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Por MARÍA R. SAHUQUILLO, El País — Bruxelas

A União Europeia (UE) quer reativar as relações com a América Latina e o Caribe e dar um “salto qualitativo” nos intercâmbios políticos e comerciais — na região cortejada com força pela China e onde a Rússia também busca influência. Depois de anos centrada em países vizinhos, Bruxelas se volta agora para esta região como um todo e quer criar um órgão de relação permanente que funcione como engrenagem burocrática e institucional de aproximação com esta área extensa e diversa — que inclui 33 países e 700 milhões de habitantes — como revela o esboço de um documento a que o El País teve acesso e que a Comissão Europeia prevê aprovar nos próximos dias.

Ao mesmo tempo, Bruxelas acelera a ofensiva diplomática com uma visita da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao Brasil, México, Argentina e Chile e também com a preparação de um pacote de programas de investimentos com o qual a Espanha contribuirá com €9,4 bilhões (R$ 50,2 bilhões).

Ainda não se sabe o valor total de investimentos — e as fontes consultadas se recusaram a dar estimativas — mas tanto a Comissão Europeia quanto outros integrantes do bloco têm previsões que chegam, em alguns casos, em torno da cifra oferecida pela Espanha. A União Europeia quer fortalecer o vínculo com a região como um todo, onde é a principal investidora, mas veio perdendo espaço até se tornar o terceira parceira comercial (depois da China e dos Estados Unidos) e com a qual mantêm umas das redes de acordos mais expressivas do mundo.

"No contexto global atual, com a ordem internacional baseada em regras e a democracia sob pressão, essa ligação adquire um significado geopolítico ainda maior", aponta o documento da União Europeia, elaborado pelo Serviço de Ação Exterior, comandado pelo alto representante para Política Externa, Josep Borrell, entre outros participantes. O documento será parte do diálogo no próximo encontro da cúpula UE-Celac (Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe), nos dias 17 e 18 de julho, em Bruxelas.

Este será o primeiro encontro de cúpula do tipo em oito anos e vai marcar o início da presidência espanhola do Conselho Europeu — que terá como uma das prioridades incentivar as relações estáveis e estruturadas com essa região. A UE quer manter uma relação sólida e de longo prazo com a América Latina e o Caribe e, com esse espírito, pretende marcar o próximo encontro de alto nível para 2025, na Colômbia, além de reativar outras cúpulas com parceiros estratégicos, como o México e o Brasil.

Em um mundo com enormes desafios geopolíticos, a era posterior à Pandemia e à invasão da Ucrânia pela Rússia —que abriu os olhos da UE para a dependência estratégica de Moscou e Pequim — levou o bloco europeu à busca de novos sócios confiáveis, além de a cuidar dos que já possui. A janela de oportunidade e a possibilidade de uma nova agenda com a América Latina e o Caribe é “única”, asseguram fontes europeias.

A proposta da UE destaca objetivos cruciais e complexos. Entre eles, reativar acordos comerciais e de associação estratégicos, como o do México e o do Mercosul — o quinto maior bloco econômico do mundo fora da UE, composto por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai — bloqueados há anos por objeções de integrantes da UE como a França, e que voltaram à agenda, ainda que como um capítulo a médio prazo. Bruxelas também busca finalizar os trâmites do pacto UE-Chile e completar os acordos que firmou com a América Central e com o eixo Colômbia-Peru-Equador.

Investimentos 'de qualidade'

"A UE também pode aproveitar os investimentos de qualidade para ajudar a fazer frente às necessidades de infraestrutura física da América Latina e do Caribe, ao mesmo tempo em que cria valor agregado local e apoia o desenvolvimento de capital humano” diz o documento da Comissão. O texto também oferece um posicionamento político para recalibrar a relação sobre a base do “respeito mútuo e da cooperação” e apresenta indicações de planos de investimento por meio do Global Gateway — uma ferramenta nascida para destinar recursos a programas de países em desenvolvimento e que é uma fórmula para contrapor a nova rota da seda chinesa, o grande projeto de Pequim para impulsionar sua posição global, ampliando relações comerciais com todo o planeta (e que já agrupa 22 dos 33 países da América Latina e do Caribe).

A Comissão Europeia vai aportar um valor semelhante aos quase € 10 bilhões que a Espanha vai investir — por meio de fundos e subsídios não reembolsáveis, seguros de crédito a exportações, financiamento de projetos ou empréstimos. Outros países da UE farão investimentos em projetos centrados em impulsionar a agenda ambiental, que ainda não foram definidos, segundo fontes europeias.

O impulso chinês

A Europa tem uma grande necessidade de matérias primas cruciais — o que a faz extremamente dependente da China, o principal fornecedor e, às vezes, único - para o desenvolvimento industrial verde e de energias como hidrogênio verde. A américa Latina e o Caribe são zonas muito ricas em recursos e minerais essenciais — só a Bolívia, a Argentina e o Chile têm 60% das reservas de lítio conhecidas — mas também marcadas pela vulnerabilidade do endividamento, muito desiguais e onde a Pandemia do Coronavírus teve impacto profundo. Em 2022, 32% da população da região como um todo vivia na pobreza e 13% na pobreza extrema.

—A ideia de fundo é que haja um novo contrato social e para isso os projetos devem ter a capacidade de reduzir desigualdades, problemas regionais e globais — defende Hernán Saenz, coordenador da Oxfam para relação União Europeia e América Latina e Caribe. Saenz afirma que o novo órgão de relação permanente entre UE e América Latina e Caribe deveria incluir contatos periódicos com a sociedade civil ou até a criação de um novo marco de contato entre os atores estatais, regionais, da sociedade civil, do mundo empresarial e financeiro.

— Qual é o objetivo da UE: competir com a China ou que a região como um todo tenha uma oportunidade? — pergunta Saenz.

O gigante asiático, que aumentou em 26 vezes os investimentos na América Latina entre 2000 e 2020 — é o grande elefante na sala. Não é mencionado no esboço do documento, mas a presença está implícita. “Em um momento de crescentes tendências autoritárias, a UE e a região da América Latina e do Caribe se posicionam como aliados-chave para fortalecer o sistema internacional baseado em regras e intensificar a ação conjunta para promover a paz, a segurança, a democracia e os direitos humanos”, diz o texto do esboço do documento.

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