Mulheres se mobilizam em protestos por direitos ameaçados ao redor do mundo

As razões são inúmeras: a discriminação imposta no Afeganistão, a repressão aos protestos no Irã pela morte de Mahsa Amini, o questionamento do direito ao aborto nos EUA ou as consequências da a guerra da Ucrânia em mulheres

Por AFP


Ativistas do partido Jamaat-e-Islami (JI) seguram cartazes e bandeiras em manifestação pelo Dia Internacional da Mulher, em 2023, em Laore, no Paquistão Arif Ali / AFP

Milhares de mulheres vão às ruas nesta quarta-feira para denunciar uma ofensiva global contra seus direitos e exigir o fim da discriminação e dos feminicídios, que aumentam em países como México e Colômbia.

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, são realizados eventos e marchas em várias cidades pelo mundo.

Os atos neste 8 de março são realizados em várias cidades, como Tóquio, Nairóbi, Cabul, Barcelona, Paris, entre muitas outras, conforme mostram imagens registradas por jornalistas da AFP.

Marchas pelo Dia Internacional da Mulher ao redor do mundo em 2023

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Milhares de mulheres vão às ruas para denunciar uma ofensiva global contra seus direitos e exigir o fim da discriminação e dos feminicídios

As razões da mobilização são inúmeras: a discriminação imposta no Afeganistão desde a volta ao poder do Talibã, a repressão aos protestos no Irã pela morte de Mahsa Amini, o questionamento do direito ao aborto nos Estados Unidos ou as consequências da a guerra da Ucrânia em mulheres. Em Madri, na Espanha, é esperada sua habitual maré roxa gigantesca.

— Os ganhos obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos — alertou o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, na segunda-feira (6).

Manifestantes se reúnem em Cabul pelo Dia Internacional da Mulher

— No ritmo atual, a ONU Mulheres estima que serão necessários 300 anos para alcançar a igualdade entre homens e mulheres, acrescentou, depois de recordar a situação no Afeganistão, onde mulheres e meninas foram "apagadas da vida pública" desde o retorno à o poder do Talibã em agosto de 2021.

As mulheres são as primeiras vítimas das guerras e estão sub-representadas nas mesas de negociação, denunciaram na terça-feira representantes oficiais perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas.

As universidades afegãs reabriram na segunda-feira após as férias de inverno, mas apenas os homens foram autorizados a frequentar suas salas de aula.

Em um gesto simbólico na véspera de 8 de março, a União Europeia (UE) adotou sanções contra nove funcionários e três entidades oficiais de seis países, incluindo Afeganistão, Rússia e Sudão do Sul, por casos de violência sexual e abuso contra mulheres. Como parte dessa medida, há sanções contra o ministro do Ensino Superior talibã, Neda Mohammed Nadeem, “responsável pela violação generalizada do direito à educação das mulheres”. Outros indivíduos ou entidades responsáveis ​​por violações dos direitos das mulheres no Irã, Birmânia e Síria também foram visados.

Marchas proibidas

As marchas de mulheres foram alvo de proibição em vários lugares, como no Paquistão, onde as autoridades acusaram os "cartazes polêmicos" que os manifestantes costumam carregar com reivindicações sobre o divórcio ou contra o assédio sexual. Apesar disso, milhares de mulheres saíram às ruas.

— Não vamos mais ficar em silêncio. É o nosso dia, é o nosso momento — disse Rabail Akhtar, uma professora que se juntou às 2 mil mulheres que protestaram em Laore.

As organizações feministas independentes de Cuba, que convocaram em resposta a uma “marcha virtual” nas redes sociais para conscientizar sobre a violência de gênero e os feminicídios, também não obtiveram permissão para se manifestar.

Defesa do direito ao aborto

Outro tema central das marchas é a defesa do direito ao aborto, enfraquecido nos Estados Unidos pela decisão da Suprema Corte de revogar em junho a decisão de 1973 que o garantia na esfera federal.

Na Europa, esse direito também foi enfraquecido na Hungria e na Polônia.

"Lutamos contra um patriarcado (...) que contesta até a exaustão nossos direitos — como o aborto — que conquistamos lutando", afirma o manifesto da marcha que terá início em Madri às 18h (GMT).

Europa

Na França, foram convocadas marchas por "igualdade no trabalho e na vida". O país está convulsionado por greves e protestos contra a reforma previdenciária promovida pelo governo liberal de Emmanuel Macron, que críticos dizem ter efeitos nocivos sobre as mulheres.

Em cidades francesas como Paris, Marseille e Nantes, ocorreram marchas das mulheres um dia após as manifestações nacionais organizadas desde o início do ano contra a reforma previdenciária do presidente francês e seu adiamento da idade legal de aposentadoria de 62 para 64 anos.

Em Bucareste, na Romênia, centenas de mulheres se reuniram em protesto pedindo às autoridades que respeitem o direito de escolha e o direito ao aborto, já que o número de locais onde esse procedimento pode ser feito no sistema de saúde do país está diminuindo, principalmente devido à recusa do pessoal médico para realizar tal procedimento por motivos religiosos.

México e Colômbia contra o feminicídio

Sob os slogans "Nem mais um assassinado!" e "Contra a violência sexista e o trabalho precário!", grupos feministas convocaram marchas nas principais cidades do México, onde foram registrados 969 feminicídios em 2022, segundo dados oficiais.

Também na Colômbia, organizações de mulheres convocaram manifestações em Bogotá, Medellín, Cali e outras cidades para exigir ações contra o aumento de feminicídios, que passaram de 182 em 2020 para 614 no ano passado.

Na Venezuela, sindicatos e federações convocaram uma passeata em Caracas para exigir garantias de seus direitos, violados por baixos salários, abusos e pela “crescente feminização da pobreza”.

Brasil

No Brasil, com uma "grande batucada feminista" em São Paulo e no Rio de Janeiro, serão denunciados os "cortes nas políticas de proteção às mulheres" e o "crescimento vertiginoso do machismo e da misoginia" durante o mandato do direitista Jair Bolsonaro ( 2019-2022), disse Junéia Batista, da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O atual presidente de esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva, participará em Brasília do lançamento de programas voltados às mulheres e da criação do Dia Nacional Marielle Franco contra a violência política, em homenagem à vereadora assassinada em 2018.

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