Presidente Arce pede aos bolivianos que se mobilizem contra 'golpe de Estado' e muda comando militar do país

Tropas militares se aglomeraram em frente ao palácio presidencial, liderados pelo comandante do Exército Juan José Zúñiga, demitido na terça-feira

Por O Globo e agências internacionais — La Paz


Pessoas se afastam do gás lacrimogêneo disparado por tropas militares em frente ao Palácio Quemado, na Plaza de Armas, em La Paz AIZAR RALDES / AFP

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GERADO EM: 26/06/2024 - 19:25

Presidente Arce mobiliza contra golpe militar na Bolívia

Presidente Arce pede mobilização contra golpe militar na Bolívia e troca comando do Exército. Zúñiga foi destituído por criticar possível candidatura de Evo Morales. Arce convoca população para defender democracia e novo comandante ordena retirada das tropas. Disputa política acirrada no país.

O presidente da Bolívia, Luis Arce, apelou nesta quarta-feira aos bolivianos para que se mobilizassem contra a tentativa fracassada de golpe de Estado de militares que tentaram entrar à força na sede do governo, no centro de La Paz. Tropas e veículos militares blindados se aglomeraram em frente ao Palácio Quemado, na praça Murillo, sob comando de Juan José Zúñiga, destituído do cargo de comandante do Exército na terça-feira após fazer declarações críticas sobre a possível candidatura do ex-presidente Evo Morales em 2025. Diante das movimentações, o presidente anunciou novo comando no lugar de Zúñiga, José Wilson Sánchez Velázquez, ordenando a retirada completa das tropas que cercavam o local.

— Condenamos as atitudes de maus militares que lamentavelmente mancham a História do país tentando fazer um golpe de Estado quando o povo boliviano sempre foi um povo democrático — disse Arce em um pronunciamento na Casa Grande del Pueblo, adjacente ao Palácio Quemado, sede presidencial. — Saudamos o povo boliviano que, quando informado sobre esses acontecimentos, veio para a Praça Murillo defender a democracia.

Durante a fala, pessoas na plateia gritavam "Lucho, não está sozinho", usando o apelido do presidente entre apoiadores.

Pouco antes do pronunciamento oficial e de juramentar o novo comando do Exército, o presidente havia convocado a população a comparecer à Praça Murillo para se mobilizar contra o golpe de Estado, "em favor da democracia".

— O país, mais uma vez, enfrenta interesses para que a democracia na Bolívia fique truncada. Aqui estamos, o governo nacional com todos os seus ministros, com o seu vice-presidente, firmes. Firmes aqui na Casa Grande para enfrentar qualquer tentativa de golpe, qualquer tentativa que ameace a nossa democracia — disse logo após tentar fazer com que Zúñiga retirasse os militares da Praça Murillo, pedido que foi negado pelo comandante do Exército.

Após ser anunciado como novo comandante, Wilson Sánchez ordenou a retirada das tropas que tomaram a Praça Murillo. Durante sua fala, ele afirmou que Zúñiga era um "bom comandante", mas questionou o que aconteceu nas últimas horas e lhe pediu que não deixasse derramar o sangue dos soldados.

Bolívia: veículo militar blindado bate na porta do palácio presidencial

No início da mobilização militar, alguns soldados tentaram derrubar uma porta do palácio presidencial com um veículo blindado, testemunharam jornalistas da AFP, pela qual entrou brevemente Zúñiga antes de sair momentos depois. Na Praça Murillo, também lançaram gás lacrimogêneo contra um grupo de apoiadores do governo, que também gritavam em apoio ao presidente. Naquele momento, porém, Arce não estava no palácio, mas na Casa Grande del Pueblo, um edifício adjacente, juntamente com outros membros do Gabinete.

Zúñiga declarou à imprensa que "a mobilização de todas as unidades militares" buscava expressar seu descontentamento "com a situação do país", alertando que não permitiria uma possível nova candidatura do ex-presidente Evo Morales em 2025, que governou a Bolívia de 2006 a 2019.

— Já basta. Não pode haver essa deslealdade — afirmou, acrescentando que continua obedecendo ao presidente Arce "por enquanto", mas que tomará medidas para "mudar o Gabinete de Governo".

Em uma entrevista na segunda-feira a um canal de televisão, o então comandante do Exército afirmou que prenderia Morales se insistisse na candidatura apesar de ter sido inabilitado pela Justiça Eleitoral: "Esse senhor está inabilitado, não pode voltar a ser de novo presidente deste país", afirmou.

*Em atualização

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