Patrícia Kogut
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Por Patricia Kogut

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O ritmo de “As flores perdidas de Alice Hart” é enganoso. Seus personagens se deslocam em slow motion e a câmera passeia devagar por cada dobrinha do figurino e detalhe da cenografia. Porém, mesmo o espectador mais ansioso ficará capturado nos primeiros momentos. É que por trás desse fluxo aparentemente sonolento, a ação se precipita. Assim, já nos minutos iniciais, acontecem mortes, explosões de alegria e de fúria, incêndios e outros solavancos. A minissérie australiana em sete episódios tem quatro disponíveis no Prime Video da Amazon e merece a sua atenção.

Uma das forças da produção é Sigourney Weaver. Colecionadora dos mais importantes prêmios do cinema e da televisão, ela passou os últimos anos sendo vista em produções de ficção científica (como as da “Avatarolândia”). Agora, mergulha nesse drama irrestrito com o mesmo impulso.

A atriz interpreta June, uma matriarca de espírito endurecido, mas capaz de gestos de generosidade e de imensa coragem. Todos esses traços, embora marcantes, não ficam evidentes de cara. 

A personagem é avó de Alice (na infância, Alyla Browne, depois, Alycia Debnam-Carey). A menina morava com os pais numa área isolada quando um incêndio suspeito vitima os dois.

Ela é levada então para viver com June, com sua companheira, Twig (Leah Purcell), e com a filha adotiva delas, Candy (Frankie Adams). A nova casa da criança é o Campo dos Espinhos, uma fazenda cujo endereço não consta dos mapas oficiais.

É que o lugar serve de abrigo a mulheres que fogem da violência doméstica e do preconceito por serem lésbicas. E também a egressas do sistema prisional que não conseguiram se recolocar no mercado. Resumindo, June vive para dar a mão e para conferir ordem ao desamparo. Ela cura feridas. Essa sua vocação solidária está simbolizada nas flores que cultiva para arrumar em buquês cheios de significados.

“As flores perdidas de Alice Hart” é um enredo abertamente feminista.

A trama demora a se deixar decifrar. A tela de mistério que se interpõe entre o enredo e o espectador é concreta. Ela se manifesta na fotografia, que estetiza tudo e constrói um ambiente de fábula. É como se uma textura visível embalasse as cenas. Isso ajuda a transportar o público para lugares remotos de uma Austrália rural. Há plantações imensas e coloridas, no campo e em estufas, o sol invade as janelas e entra dentro das casas. É tudo muito bonito. 

A mão pesada da direção colabora para produzir todo esse encantamento. Contudo, ela também atrapalha. É que falta espontaneidade a sequências que mereceriam mais suor e “sujeirinhas”. Há ainda personagens em excesso — são muitas as mulheres na fazenda. Essa superpopulação impede que as tramas laterais sejam devidamente exploradas.

Não conto mais para evitar o spoiler: o suspense e os segredos de família são iscas infalíveis aqui.

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