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Por Renato Vasconcelos

Há dois meses, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou ao mundo que a esperada contraofensiva para expulsar as invasoras forças russas estava em curso. De lá para cá, pouca coisa mudou com relação ao controle do terreno, ao passo que a guerra aérea chegou aos céus de Moscou, com a Rússia também intensificando seus ataques contra cidades ucranianas. Em diferentes posições da linha de frente, a combinação de terrenos hostis e inimigos entrincheirados cria uma dinâmica de desgaste cada vez maior.

— O conflito ainda está estagnado, em um cenário muito parecido com o da Primeira Guerra Mundial: uma guerra de trincheiras — analisou o professor de Relações Internacionais Gunther Rudzit, da ESPM-SP. — Após o avanço ucraniano no fim do ano passado, principalmente em Kherson e Zaporíjia, chegou o inverno e os russos se "entocaram" em posições defensivas, adicionando novos graus de dificuldade para as forças que tentam avançar.

Ainda de acordo com Rudzit, a postura majoritariamente defensiva da Rússia neste momento, visa não apenas submeter Kiev a uma pressão constante no front, mas também é direcionada ao Ocidente. Ao desgastar as tropas ucranianas, Moscou aposta em um prolongamento do conflito que pressione internamente os aliados da Otan, principais fornecedores de armas e de ajuda financeira e humanitária.

Militar ucraniano caminha em uma floresta perto da linha-de-frente, no sul do país. — Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times
Militar ucraniano caminha em uma floresta perto da linha-de-frente, no sul do país. — Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

O ritmo mais lento do que o alardeado pelo Ocidente antes da contraofensiva, no entanto, não deve ter sido recebido como uma surpresa pelos oficiais ucranianos, segundo o analista Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, mestre em ciências militares.

— Os planejadores militares ucranianos sabiam que as dificuldades dessa ofensiva seriam enormes, por uma série de razões: superioridade numérica das tropas russas, grande tempo disponível aos russos para prepararem suas linhas defensivas, com camadas sucessivas de linhas de trincheiras, extensos campos de minas... dentre outros aspectos amplamente conhecidos na doutrina militar— afirmou.

Frentes em disputa

As posições entrincheiradas, porém, não significam que a guerra tenha esfriado. Ao longo da linha de frente, pequenas marchas e contramarchas estão em curso, em movimentos calculados por estrategistas de ambos os lados, a procura de objetivos específicos.

Embora a contraofensiva ucraniana tenha focado sua maior mobilização em direção ao sul, principalmente em Kherson, uma segunda frente militar ativa está avançando nos arredores de Bakhmut, informaram autoridades militares ucranianas, tentando cercar as tropas russas e retomar a cidade que foi palco de uma das batalhas mais sangrentas da Europa.

Soldados ligados ao Wagner mostram bandeiras russa durante conquista do grupo em Bakhmut, meses atrás — Foto: AFP Photo/Telegram channel of Concord group
Soldados ligados ao Wagner mostram bandeiras russa durante conquista do grupo em Bakhmut, meses atrás — Foto: AFP Photo/Telegram channel of Concord group

Em contrapartida, o governo ucraniano ordenou a evacuação de 11 mil pessoas em Kupiansk, uma cidade com importância logística estratégica na região de Kharkiv. A área esteve sob controle russo nos primeiros meses de guerra, mas foi retomada pela Ucrânia na contraofensiva do fim do ano passado.

A ofensiva russa a Kupiansk pode ser uma estratégia para tentar dividir as forças ucranianas mais ao norte do país, na avaliação de Rudzit, com o objetivo de reduzir o poderio contra Bakhmut — uma vez que uma derrota na região teria um peso simbólico importante para Moscou, explica. Gomes Filho também indica que a ideia pode ser dividir a atenção de outras frentes de batalha, sugerindo que pode ser uma tentativa de reduzir a pressão no front sul.

— É natural que em uma guerra com uma frente tão larga (são cerca de mil quilômetros de linhas de contato entre os dois exércitos) esse tipo de situação ocorra, qual seja, um exército em uma atitude ofensiva em parte da frente, mas defendendo em outra, e vice-versa — explicou.

Ataques aéreos

Uma nova dinâmica também foi inaugurada nos últimos meses nos céus ucranianos — e russos. Pela primeira vez, a Ucrânia atacou com drones alvos em território inimigo, incluindo na capital, Moscou. Além de atacar, Kiev ainda reivindicou publicamente os bombardeios, com o presidente Volodymyr Zelensky chegando, em certa altura, a afirmar que a guerra "voltou a Rússia".

Para Gomes Filho, o fato da Ucrânia ter aumentado o uso de drones sobre alvos profundos em território russo não possui relação com as dificuldades de avanço no solo. De acordo com o especialista, o novo modus operandi seria parte de uma campanha estratégica para buscar "alvos compensadores" e profundidade.

Especialista inspeciona fachada danificada de um prédio residencial após ataque de drone em Moscou — Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP
Especialista inspeciona fachada danificada de um prédio residencial após ataque de drone em Moscou — Foto: Kirill Kudryavtsev/AFP

— Especula-se que uma fábrica de material ótico, que estaria fornecendo equipamentos para os blindados russos, teria sido alvejada, nas proximidades de Moscou. Esse é um alvo típico dessa chamada campanha aeroestratégica. Mas o uso dos drones nas proximidades de Moscou também atende a objetivos na chamada “guerra informacional”. Esses seriam o de levar a guerra à população de Moscou, tentando minar o apoio do povo russo à guerra. Por outro lado, cria um efeito psicológico positivo no povo ucraniano, que vê uma resposta de seu exército aos bombardeamentos diários que a Rússia faz nas principais cidades ucranianas — analisou.

Por outro lado, autoridades militares ucranianas também afirmam que a Rússia teria intensificado seus ataques aéreos contra o país, incluindo alvos civis, utilizando armas de topo no seu arsenal convencional, como os mísseis hiperssônicos Kinzhal. Na sexta-feira, destroços de um míssil abatido caíram perto de um hospital infantil de Kiev, enquanto um outro caiu sobre a casa de uma família na região de Ivano-Frankivsk, matando uma criança de oito anos.

"Durante a semana passada e esta semana, o inimigo intensificou o uso de virtualmente todo o seu espectro de armas para bombardear cidades ucranianas", afirmaram as Forças Armadas da Ucrânia em um comucado. "Em particular, aumentou o número de ataques com mísseis balísticos pelo mar, ar e de bases em terra".

Para o professor da ESPM-SP, os bombardeios russos também não guardam relação direta com a falta de avanços no terreno.

— Parece uma tentativa do Putin de dar o troco na população ucraniana, já que a Ucrânia está conseguindo atacar dentro de território russo, até mesmo em Moscou (o que arranha bastante sua imagem). Em um vídeo recente, é possível ver um míssil de cruzeiro atingindo um prédio residencial. Pode ser que tivesse alguma unidade militar ali neste caso? Até pode, mas alvos civis estão sendo bombardeados com frequência — acrescentou.

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