Patrícia Kogut
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“A mulher na parede”, minissérie da BBC lançada pela Paramount+, é uma ficção com uma história real impressionante como pano de fundo. Seu enredo é ambientado no início dos anos 2000, na vila de Kilkinure, nos arredores de Dublin. Lá, como em outras cidades irlandesas, funcionou um Asilo de Madalena. Geridas por freiras, essas instituições se multiplicaram pelo país a partir do século XVIII. Ainda na década de 1990, elas recebiam aquelas mulheres que se convencionava chamar de “caídas”. Eram moças solteiras grávidas, prostitutas ou pessoas vistas de alguma forma como moralmente degradadas.

As religiosas se encarregavam dos partos e organizavam as adoções dos bebês arrancados das mães logo depois de nascerem. As famílias acreditavam que as filhas estavam estudando e boletins escolares falsos eram forjados.

Esses locais eram sustentados por lavanderias industriais, um negócio que ficava ainda mais lucrativo porque a mão de obra utilizada era escrava. Só nos anos 2000, o governo irlandês reconheceu o envolvimento do estado nisso tudo e fez um pedido formal de desculpas às vítimas.

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A protagonista é Lorna (Ruth Wilson, de “The affair”), uma costureira. Ex-interna de um desses conventos, ela teve uma filha 30 anos antes, mas só viu o bebê por poucos instantes depois do parto. Somos apresentados a ela durante um acesso de sonambulismo. Logo entendemos que a personagem, uma solitária, é assombrada por perturbações mentais. Vive no degredo social mais por isolamento voluntário do que por sofrer hostilidades. É uma sobrevivente.

Ruth Wilson — Foto: Divulgação
Ruth Wilson — Foto: Divulgação

Um dia, um padre de Kilkinure aparece assassinado. E o detetive Colman Akande (Daryl McCormack) é deslocado de Dublin para supervisionar os trabalhos junto com o sargento local, Massey (Simon Delaney). Colman, órfão, foi criado numa escola religiosa. Conheceu o morto na infância e o considerava um amigo. Ao longo da investigação, entretanto, descobre segredos obscuros do passado do religioso. Assim, a narrativa vai se capilarizando em subtramas e armando seu suspense.

A história das lavanderias diz muito de uma Irlanda que sofreu com conflitos religiosos até bem recentemente. Essa inspiração na realidade é um ponto forte da série. Ruth Wilson é outro. Ela domina uma personagem desafiadora. Lorna é uma mulher de poucas palavras, que perdeu a articulação porque foi esmagada pelas circunstâncias e oprimida desde jovem. A atriz tem muita presença cênica e desempenha seu papel com emoção.

O problema de “A mulher na parede” é a pretensão. Seu ritmo lento exige que o espectador tenha paciência e insista até se deixar envolver. A direção é outro freio: a busca pela fotogenia das paisagens e pela estetização extrema atrapalha o correr da história.

Vale conferir, mas sem grandes expectativas.

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