Forró 'pra viagem' na São Salvador: quarteto toca em caminhão de mudanças e diverte passantes

Cantor, compositor e sanfoneiro Paulo Grande Solo faz de palco seu veículo de frete, estacionado em praça de Laranjeiras

Por Natália Boere — Rio de Janeiro


Luiz Garcia (à esquerda), Grande Solo, Luiz Gonzaga e Welington Vieira Natália Boere

A mudança é show. Literalmente. Quem passa pela Praça São Salvador, em Laranjeiras, não raro ouve um arrasta-pé emanando de um caminhão de frete. E a surpresa é inevitável: um quarteto formado por sanfona, zabumba, triângulo e pandeiro toca forró como se estivesse mesmo num palco. A ideia foi do cantor, compositor e sanfoneiro Paulo Garcia, conhecido como Paulo Grande Solo, morador dos arredores da praça e dono do veículo.

— Sempre sonhei ter um caminhão para viajar de cidade em cidade tocando; essa foi uma forma de adaptar meu sonho. Comecei tocando sozinho, aí foram chegando a zabumba (de Luiz Gonzaga, batizada em homenagem ao ídolo nordestino), o triângulo (de Luiz Garcia) e o pandeiro (de Welington Vieira) — conta Grande Solo.

E, além de matar a vontade de brilhar num palco, ele acaba por jogar holofotes também para o seu serviço de transportes: conta que costuma fazer ao menos dez fretes num mês.

Mudança show. O caminhão de Grande Solo estacionado na Praça São Salvador — Foto: Arquivo pessoal

A vizinhança também vira cliente dos dois serviços. Tanto que o restaurante italiano Luigi’s já contratou duas vezes o seu show.

— Paulo é uma pessoa muito bacana, conhece todo mundo, tem um forrozinho pé de serra muito bom e faz o maior sucesso na praça — afirma Ednaldo Bezerra, gerente do Luigi’s.

Grande Solo conta que chegou à praça em 1978, vindo do distrito de Rive, no interior do Espírito Santo, onde nasceu, para trabalhar como faxineiro num edifício. Seguiu por ali como porteiro, zelador, garagista, sempre fazendo “um fretinho” nas horas vagas.

Após a venda de um Fusca, comprou terrenos e apartamentos em bairros como o Rio Comprido e a Lapa, até adquirir, há dez anos, o tão sonhado dois quartos nos arredores da São Salvador.

Hoje com 65 anos, Grande Solo diz que aprendeu a tocar acordeon, vendo vídeos na internet, só aos 47, quando teve condições de comprar seu primeiro instrumento:

— Perdi minha mãe aos 8 anos, era de família muito pobre, não tinha dinheiro.

Foi aí que a carreira musical do artista-fretista, que desde criança cantava em bailes em volta da sanfona, engrenou.

— Não ganho muito dinheiro com a música, mas sou reconhecido, e isso me deixa muito feliz — afirma.

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