O Tribunal Constitucional do Peru ordenou nesta terça-feira a libertação imediata do ex-presidente Alberto Fujimori, aos 85 anos. Ele cumpre uma pena de 25 anos de reclusão em um presídio especial em Lima por crimes contra a humanidade cometidos sob seu comando.
Fujimori foi presidente de 1990 a 2000 e está preso desde 2009 por causa de massacres cometidos por esquadrões da morte do Exército em 1991 e 1992, nos quais 25 pessoas foram mortas em supostas operações antiterroristas.
"Este Tribunal Constitucional ordena que o Instituto Nacional Penitenciário (Inpe) e o diretor do Presídio de Barbadillo, no dia de hoje, providenciem a imediata libertação do beneficiário, Alberto Fujimori", indicou a corte na resolução divulgada à imprensa.
Na sentença desta terça, na última instância do processo, os magistrados restituíram o indulto que tinham concedido a Fujimori em 2017 por razões humanitárias e que foi revogado pela Suprema Corte em 2019.
Aos 85 anos, Fujimori sofre de diversos problemas de saúde, como câncer lingual, fibrilação auricular, doença pulmonar e hipertensão.
O Tribunal Constitucional justificou sua decisão, alegando a saúde "abalada" de Fujimori e também lembrou que o ex-presidente já "cumpriu aproximadamente dois terços de sua condenação", o que o torna apto ao indulto.
Na semana passada, a mesma corte já havia ordenado que um juiz libertasse o ex-presidente após restituir-lhe o indulto que a Corte Interamericana de Direitos Humanos havia revogado em 2022.
No entanto, o juiz Vicente Fernández determinou que ele continuasse preso, considerando improcedente a decisão do Tribunal Constitucional, e devolveu a decisão ao Tribunal Constitucional (TC) porque não se considerava competente para libertar o ex-presidente.
Desde 2009, o ex-presidente cumpre pena no presídio Barbadillo, uma pequena prisão para ex-presidentes ao leste de Lima, onde também está Pedro Castillo. Nesta terça mesmo, o advogado do ex-presidente, Elio Riera, chegou ao presídio Barbadillo para realizar os trâmites administrativos da soltura.
— O presidente se mostrou muito de acordo, recebeu com alegria o mandato [dos juízes] — disse Riera.
Segundo sua defesa, Fujimori poderia ser libertado na quarta-feira.
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— Foi feita justiça com um homem que fez tanto pelo Peru. Hoje se faz justiça — disse o congressista Alejandro Aguinaga, do partido Força Popular, de Keiko Fujimori, filha do ex-presidente.
A história do indulto é rocambolesca. Concedido no Natal de 2017 por razões humanitárias, foi anulado em 2019 pela Corte Suprema para depois ser restituído em março de 2022 pelo Tribunal Constitucional. Quando estava prestes a ser libertado, a Corte Interamericana pediu que o Peru se abstivesse de soltá-lo até revisar um recurso de familiares das vítimas de seu governo.
Conhecido como "El Chino" (O Chinês), embora tenha ascendência japonesa, Fujimori foi muito popular em sua luta sem trégua contra a guerrilha maoísta Sendero Luminoso, cujos líderes foram presos. Mas, em novembro de 2000, em meio a uma oposição crescente após dez anos no poder, fugiu para o Japão, a terra de seus ancestrais, e renunciou à Presidência por meio de um fax.
Ele detinha um poder quase absoluto após dar um "autogolpe" em 5 de abril de 1992, dissolvendo o Congresso e intervindo no Poder Judiciário.
Pesam contra Fujimori quatro condenações judiciais por crimes contra a humanidade e corrupção, a maior delas de 25 anos de prisão.