Waghiston Salvatore, de 25 anos, cujo nome se pronuncia como o do primeiro presidente dos EUA, chegou ao país vindo do Espírito Santo em dezembro. Veio pela fronteira e aluga um quarto por US$ 750/mês (cerca de R$ 3.750) “do outro lado da linha de trem”. Pagou R$ 120 mil a um coiote brasileiro e chegou ao México em cinco dias, desde o Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Sua história faz parte da série de reportagens "Expatriados do Brasil", lançada pelo jornal O GLOBO no domingo.
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Waghiston, que trabalhava no Brasil em um escritório da Ambev, teve seu visto de turista negado pelo Consulado Americano do Rio. Juntou então, por um ano, “com a ajuda dos meus pais”, a quantia pedida pelo coiote. Também guardou o valor de uma passagem da Califórnia para Newark.
— Passei por Guatemala, El Salvador e México. Andei de avião, barco, trem, micro-ônibus, ônibus e carro de boi. Vivi momentos extremos, vi adolescentes de 16 anos segurando fuzil, parecia o cenário da série “Narcos”. Mas era tudo organizado, jamais me senti em perigo real — conta.
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'Tem quem não aguente o preço'
Ele faz uma pergunta e a responde de bate-pronto:
— Sabe o que aprendi de mais importante no caminho? Como o dinheiro corrompe as pessoas. Qualquer pessoa. Subornamos polícia, cartel, soldado, milícia. E seguimos.
O pior momento da viagem, conta, foi em território americano. Waghiston cruzou o Rio Grande e viveu, durante cinco dias, em um dos três acampamentos montados por imigrantes sem documentos na Califórnia, na fronteira sul do país:
— É quando não se pode nem ir pra frente, nem retornar. O deserto é um gelo. Não tem banheiro, comida, água, fica-se à espera das vans da polícia da fronteira. Elas chegam às 10h e às 23h, mas só têm capacidade para 24 pessoas, não dão vazão. Como a prioridade são mulheres e crianças, fiquei cinco dias no limbo. Quase enlouqueci.
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No acampamento, a sensação de abandono foi intensificada quando um americano, dirigindo um carro, gritou em direção ao grupo: — “Vão embora! Vocês não são bem-vindos!”.
O brasileiro crê não ser esta a última vez em que será atacado (“Eles têm medo que a gente roube os empregos deles, né?”). Mas, três meses após chegar em Newark, trabalha em uma funerária e, “apesar da imensa saudade dos pais”, acredita que fará a América. Sua audiência na Justiça para conquistar o direito de seguir no país está marcada para este mês.