Começa na Rússia julgamento do jornalista americano Evan Gershkovich, acusado de espionagem

Repórter do Wall Street Journal foi preso pelos serviços de segurança durante reportagem

Por AFP — Moscou


Começa na Rússia julgamento do jornalista americano Evan Gershkovich, acusado de espionagem Natalia Kolesnikova/AFP

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 04:42

Jornalista americano julgado por espionagem na Rússia

Jornalista americano Evan Gershkovich é julgado na Rússia por espionagem, após ser preso durante reportagem. Acusado de coletar informações para a CIA, enfrenta até 20 anos de prisão.

O julgamento por alegada espionagem contra o jornalista americano Evan Gershkovich, detido na Rússia desde março de 2023, começou na manhã desta quarta-feira, informou à imprensa uma porta-voz do tribunal de Yekaterinburg. O repórter do Wall Street Journal, de 32 anos, foi preso pelos serviços de segurança russos (FSB) durante uma reportagem na região dos Montes Urais e é acusado de espionagem — crime que pode ser punido com até 20 anos de prisão. Gershkovich nega as acusações.

— O juiz entrou na sala do tribunal. O julgamento começou — disse a porta-voz Irina Toshcheva aos repórteres.

Gershkovich apareceu em um cubículo transparente no tribunal regional de Sverdlovsk com a cabeça raspada e usava uma camisa xadrez escura. O jornalista também cumprimentou alguns de seus colegas com um “olá” quase inaudível. A imprensa credenciada teve um rápido acesso ao tribunal antes do início do julgamento, que decorrerá à porta fechada.

Veja fotos do jornalista americano Evan Gershkovich, do The Wall Street Journal, detido pela Rússia

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Em comunicado, a família do jornalista afirmou que ele está sendo processado injustamente por atos praticados durante a sua reportagem. "Evan é um jornalista e o jornalismo não é um crime", declarou a família, que apelou "ao governo dos EUA para que continue fazendo tudo o que for possível para trazer Evan para casa agora". A família explicou à AFP no início do ano que conta com a promessa do presidente americano, Joe Biden, de obter a libertação do jornalista.

A embaixada dos EUA em Moscou afirmou que seus representantes conseguiram acompanhar parte da audiência desta quarta. "Durante o período, as autoridades russas não apresentaram nenhuma evidência que corrobore as acusações", denunciou a embaixada, reafirmando que o jornalista foi detido "ilegalmente" e utilizado como "moeda de troca" pela Rússia "para alcançar objetivos políticos".

A declaração faz referência à sugestão das autoridades russas, incluindo o presidente Vladimir Putin e o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, de que estariam abertas a uma troca de prisioneiros com Gershkovich, mas apenas depois de ser proferido um veredito, que ainda não tem data confirmada. Putin admitiu que negociações estão em curso e deu a entender que poderia solicitar a libertação de Vadim Krasikov, condenado à prisão perpétua na Alemanha por ter assassinado, em Berlim em 2019 por ordem de Moscou, um ex-comandante separatista checheno.

Na semana passada, Ryabkov revelou que o país apresentou uma proposta a Washington para uma troca de prisioneiros, sem revelar os detalhes, declarando que "a bola está no campo dos Estados Unidos". Nesta quarta, segundo a agência Interfax, ele voltou a pedir ao governo americano que examine "com seriedade os sinais" enviados. Washington tem acusado repetidamente Moscou de deter cidadãos americanos na tentativa de os trocar por russos presos no estrangeiro por crimes graves.

A próxima audiência, segundo Toshcheva, acontecerá em 13 de agosto e a imprensa não será autorizada a filmar o jornalista novamente antes do anúncio do veredito.

Sem perder a esperança

Primeiro jornalista ocidental a ser preso e acusado de espionagem por Moscou desde o fim da era soviética, no início dos anos 1990, Gershkovich é acusado de ter recolhido informações sensíveis em nome da Agência Central de Inteligência (CIA) americana sobre a fábrica de tanques russa Uralvagonzavod, um dos principais produtores de armas do país, localizada na região de Ecaterimburgo. A Uralvagonzavod fabrica tanques T-90 usados ​​na Ucrânia e o tanque Armata de nova geração, bem como vagões de carga.

"A investigação estabeleceu e confirmou com provas documentais de que Gershkovich, um jornalista americano do The Wall Street Journal, sob as instruções da CIA, recolheu informações secretas na região de Ecaterimburgo em março de 2023 sobre as atividades da fábrica de defesa NPK Uralvagonzavod JSC na produção e reparação de equipamento militar", afirmou o comunicado do Ministério Público divulgado no último dia 13, acrescentando que "Gershkovich levou a cabo as ações ilegais utilizando métodos conspiratórios meticulosos".

A Rússia não forneceu anteriormente quaisquer detalhes públicos sobre o seu caso contra Gershkovich, afirmando apenas que o jornalista tinha sido "apanhado em flagrante", e o resumo está inteiramente sob sigilo. O jornalista está detido na famosa prisão de Lefortovo, em Moscou, embora o Serviço Federal Penitenciário russo tenha se negado a informar onde ele permanecerá detido.

Gershkovich, filho de judeus que emigraram da União Soviética, cresceu em Nova Jersey e trabalhava na Rússia desde 2017 para várias empresas de jornalismo. Em uma carta publicada em 2023, ele afirmou que "não perde a esperança". A embaixadora americana na Rússia, Lynne Tracy, que o visitou na prisão em maio, afirmou que o jornalista "mantém uma atitude positiva, esperando o início do processo por um crime que não cometeu".

Outros jornalistas americanos também estão presos na Rússia, incluindo a Vários americanos estão presos na Rússia, incluindo a jornalista russo-americana Alsu Kurmasheva, detida no passado por violar a lei de "agentes estrangeiros", e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, que cumpre uma pena de 16 anos de prisão por espionagem, uma acusação que ele nega.

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