Patrícia Kogut
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Série alemã lançada pela Netflix, “Depois da cabana” chegou provando que nem todas as tramas policiais precisam repetir esquemas. Originalíssima, ela desafia o mais treinado dos espectadores e dá uma rasteira nas fórmulas que tornam previsíveis tantas produções. Não à toa, escalou rapidamente o ranking dos programas mais vistos da plataforma e chegou ao primeiro lugar. É um daqueles enredos magnéticos, para começar e não parar mais. Os seis episódios contabilizam cerca de 50 minutos cada, e o mistério segue sem resolução até o último capítulo. Recomendo com entusiasmo.

A história é adaptada do romance policial “Liebes kind”, da escritora alemã Romy Hausmann, também um best-seller.

Nas cenas iniciais, somos apresentados a uma mulher na casa dos 30, Lena (Kim Riedle), trancada num cativeiro com Hannah (Naila Schuberth), de 12 anos, e Jonathan (Sammy Schrein), de 8.

O lugar reproduz o interior de uma casa, mas sem luz natural. É um ambiente sombrio e opressivo. Logo somos informados de que os três são controlados por um homem. Ele dita as regras de comportamento, traz a alimentação e regula até mesmo o oxigênio que entra nesse confinamento. As crianças agem com relativa naturalidade, brincando como se estivessem levando uma vida normal. Mas a mulher se desespera e mostra fragilidade emocional. Quando ela cai na histeria, é consolada pela menina, dona de uma calma e equilíbrio surpreendentes para a situação e para a sua idade. A fuga da mulher pela floresta durante a noite faz disparar a ação policial.

Em outra ponta, somos apresentados aos pais de Lena, jovem estudante desaparecida13 anos antes. Karin (Julika Jenkins) e Matthias (Justus von Dohnanyi) vivem a angústia da falta absoluta de notícias ao cabo de uma investigação infrutífera. O policial que liderou tudo, Gerd Bühling (Hans Löw), volta a campo.

Qualquer frase a mais seria spoiler. Mas posso dizer que, em cada episódio, tudo aquilo que o espectador e os investigadores acreditam ser a verdade não é.

“Depois da cabana” se precipita com a dinâmica de um périplo frenético num labirinto. A dramaturgia se abre em mil caminhos, sem, entretanto jamais chegar a um fim de linha. Os mistérios brotam de todos os lados o tempo inteiro. O labirinto que mencionei acima, claro, é metafórico. Mas o esconderijo que aparece no início da história sugere a existência de um monstro pronto para atacar até quando não está ali, visitando fisicamente as suas vítimas. Sua presença continua pairando, mesmo depois que os personagens deixam o cativeiro. Assim, a série se aproxima de um filme de terror, embora não seja.

Mistério com tintas de ficção, ela aborda temas bem reais, como as relações abusivas e o estresse pós-traumático. Personagens com muitas camadas e dimensão humana, interpretações de primeira e cinematografia de qualidade colaboram para o ótimo resultado final.

Mais recente Próxima A volta de 'Virgin River', com romance e mistérios. Cotação: 4 estrelas (boa)