Passeio guiado pela Pequena África emociona público com história da escravidão no Rio

'Quando as pessoas veem as ossadas dos quase 40 mil escravizados aqui, ficam tocadas', diz guia do Instituto Pretos Novos, que organiza visitas gratuitas aos sábados

Por Rayane Rocha — Rio de Janeiro


O Jardim suspenso do Valongo, no bairro da Saúde, está entre os pontos visitados no circuito guiado Ana Branco/Agência O Globo

“O carioca não conhece a sua própria cidade”, diz Rafael Moraes, turismólogo do Instituto Pretos Novos (IPN), que até o final de agosto promove, aos sábados, visitações guiadas gratuitas pela Pequena África, entre os bairros da Gamboa e Saúde. Batizado de Circuito de Herança Africana, o programa tem como um dos pontos altos justamente o final, o Cemitério dos Pretos Novos, o maior cemitério de pessoas escravizadas do continente americano.

— Quando as pessoas veem as ossadas dos quase 40 mil escravizados aqui, se emocionam. É um turismo de memória, que as toca. Essa história foi negada para a gente por muitos anos — destaca Rafael.

Com cerca de duas horas de duração, o projeto criado pelo IPN, em 2016, se debruça sobre a Zona Portuária do Rio e os vínculos socioculturais do porto com os africanos escravizados.

O ponto de encontro é o Largo São Francisco da Prainha, em frente à estátua de Mercedes Baptista, a primeira bailarina negra do Theatro Municipal. Dali, o grupo segue até a Pedra do Sal

— As pessoas conhecem a Pedra do Sal por conta das rodas de samba, principalmente o Samba da Resistência. Com a visita, entendem o motivo da roda ser ali e a importância da pedra para a região — fala, sem dar spoiler.

Depois, os visitantes sobem o Morro da Conceição e passam por lugares como o Jardim Suspenso do Valongo e o Espaço Cultural Casa da Tia Ciata, figura importante na cultura negra brasileira e na história do Samba. Na sequência, é a vez do Largo do Depósito, do Mercado Escravagista do Valongo e do Cais do Valongo. Este último — o principal símbolo da chegada dos escravizados no Rio, como pontua Moraes —foi eleito patrimônio histórico da humanidade pela Unesco.

Em seguida, os guias levam os participantes até as Docas Pedro II e a Praça da Harmonia, palco da Revolta da Vacina em 1904. Até, enfim, terminar no cemitério.

Para participar , é preciso retirar o ingresso gratuitamente pelo site do Instituto Pretos Novos. O circuito faz parte da programação regular do IPN, que organiza passeios de terça a sábado para ao menos 10 pessoas, por R$ 70, cada.

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