Eleições EUA
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Por — São Paulo

Que Joe Biden venceria as prévias presidenciais democratas no decisivo estado da Geórgia eram favas contadas, assim como Donald Trump no flanco republicano. Também era pule de dez que o atual presidente alcançaria, na noite desta terça-feira, a maioria dos delegados para oficializar o que já era bem mais do que provável. Seu antecessor, por sua vez, fez o mesmo, madrugada adentro, após os resultados das primárias do Mississippi e do estado de Washington. Mil duzentos e vinte e seis dias depois das eleições de 2020, está combinado: Biden e Trump se enfrentarão novamente pela Casa Branca.

Mas eleições americanas são maratonas decididas nos detalhes. E para encontrar pistas capazes de iluminar o longo caminho até novembro é preciso ultrapassar as corretas manchetes desta terça-feira. No estado sulista, as mais aguardadas eram, entre os democratas, o comparecimento (leia-se empolgação) do eleitorado, especialmente o afro-americano. Do lado republicano, o tamanho da rejeição a Trump nos cruciais subúrbios. O dia terminou com sinais de preocupação para os dois lados.

Voltemos a 2020. Há quatro anos, Biden levou os 16 votos da Geórgia no Colégio Eleitoral, com vantagem de 11.779 votos. Guarde esse número. A recusa do quartel-general trumpista em aceitar derrota tão apertada (em um universo de quase 5 milhões de votos válidos) e as seguintes maquinações para anular o pleito levaram o ex-presidente, juntamente com aliados, a ser indiciado por 13 crimes (entre eles o de extorsão) no estado que acaba de vencer nas prévias da oposição, com pouco mais de 95% dos votos apurados, com quase 500 mil votos,.

Nesta quarta-feira, o juiz Scott McAfee decidiu anular seis denúncias contra Trump e seus aliados, uma delas referente ao telefonema que o ex-presidente fez ao Secretário de Estado da Geórgia, máxima autoridade responsável pelo pleito logo após os resultados terem sido divulgados. Como não há Justiça Eleitoral nos Estados Unidos, cada estado, em sua respectiva Constituição, decide quem comanda as disputas eleitorais. Ao New York Times, especialistas no tema afirmaram que a medida não enfraqueceu o cerne do caso — a acusação de extorsão movida contra todos os réus.

O próximo capítulo na Justiça local acontece até esta sexta-feira, prazo anunciado por McAfee para decidir se a advogada de acusação será desqualificada por envolvimento amoroso com o promotor do caso. O juiz é branco, os outros dois protagonistas da novela, negros.

A coalizão que Biden precisa repetir este ano tinha na linha de frente em 2020 eleitores afro-americanos, pouco mais de um terço do total, que rumaram às urnas como nunca antes, resultado de formidável esforço de mobilização. Juntaram-se a eles a maioria esmagadora dos latinos (10% dos eleitores) e da emergente classe média e média-alta dos subúrbios de Atlanta, engordada especialmente por ex-moradores da Nova Inglaterra e de Nova York atraídos por baixos impostos e pela multiplicação de vagas de emprego nas indústrias de tecnologia e startups. Atlanta se tornou o “Vale do Silício do Sul” e os democratas se beneficiaram da revolução.

Biden terminou a terça-feira uma vez mais largamente à frente no campo democrata, com quase 300 mil votos na Geórgia, 95% do total, com pouco mais de 95% dos votos apurados, mas uma fração dos 2,47 milhões que teve nas eleições gerais de 2020, ou mesmo dos 922 mil das primárias daquele ano no estado.

A comparação direta de números é inexata, pois não há agora, como há quatro anos, um competidor real, à época o senador Bernie Sanders, pela esquerda do partido. Mas líderes de grupos de mobilização de eleitores afro-americanos e latinos reforçaram nesta terça-feira que está bem mais difícil convencer eleitores a irem às urnas em novembro. Dentre os motivos principais, a sensação de que perderam dinheiro nos anos Biden em relação aos Trump. A recuperação mais acelerada da economia, a partir do segundo semestre do ano passado, não parece ter afetado a percepção dos eleitores de que eram menos pobres antes de 2020.

Republicano à frente

Pesquisa da rede CBS divulgada no dia das prévias no estado, mostra Trump à frente de Biden na Geórgia, no limite da da margem de erro, por 51% a 48%. Destaca-se o número pequeno, mas decisivo, em disputa tão acirrada, de eleitores do democrata em 2020, que dizem ter migrado para o republicano agora. Em sua maioria, motivados, além do bolso mais vazio, pela percepção de que Trump será mais eficaz em fechar as fronteiras do país e enfrentar o que acreditam ser o aumento da criminalidade, não comprovado em números.

