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Por André Duchiade

No início de sua resposta militar à ida de Nancy Pelosi a Taiwan, a China quis deixar claro que fala sério e está disposta a ousar em suas ameaças à ilha autogovernada. Segundo o Ministério da Defesa em Pequim, 16 mísseis balísticos foram lançados do continente com o objetivo de testar suas "capacidades de ataque de precisão e negação de área". A princípio, autoridades em Taipé se referiram a 11 projéteis que caíram em suas águas, em dois pontos diferentes.

Segundo autoridades de Tóquio, os outros cinco foram parar na Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Japão, a sul de Okinawa. As atividades militares de países estrangeiros nessas áreas constituem uma zona cinzenta do direito internacional e não chegam a constituir uma ilegalidade.

Foi o Ministério da Defesa japonês, país que desenvolveu sofisticadas capacidades de monitoramento de mísseis desde os primeiros testes desses artefatos pela Coreia do Norte em 1998, que emitiu o primeiro informe — posteriormente confirmado por Taipé — da principal provocação chinesa no primeiro dia de exercícios militares previstos para durar até domingo: quatro dos mísseis chineses atravessaram a ilha de Taiwan por cima.

A manobra surpreendeu observadores das ações adotadas pelas Forças Armadas chinesas.

— Essa é uma ação sem precedentes. Pensava que Pequim guardaria essa opção para depois, para intensificar a escalada, conforme fosse necessário — disse Brian Hart, especialista em China do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington. — Isso representa um acirramento antes do previsto, e não é um bom sinal do que pode vir.

Não está totalmente claro quais foram os sistemas usados pela China. O Ministério da Defesa do país disse que foram mísseis Dong-Feng 15 (também conhecido como DF-15), que podem atingir alvos a até 800 quilômetros com precisão de 10 metros, transportando até 600 quilos de explosivos.

É possível, no entanto, que outros equipamentos também tenham sido empregados — a princípio, especulou-se também que o PCL 191, um sistema de lançadores múltiplos de foguetes (como o Himars americano, atualmente em uso pelas Forças Armadas da Ucrânia), tivesse sido usado.

A despeito dos temores de que os testes teriam o objetivo de privar Taiwan de seu espaço aéreo e marítimo, monitoramentos por satélite mostraram que embarcações e aeronaves continuaram a circular por Taiwan durante as atividades.

Segundo o jornal taiwanês Liberty Times noticiou antes dos testes, os voos internacionais e domésticos não seriam afetados por contarem com rotas coordenadas com o Japão e as Filipinas. Concluído o exercício, o Ministério da Defesa da China informou que suspendeu as restrições aéreas e costeiras.

A opção inicial pelos mísseis pode ser explicada pelo fato de esses sistemas serem de fácil mobilização, estando em maior prontidão do que as capacidades marítimas e aéreas. Além disso, produzem impacto midiático e propagandístico, como as fotos e vídeos divulgados por Pequim.

Do ponto de vista militar, no entanto, não aportam grandes novidades. Se acontecer, estima-se que a exibição das reais capacidades chineses seja nos próximos, com a combinação de atividades com armas no ar e no mar. Esses exercícios devem dar uma amostra de qual é a real capacidade chinesa de bloquear Taiwan.

— Essas serão manobras mais difíceis de ver do que os mísseis. Se conseguirem fazer um isolamento aéreo e naval, isso definirá um novo marco — disse o ex-analista da CIA no Leste Asiático e atual pesquisador do Atlantic Council John Culver, num painel do CSIS na manhã desta quinta-feira.

Após os testes de mísseis, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que 22 jatos chineses cruzaram o estreito em frente à ilha, no segundo dia seguido em que isso acontece. Esse tipo de manobra é comum, e o número de aeronaves ainda está muito abaixo do recorde de 70 registrado em janeiro. O quão perto elas se aproximarão da ilha, e durante quanto tempo cruzarão a linha imaginária que divide o estreito, serão fatores importantes a observar.

As ações nos próximos dias podem incluir voos tripulados sobre a ilha, uma manobra altamente arriscada, pois as aeronaves podem vir a ser abatidas, o que aumenta o risco de acirramento. Uma opção mais segura é o envio de drones não tripulados sobre Taiwan.

Segundo autoridades chinesas, o Exército de Libertação Popular (ELP), as Forças Armadas chinesas, também enviou uma esquadra incluindo ao menos um submarino nuclear para os exercícios em andamento.

O Ministério da Defesa de Taiwan disse que as suas Forças Armadas permanecem em estado de alerta e monitoram de perto as atividades chinesas. A ilha "manterá o princípio de se preparar para a guerra sem buscar a guerra e com uma atitude de não escalar conflitos e não causar disputas", disse o ministério em comunicado.

Segundo Culver, as tensões não devem se encerrar tão cedo, mas passarão para métodos menos visíveis, como ciberataques. A terceira e última crise no estreito se prolongou de junho de 1995 a março de 1996.

Nesse período, as ações chinesas vão tentar se equilibrar em uma linha tênue: intimidar Taiwan de forma suficiente, de modo a exibir sua disposição de usar força caso a ilha declare formalmente sua independência, mas sem desencadear uma guerra ou motivar uma intervenção dos Estados Unidos.

— A resposta chinesa ainda é calibrada e calculada de modo a não deflagrar um conflito direto — disse William Klein, que já chefiou a embaixada americana em Pequim e atualmente está na consultoria FGS Global.— Da perspectiva ocidental, parece muito agressivo, mas os chineses consideram a resposta calibrada.

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