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Casamento de William e Kate mostra uma família real britânica adaptada à realidade do século XXI

Kate e WilliamAP
Kate e WilliamAP

LONDRES - Como bem brincou um dos muitos comentaristas de assuntos reais ouvidos recentemente pela mídia britânica, não será num táxi que Kate Middleton chegará à Abadia de Westminster para a cerimônia de casamento com o príncipe William - na verdade, seu transporte será uma das muitas limusines pertencentes à rainha Elizabeth II. Mas a decisão de se tornar a primeira noiva num enlace real, desde 1963, a dispensar o uso de uma carruagem simboliza o esforço do casal para mostrar uma face pública mais moderna e menos ostentatória da Casa de Windsor.

VIAGEM: O roteiro inspirado no casamento de William e Kate, no País de Gales

ESPECIAL KATE: A plebeia que fisgou o príncipe William

E não apenas porque o casamento, no dia 29, ocorre num momento de economia cambaleante e austeridade para a maioria dos 60 milhões de súditos da rainha nas Ilhas Britânicas. Há 30 anos, por ocasião das bodas do pai e da mãe de William - o príncipe Charles e a princesa Diana - o cenário era bastante semelhante, com Londres testemunhando grandes protestos públicos. O que não impediu, porém, que Lady Di subisse ao altar num vestido de noiva avaliado no equivalente a R$ 64 mil, e com um anel de noivado de R$ 220 mil na mão direita. Difícil imaginar uma conta semelhante agora (tirando os custos milionários com a segurança), até porque o mesmo anel foi dado à noiva, ainda que muito mais por homenagem à falecida princesa.

Mas a verdade é que os Windsor têm atualizado sua pompa e circunstância. E um dos grandes exemplos pode ser visto novamente entre pai e filho. Enquanto o príncipe Charles passou os últimos anos de sua vida envolvido apenas com os compromissos protocolares e atividades de caridade - à exceção de pequenos projetos, como sua linha de produtos orgânicos - William tem uma vida relativamente plebeia: mesmo depois do casamento, continuará trabalhando como piloto de resgate da Real Força Aérea, o que inclusive forçará ele e Kate a morarem fora de Londres e dos palácios da realeza - mais precisamente no vilarejo de Anglesey, no País de Gales, próximo à base em que o príncipe serve.

E embora Kate tenha deixado, no início do ano, o emprego de webdesigner e fotógrafa na empresa de produtos para festas de sua família, a fim de se dedicar exclusivamente às atividades reais, a futura rainha chegará ao altar numa situação bem diferente das antecessoras, incluindo Diana. Aos 29 anos, ela se casará tendo ido à universidade e experimentado o mercado de trabalho, ao passo que Lady Di - embora já tivesse trabalhado até como babá quando conheceu o príncipe - tinha um pé dentro das altas rodas da aristocracia londrina.

A origem plebeia de Kate, filha de uma aeromoça e um despachante da British Airways, e primeira não-aristocrata a entrar para a família real em 350 anos, também é um sinal de modernização - mais forte até do que as recentes criações de websites e do notório canal da família real no YouTube. O próprio William, numa rara entrevista para um documentário levado ao ar no ano passado no canal Sky 1, debateu tanto com o governo quanto com a família real opiniões sobre o futuro.

- Às vezes gosto de deliberadamente discordar das ideias que me apresentam, pois muitas são completamente demodé - disse William. - Não há razão para deixarmos de pensar em como podemos fazer as coisas de maneira diferente.

Uma das decisões tomadas pelo príncipe mostrou justamente essa preocupação: enquanto Charles, por exemplo, tem à disposição um exército de 149 empregados, incluindo 25 valetes pessoais, William e Kate viverão em Anglesey praticamente acompanhados unicamente do pessoal de segurança que compulsoriamente protege a família real.

- E o momento é realmente para que William e Kate comandem uma volta ao básico para monarcas modernos, que é um papel mais cerimonial, sem algum desejo de celebridade. A rainha Elizabeth II, que nunca sentiu a necessidade de expressar opiniões, deve ser seguida como exemplo - enfatiza Craig Brown, comentarista do jornal "Daily Mail''.

A liderança da soberana, de 85 anos, é apontada com a principal causa para a altíssima popularidade da monarquia junto ao público britânico. Uma medição do instituto de pesquisas YouGov, feita em 2006, revelava que 19% dos britânicos gostariam de ter uma república após a morte da rainha.

Popularidade da monarquia subiu 6 pontos percentuais

O mesmo instituto fez outra recente pesquisa em que o percentual caiu seis pontos percentuais. O fato de que a queda no fervor republicano coincide com a ascensão de William - nos últimos dois anos, ele participou de uma série de compromissos oficiais, incluindo uma visita oficial à Austrália, representando a avó - sugere uma ajuda do neto ainda maior do que se imaginava.