Patrícia Kogut
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Nada como a vida real para alimentar os roteiros mais surpreendentes. Refiro-me à série de true crime “The Jinx — A vida e as mortes de Robert Durst”, cuja segunda temporada acaba de chegar à Max. A primeira parte — de seis episódios — foi exibida em 2015 na HBO. Ela recebeu seis indicações ao Emmy e ganhou duas estatuetas, uma de melhor documentário e outra de montagem, e com todos os méritos. Agora, de novo, a produção merece toda a sua atenção.

Há uma avalanche de programas sobre crimes reais no streaming. Os casos, mais ou menos célebres e narrados com maior ou menor dose de charme, invariavelmente atraem o público. Alguns deles, no entanto, são excepcionais. Isso se dá não apenas pelo acontecimentos retratados. Mas também pelos bastidores de filmagem. Aqui é assim.

A série conta a história do milionário Robert Durst, suspeito da morte da mulher, em 1982, e da melhor amiga, em 2001. Ele também foi acusado de matar e esquartejar um vizinho em 2002. Só tinha sido julgado pelo terceiro crime, mas conseguiu ser absolvido alegando legítima defesa. Estava em liberdade em 2010, quando o cineasta Andrew Jarecki, rodou o longa “All good things”, com Ryan Gosling e Kirsten Dunst. A trama, sobre Durst, era parcialmente ficcionalizada. Pouco depois do lançamento do filme, Jarecki foi procurado pelo próprio Durst, que propôs participar de um documentário. Assim, veio “The Jinx”.

Robert Durst e Nick Chavin — Foto: Arquivo
Robert Durst e Nick Chavin — Foto: Arquivo

Jarecki tinha conseguido provas quase irrefutáveis da culpa de Durst, que estava se sentindo encurralado. Quando a produção estava em seu último dia de gravação num apartamento em Nova York, Durst pediu para fazer uma breve interrupção. Queria ir ao banheiro. A equipe ficou na sala, esperando. E o que era para ser um intervalo bobo se mostrou uma virada e tanto. Esquecendo que estava microfonado, Durst falou sozinho. Mais do que isso, murmurou uma confissão: “Eles me pegaram. Eu matei eles todos, claro”. Com isso, a polícia voltou a investigar.

Durst foi para a cadeia. Jarecki seguiu filmando e reuniu farto material. Obteve as fitas com os telefonemas do criminoso para amigos, da prisão. E fez novas entrevistas. Tudo isso ajuda a compor essa segunda temporada eletrizante. Entre as pessoas que falaram está um dos melhores amigos de Durst, Nick Chavin, um ex-cantor de country-porn (pois é, leitor, existe esse gênero musical). Há ainda o testemunho de uma ex-namorada e da ex-mulher do assassino.

O impacto que o documentário teve na vida real de Durst multiplica a força de “The Jinx” e sua legitimidade. Essa não é uma prerrogativa dessa produção. O mesmo efeito marcou “Making a murderer” (na Netflix), que acompanhou a investigação de um crime envolvendo Steven Avery, no Wisconsin. O sucesso da série (também vencedora de um Emmy) teria sido determinante para influenciar a opinião pública e o julgamento.

É true crime e bota true nisso.

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