Trabalhar de casa segue como tendência pós pandemia: 8,3% dos brasileiros atuam assim, mostra IBGE

Em 2019, eram só 5,8%. Entre as mulheres, parcela é ainda maior, de 13,4%. Disparidade de gênero também é grande no trabalho em veículo próprio, onde atuam 7,3% dos homes e só 0,7% das mulheres

Por — Rio de Janeiro


Presença dos homens no trabalho em veículos é maior, enquanto as mulheres são mais presentes entre os que atuam em casa Montagem/Agência O Globo e Pixabay

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GERADO EM: 21/06/2024 - 10:00

Trabalho remoto em alta no Brasil

A pesquisa do IBGE mostra que 8,8% dos brasileiros trabalham em casa, um aumento significativo em relação a 2019. Mulheres lideram nesse modelo, com 13,4%, enquanto homens se destacam em trabalhar em veículos.

O percentual de brasileiros que trabalham em seu domicílio de residência é de 8,3% do total. A parcela até teve uma ligeira queda em relação a 2022, quando eram 8,5%. Mas segue como tendência firme após a pandemia de Covid. Para se ter uma ideia, em 2019, eram só 5,8% nesta situação.

Os números constam da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), que teve sua divulgação completa, incluindo dados adicionais, apresentada pelo IGBE nesta sexta-feira.

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Para Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV IBRE, um conjunto de fatores pode explicar isso. Ele observa que antes da pandemia já tinha uma tendência de crescimento desse número. Em 2012, 3,6% da população ocupada trabalhava de casa, número que vai aumentando ao longo dos anos seguintes e chegando a 5,8% em 2019, antes da pandemia.

— Já se tinha um aumento dessas estruturas de trabalho de casa, por alguns fatores. Primeiro, teve um aumento da digitalização no mundo como um todo, que faz com que as pessoas tenham mais acesso a instrumentos que permitem trabalhar de casa. Além disso, houve uma mudança na estrutura do mercado de trabalho, com a crise a partir de 2014, que teve sua recuperação a partir da informalidade. Então vemos que muitos trabalhadores por conta própria acabam abrindo o próprio negócio e trabalhando de casa, assim como em trabalhos mais informais — explica.

Porém, ele acrescenta que o aumento significativo a partir de 2022 (chegando a 8,5%) de fato tem forte relação com a pandemia.

— Não houve uma mudança tão grande no mercado de trabalho entre 2019 e 2022, mas as pessoas descobriram um novo formato de trabalho de casa e permitiram que isso pudesse acontecer. E foi um período tão longo de isolamento social em que não se podia fazer de outra maneira, que foi necessária essa adaptação — diz ele.

De acordo com Tobler, essa tendência continua, porque assim o trabalhador também não perde tempo de deslocamento, conseguindo muitas vezes aumentar a qualidade de vida, assim como pessoas que exercem dupla jornada, cuidando da casa, de filhos ou de idosos, também conseguem fazer isso com maior tranquilidade.

Essa questão da economia do cuidado, que recai principalmente sobre as mulheres, pode explicar inclusive os dados que mostram que entre elas a parcela das que trabalham em casa chega a 13,4%. Já entre os homens são 5,2% nesta situação.

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— As mulheres ainda se dedicam muito mais a trabalhos domésticos e de cuidado, que muitas vezes não são remunerados, e acabam ficando muito mais sobrecarregadas, o que dificulta sua entrada no mercado de trabalho. Então, na medida em que conseguem trabalhar de casa, fica mais fácil conciliar com essas atividades domésticas — diz o pesquisador.

Chama a atenção também a disparidade de gêneros entre os trabalhadores que têm, como principal local de trabalho, um veículo automotor. Entre os homens, 7,3% atuam em veículos - ou seja, uma parcela maior dos que trabalham em seu domicílio. Entre as mulheres, apenas 0,7% trabalham dirigindo ou em algum tipo de veículo automotor.

— Acredito que seja uma questão estrutural da sociedade em que essas ocupações, como motoristas e taxistas, sempre foram muito ligadas a homens. Houve uma demora para que a mulher tivesse acesso à tirar a carteira de motorista e ter essa autonomia. E mesmo com as tentativas de reduzir essa desigualdade, isso ainda não mudou muito — explica Tobler.

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