Mês passado, a estudante de enfermagem Laken Riley, de 22 anos, foi assassinada no campus da Universidade da Geórgia. O venezuelano imigrante sem documentos Jose Antonio Ibarra foi preso pelo crime, e a campanha trumpista berra ser esta prova trágica do fracasso da Casa Branca na política de imigração. Os democratas reagiram com números oficiais. Mostraram que imigrantes (inclusive os que entram no país ilegalmente) cometem muito menos crimes do que cidadãos americanos. E também apontam o que denunciam ser o oportunismo dos republicanos, liderados por Trump, ao não aprovarem o endurecimento das políticas de imigração do país proposto pelo governo Biden, justamente para poderem usar o tema como arma política em ano eleitoral.

Estratégia que, mostram as pesquisas, tem funcionado. Os democratas também se alarmaram com aspecto curioso da consulta da CBS que mostra, por incrível que pareça, a maioria dos eleitores da Geórgia, palco de uma das mais graves investigações sobre tentativa de interferência no resultado das eleições de 2020, identificando Trump, e não Biden, como defensor dos valores democráticos. A proteção da democracia americana, após os ataques ao Capitólio, em janeiro de 2021, e à recusa do ex-presidente em aceitar a derrota há quatro anos, propagando uma fraude que não ocorreu, é um dos pilares da campanha de reeleição de Biden.

Ao mesmo tempo, a reação governista à consolidação da imagem do atual presidente como um ancião com capacidade reduzida para seguir no comando do país segue a todo vapor. Enquanto os eleitores da Geórgia iam às urnas, deputados democratas pressionaram duramente, em audiência na Comissão de Justiça da Câmara nesta terça-feira, o promotor especial Robert Hur. Embora não tenha encontrado razão para denunciar o democrata, em investigação sobre uma suposta apropriação de documentos oficiais pelo presidente, acusação parelha à que sofre Trump, Hur, filiado ao Partido Republicano, foi acusado pelos governistas de politizar suas considerações públicas sobre a investigação. Nelas, ele citou lapsos de memória de Biden. O tom dos deputados governistas foi o mesmo usado pelo próprio presidente em seu discurso do Estado da União, na semana passada.

Movimento pró-Palestina no Michigan manda duro recado ao presidente dos EUA, Joe Biden

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Na oposição, por sua vez, a vitória inequívoca do ex-presidente na Geórgia nesta terça-feira não esconde a dor de cabeça no QG trumpista. A ex-governadora da Carolina do Sul Nikki Haley, que anunciou na semana passada, após as derrotas da Super Terça-Feira, o fim de sua campanha à Presidência, recebeu, mesmo assim, mais de 13% dos votos nas prévias republicanas. Boa parte deles justamente nos subúrbios onde Trump precisa multiplicar seus votos para não repetir a derrota de 2020 para Biden. Em alguns dos condados cruciais para novembro, próximos de Atlanta, a já não mais candidata teve, mesmo assim, 40% dos votos.

Estrategistas republicanos, de forma reservada, dizem que a campanha acredita poder recuperar nos próximos meses boa parte de quem cravou Haley nesta terça-feira no estado, enfatizando a disseminação do receio de uma explosão de criminalidade nas áreas metropolitanas do estado e a idade avançada de Biden.

Na Geórgia, a enorme zona rural do estado segue firme e forte na base trumpista. Mas esses mesmos estrategistas, alguns com décadas de experiência na política local do estado sulista, reconhecem que o obstáculo maior é a defesa do direito ao aborto pela maioria desses eleitores, bandeira democrata.

Trump celebrou nesta terça-feira a conquista da maioria dos delegados rumo à convenção nacional do partido em julho. E, também, os quase meio milhão de votos na Geórgia, prêmio maior desta terça-feira, já que os demais estados têm destino provável em novembro (Washington e Havaí para os democratas, Mississippi para os republicanos). Mas quem entende do riscado na campanha da oposição sublinha mesmo as mais de 78 mil pessoas que, segundo as projeções, marcaram um X em Haley no estado sulista. Parece pouco. Mas é mais do que sete vezes a diferença que deu a vitória a Biden sobre Trump em 2020.

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