Peixada à beira-mar, criação de passarinhos e sinuca: Ronnie Lessa cita supostos encontros com irmãos Brazão; veja vídeo

Defesas de conselheiro e deputado sustentam que versão apresentada por ex-policial não traz elementos de provas e que 'jamais existiu proximidade entre eles'

Por — Brasília


O ex-policial militar Ronnie Lessa, durante depoimento prestado em delação premiada Reprodução

No acordo de delação premiada firmado com a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República (PGR), Ronnie Lessa falou sobre supostos encontros mantidos com o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), nos últimos 25 anos. Em um dos depoimentos, o ex-policial militar pontuou detalhes dos locais visitados pelos três, sem apresentar, no entanto, provas dessas reuniões.

Lessa dá detalhes de encontros com os irmãos Brazão:

Ronnie Lessa cita encontros com irmãos Brazão

Lessa está preso desde 2019 por ter executado a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 2018, no Estácio, Região Central do Rio. Aos investigadores, ele apontou os irmãos Brazão como mandantes do crime contra a parlamentar, que teria sido motivado por entraves à expansão fundiária em bairros da Zona Oeste da cidade.

A defesa de ambos nega participação no homicídio, sustenta que a versão apresentada pelo ex-policial não traz elementos de provas e afirma que "jamais existiu proximidade entre eles".

No anexo, ao qual O GLOBO teve acesso, o ex-PM atribui a construção de um criatório de passarinhos curiós e bicudos, em um local conhecido como Chacrinha, em 1999, ao início de sua ligação com o conselheiro e o deputado. Na ocasião, os irmãos possuíam um haras a cerca de 50 metros do local.


“Da obra [da casa] do Santiago você via o haras. Então, quer dizer, aquele ambiente ali de passarinho, cavalo e mata, porque é um lugar que, se não tivesse favelizado, era um lugar bonito, então aquele ambiente ali era uma coisa bacana até para respirar. Virou uma frequência”, explicou aos investigadores.

Terrenos renderiam R$ 100 milhões a Lessa:

Lessa diz que venda de terrenos pela milícia renderia 20 milhões de dólares

No depoimento, Lessa cita ainda o ex-policial militar Edmilson Oliveira da Silva, o Macalé, também supostamente envolvido no atentado contra Marielle e morto em 2021. Na época, ele era lotado no 9⁠º BPM (Rocha Miranda), responsável pelo policiamento ostensivo da região.


“Lá eu me aventurava a ter um passarinho ou outro, mas meu negócio era mais beber cerveja e jogar sinuca. Porque ali tinha sinuca e tinha cerveja sempre gelada. Então, foi nesse ambiente que conheci os Brazão, os irmãos”, contou Lessa.

Irritação de supostos mandantes:

Demora em executar plano para matar vereadora Marielle Franco irritou os irmãos Brazão

Como mostrou o G1, como Chiquinho também criava aves, essa seria, de acordo com as investigações da PF, uma das situações que atrelariam Ronnie Lessa aos irmãos Brazão. O G1 também apontou que uma testemunha confirmou aos agentes esses encontros entre os três. 

Ainda na delação, o ex-PM também chegou a relembrar que esteve com o conselheiro e o deputado em almoços em um quiosque após pescarias realizadas na Praia dos Amores, no início da orla da Barra, também na Zona Oeste. 

Ainda nesse anexo, o ex-PM atribui a Macalé a intermediação do encontro entre o trio para tramar o homicídio de Marielle. Embora sejam citados três encontros com esse objetivo específico, que teriam ocorrido próximo a um hotel na Barra da Tijuca, os investigadores não conseguiram comprová-los, passados quase seis anos do crime.

Como mostrou o Fantástico, da TV GLOBO, no mesmo depoimento, Lessa disse à PF que, como pagamento para a morte da parlamentar, teria recebido dos irmãos Brazão a oferta de um loteamento clandestino, que também acabou não se concretizando. O ex-PM está preso desde 2019 pela execução de Marielle e de seu motorista, Anderson Gomes.

As táticas para o crime:

Ronnie Lessa: homicídios tinham troca de celulares e carros circulando para evitar reboque

Em nota, o advogado Cléber Lopes, que defende Chiquinho Brazão, informou que "jamais existiu relação de proximidade entre o deputado e Ronnie Lessa".

“Não há como afirmar, evidentemente, que ambos nunca estiveram no mesmo ambiente, sobretudo em razão da extensa carreira pública de Chiquinho no Rio de Janeiro. Aliás, é impossível fazer prova de fato negativo. Embora Ronnie Lessa afirme ter tido encontros com o Deputado e conhecê-lo de longa data, vale o registro de que o mesmo Ronnie Lessa, há pouquíssimo tempo, declarou em juízo, ao ser interrogado em razão dos fatos que vitimaram a Vereadora Marielle Franco, que nunca esteve com o Chiquinho e que não o conhece "nem de vista”, para ser fiel aos termos utilizados.”, disse, no comunicado.


A defesa se refere a uma audiência ocorrida em outubro de 2019, no Tribunal de Justiça no Rio. Na época do interrogatório, ao ser questionado, ele negou conhecer os irmãos Brazão.

A participação de Rivaldo Barbosa:

'Rivaldo é nosso', relata Lessa, reproduzindo suposto diálogo com Domingos Brazão

Já os advogados Marcio Palma e Roberto Brzezinski, que representam Domingos Brazão, também negaram a proximidade do parlamentar com o ex-policial militar.

“Quanto aos encontros narrados por Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle Franco, a defesa reitera não existirem elementos que sustentem a presença de Domingos Brazão em qualquer um deles, circunstância que reforça a ausência de credibilidade do relato prestado por um notório matador e traficante de armas em busca de benefícios legais.”, disseram, na nota.

Mais recente Próxima Mapa da fome no Rio: meio milhão de pessoas na cidade se alimentam apenas uma vez por dia ou não têm o que comer