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Extremistas americanos viajaram para a Europa, diz chefe do FBI

Documentos de inteligência apontam que integrantes das milícias chegaram a atuar ao lado de separatistas pró-Rússia na Ucrânia; Christopher Wray destacou papel das redes sociais no contato entre os grupos transnacionais
Diretor do FBI, Christopher Wray, presta depoimento na Comissão de Inteligência da Câmara, em painel sobre ameaças globais Foto: AL DRAGO / AFP
Diretor do FBI, Christopher Wray, presta depoimento na Comissão de Inteligência da Câmara, em painel sobre ameaças globais Foto: AL DRAGO / AFP

WASHINGTON — Supremacistas brancos e grupos de extrema direita dos EUA agiram para estabelecer laços com organizações semelhantes no exterior, no que as autoridades americanas veem como estratégia para expandir suas ações dentro e fora do país — alguns  chegaram a viajar para a Europa onde receberam treinamento político e militar.

Em depoimento à Comissão de Inteligência da Câmara, Christopher Wray, diretor do FBI, destacou que as organizações de extrema direita baseadas em solo americano possuem, hoje, uma extensa rede internacional, baseada em contatos diretos com grupos semelhantes e em uma presença nas mídias sociais.

— As redes sociais se tornaram, de muitas formas, um amplificador crucial para o extremismo doméstico violento, assim como o foi para influências estrangeiras malignas — afirmou Wray — As mesmas coisas que atraem as pessoas por boas razões também são capazes de causar todos os tipos de males.

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Os comentários de Wray na Câmara ocorrem em meio a uma série de iniciativas por parte do governo Biden contra a ameaça do extremismo doméstico, que se tornou mais do que evidente na invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro , quando Biden seria confirmado o vencedor da eleição presidencial de 2020. Na raiz do ataque estavam as suspeitas infundadas, plantadas pelo ex-presidente Donald Trump, de que teria havido uma fraude na eleição vencida por Joe Biden em novembro do ano passado. A invasão, inclusive, ocorreu horas depois de um discurso em que o republicano exortou seus apoiadores a irem até o Congresso para protestar contra a confirmação do democrata.

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No mês passado, em um relatório de inteligência ao Congresso, a Casa Branca destacou os supremacistas brancos e as milícias armadas como as principais ameaças à segurança nacional — ao mesmo tempo, o Departamento de Segurança Interna está em meio a uma revisão dos mecanismos para lidar com o extremismo doméstico, destacando um percentual de seu orçamento para combatê-lo.

Desde a campanha à Presidência, Biden aponta a ameaça de grupos supremacistas e radicais de extrema direita como uma das maiores questões a serem enfrentadas pelas autoridades. Em seu plano de governo, defendia uma lei que, segundo ele, “respeite a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que se comprometa a acabar com o terrorismo doméstico, assim como precisamos parar com o terrorismo internacional”.

Conexão estrangeira

Durante seu depoimento, Wray apontou ter encontrado evidências de que alguns dos extremistas viajaram à Europa recentemente, onde receberam treinamento ideológico e, especialmente, militar. Segundo documentos confidenciais obtidos pela agência Reuters, alguns deles chegaram a lutar no Leste da Ucrânia, ao lado de separatistas apoiados pela Rússia. Sem apontar nomes, Wray afirmou que os extremistas, em especial os supremacistas brancos, são “atores com as mais persistentes e preocupantes conexões transnacionais ”.

O extremismo ligado aos supremacistas brancos também mereceu uma longa menção no relatório anual sobre ameaças à segurança nacional dos EUA, publicado na terça-feira, pelo escritório da diretora da Inteligência Nacional, Avril Haines. Ali, ela aponta que os extremistas violentos “possuem as mais constantes conexões transnacionais, através de comunidades online, com indivíduos que possuem as mesmas ideias no Ocidente”, destacando que a ameaça se intensificou desde 2015.

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Ao falar sobre a invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro, Wray apontou que, além das investigações sobre o ataque que provocou a morte de cinco pessoas, estão analisando novas ameaças à sede do Legislativo americano. Segundo ele, a agência está recebendo “uma avalanche de denúncias”.