioficial do Irã. (Com The New York Times)

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