Clima e ciência
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Por Celso Athayde*

Sempre que a Cufa (Central Única das Favelas) precisa atuar em emergências nas favelas, a partir de fenômenos como enchentes, fortes chuvas, queimadas, cortinas de fumaça, ventanias, desabamentos, entre outros, fica nitidamente visível o poder de resposta que temos com a mobilização para mitigar, ainda que parcialmente, os estragos vividos pelas comunidades atingidas, e fica evidente a urgente necessidade de investimento em infraestrutura dentro desses locais. Investimentos que salvariam vidas e criariam condições mais dignas de existência. Enfim.

Formalmente, eu não faço mais parte da Cufa, instituição que fundei, mas sigo colaborando como voluntário. E, nesse tipo de catástrofe, me aproximo muito da organização e suas lideranças. E tenho a oportunidade de ver a capacidade de criar soluções rápidas e eficazes dos membros e voluntários da Cufa, porém me causa tristeza ao ver o sofrimento das pessoas, em sua maioria habitantes de territórios por causa de catástrofes já previstas. Seja no Sul da Bahia, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, ou no Litoral Paulista. Regiões que a Cufa encampou ações humanitárias, por conta desse tipo de tragédia.

De Norte a Sul do país, as ocorrências se repetem anualmente como se houvesse uma espécie de Calendário Oficial de Desastres Naturais. A maioria destes eventos, claro, já são previstos por toda a tecnologia que as gestões possuem em órgãos como o INMET. Então, não adianta prever sem precaver. Até porque, essas incidências se repetem, a cada ano, com maior agressividade e só se atua quando o problema não pode mais ser ignorado.

As nações e as multinacionais agora usam o termo “Resiliência Climática” para denominar o que a favela conhece simplesmente como “sobreviver”. A resiliência climática seria algo como lidar com as mudanças e transformações dos espaços de maneira saudável. Mas, essas medidas de mitigação dos impactos da crise climática poucas vezes passam por lugares que chamo como base da pirâmide, e os moradores desses espaços, novamente, acabam ficando de fora dos debates. Assim como já é sabido que os países mais pobres pagam o preço das mudanças climáticas causadas pelos países mais ricos, a população desses territórios paga um preço alto no momento que tempestades e vendavais atingem com força essas regiões.

Tal qual os morros e as favelas, as cidades, em especial suas áreas centrais e urbanas, não foram planejadas. Assim, não passam no teste de uma chuva torrencial ou de um vendaval. As fachadas das lojas desabam sobre veículos, as marquises caem sobre as calçadas, os semáforos apagam, o caos se instala no trânsito e é curioso notar que, diante de um cenário como esse, somente as favelas são marginalizadas no discurso dos entendidos e estudados em urbanismo e arquitetura.

Seria uma grande contribuição, não só para as favelas, mas para toda a sociedade, que esses estudados em urbanismo e arquitetura pensassem e sugerissem soluções para nossos territórios, em parcerias com a iniciativa privada, para a criação de sistemas de drenagem eficazes, por exemplo, ou cobrar melhorias no saneamento básico e nas condições sanitárias, que vivem alguns moradores de favela. É o mínimo que esperamos de uma resiliência climática que considere os direitos constitucionais de toda uma população, não só de parte dela.

Sempre vão chamar estes territórios de áreas de risco pelo seu crescimento desordenado. Mas como denominar a (des)ordem de um centro comercial, onde o bueiro é o primeiro a estourar?

A resiliência climática do morador de favela tem sido desde sempre habitar o inóspito, abandonado tanto pelo setor público, quanto pelo setor privado, que há séculos ignoram o potencial transformador das favelas. Não existe combate à crise climática sem que todos os atores se sentem à mesa. E não existe resiliência sem que todos os territórios sejam tratados com igualdade. Que sejamos capazes de sobreviver, enquanto essa tal oportunidade plena não chega na favela.

*Celso Athayde é fundador da Cufa (Central Única das Favelas)

*O artigo faz parte de uma série de 12 textos que explicam e detalham a Convenção da ONU sobre a Mudança do Clima (COP) e as negociações para as mudanças climáticas. A seleção de articulistas e a edição foram obra da Alter Conteúdo.

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