A família do candidato presidencial Fernando Villavicencio, assassinado na semana passada durante um comício em Quito, no Equador, apresentou uma denúncia contra o presidente Guillermo Lasso . O advogado da família, Marco Yaulema, afirmou a jornalistas nesta sexta-feira que a família denuncia o Estado equatoriano pelo crime de homicídio, afirmando que "houve omissão dolosa das autoridades, que não cumpriram o seu papel de garantidores" apesar das ameaças contra ele.
— Eles o deixaram abandonado, o deixaram morrer — disse o advogado.
Segundo ele, Villavicencio havia sido ameaçado diversas vezes por criminosos incomodados com denúncias que fazia em suas redes sociais, e, por isso, era necessário um esquema de segurança maior no comício em que participou, em 9 de agosto, dia em que foi morto a tiros.
Yaulema responsabilizou por omissão o presidente Lasso; o ministro do Interior, Juan Zapata; o comandante da polícia, general Fausto Salinas; e o chefe de inteligência, Manuel Samaniego.
A família alega que o número de agentes que faziam a segurança do candidato não era adequado e que o motorista do veículo não estava de prontidão ao volante.
Villavicencio, um ferrenho opositor do correísmo, foi assassinado em meio a uma onda de violência provocada pelo tráfico de drogas, que nos últimos anos elevou a taxa de homicídios para o recorde de 26 por 100 mil habitantes em 2022, quase o dobro do registrado no ano anterior. Antes do atentado, o então candidato acusou o líder preso da organização criminosa Los Choneros de tê-lo ameaçado de morte, mas as investigações ainda não apontaram o mandante do crime.
Antes de ser morto, o candidato foi levado para um carro sem reforço de segurança, apesar de outro veículo blindado estar no local. Após as declarações, Zapata explicou que se trata de um direito da família, que será respeitado. O ministro afirmou ainda que só poderá comentar sobre as supostas falhas nos procedimentos policiais após as conclusões de uma investigação por parte da Direção da Administração Interna.
Em entrevista a jornalistas internacionais, na quinta-feira, o substituto de Villavicencio, Christian Zurita, disse suspeitar que a motivação do assassinato pode estar relacionada a algumas de suas propostas, centradas em atacar as rotas comerciais operadas pelo narcotráfico.
— Tenho quase certeza de que ele foi assassinado porque disse que iria militarizar os portos — disse Zurita.
Na madrugada desta sexta, autoridades equatorianas prenderam três suspeitos de envolvimento no assassinato do prefeito de Manta, Agustín Intriago. O crime, no mês passado, teria sido coordenado desde uma prisão de Guayaquil.
O assassinato de Villavicencio, dias antes das eleições, alterou o tabuleiro político. A correísta Luisa González ainda lidera as intenções de voto, de acordo com duas pesquisas divulgadas na quarta-feira, mas perdeu cerca de 10 pontos percentuais em uma semana. González aparece como primeira colocada, segundo a sondagem da Cedatos, com 24% das intenções de voto; em segundo aparece Villavicencio, com 12,5%. O terceiro lugar é ocupado pelo direitista Jan Topic, com 12,2%.
Em julho, o candidato, que defende uma linha-dura no combate ao crime no país, não figurava no topo da pesquisa, mas subiu significativamente após o assassinato. Em quarto, está o líder indígena da esquerda, Yaku Pérez, com 8,1%,
Em outra sondagem, da Comunicaliza, Topic aparece em segundo lugar nas intenções de voto com 21,7%, à frente de Villavicencio, com 14,5%. Os levantamentos foram realizados entre 11 e 12 de agosto, poucos dias depois do crime.