Globo Rural: Mel vira negócio para startup que conecta produtores ao mercado, inclusive no exterior

Portadora de fibromialgia, Simone Ponce criou a Bee2be, startup que dá apoio a uma rede de 250 produtores de pólen e própolis

Por — Vinhedo, São Paulo


A Bee2Be trabalha com uma rede de agricultores e apicultores, que “comandam” um exército de abelhas Divulgação

De início, foram os benefícios do mel para seu sistema imunológico que chamaram a atenção da empreendedora Simone Ponce. Portadora de um caso grave de fibromialgia — doença crônica que tem como principal sintoma a dor constante em todo o corpo —, ela recebeu de seu médico o conselho de buscar os subprodutos desse ingrediente natural, como pólen e própolis, para aliviar seu problema.

O quadro de saúde da empresária melhorou, e ela se interessou pelo mel por outro aspecto: o de transformar o fruto do “trabalho” das abelhas em um negócio. Foi assim que nasceu a startup Bee2be.

— Ao ver como a minha saúde se beneficiou de um produto tão bom, tive o desejo de levar essa experiência para outras pessoas. Mas, para isso, entendi que seria preciso criar mais oportunidade para os produtores — conta Simone. — Eles precisavam ter contato com processos mais sofisticados de produção e desenvolver maneiras de lidar com os preços predatórios do mercado.

A empreendedora começou a tirar a ideia do papel há pouco mais de um ano, quando fundou a Bee2Be, que oferece apoio à produção de mel em plantações de coco na Bahia. A startup já trabalha com uma rede de cerca de 250 agricultores e apicultores, que “comandam” um exército de cerca de 30 milhões de abelhas.

— Estudamos os processos de produção e ajudamos com melhorias no manejo — explica a empreendedora.

Força da exportação

A Bee2Be e os parceiros acertam previamente o destino da produção. E esse destino é, cada vez mais, o mercado externo. Desde que entrou em operação, a empresa já exportou 1,5 tonelada de pólen apícola, volume superior ao das vendas no Brasil, que somaram uma tonelada até o momento. No caso do própolis, a startup exportou 300 quilos no mesmo período e vendeu 500 quilos no mercado interno.

— A apicultura tem um grande potencial de ajudar na restauração do ecossistema local, que foi bastante afetado pelo desmatamento desenfreado da mata nativa ao longo do tempo. As abelhas têm um papel fundamental na preservação desses biomas. A atuação desses insetos na polinização melhora a produtividade dos cultivos — afirma Simone.

Polinizaores geram economia de até R$ 50 bilhões ao ano — Foto: Divulgação

Iniciativas como a da Bee2Be amplificam os esforços de preservação das abelhas, um dos insetos mais importantes na polinização, como é conhecida a transferência de pólen entre as partes reprodutoras masculinas e femininas de uma planta.

É esse processo que permite a formação de sementes e frutos, o que significa que dele depende a reprodução das espécies vegetais, como as que fazem parte da alimentação de humanos e animais. Os polinizadores geram uma economia para a agricultura brasileira de até US$ 10 bilhões (ou cerca de R$ 50 bilhões) por ano, segundo estimativa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.

Ameaça de extinção

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, já há espécies de borboletas e mariposas e pelo menos quatro categorias de abelhas ameaçadas de extinção no Brasil. Esse risco deu origem ao Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Insetos Polinizadores Ameaçados de Extinção, que deve se estender até 2027 e que tem como uma de suas principais metas amenizar os efeitos nocivos dos agrotóxicos sobre os insetos. O trabalho inclui ações para assegurar a sobrevivência dos polinizadores, como a preservação da cobertura vegetal e o combate a incêndios florestais.

Esse contexto mostra a importância de empresas dedicadas à preservação e multiplicação das abelhas, como a Bee2Be. Desde o fim do ano passado, a startup recebe apoio do Agro.BR, projeto da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que tem como principal objetivo ampliar a pauta de exportações brasileira.

A empresa também tem o apoio do programa de assistência técnica do Senar/BA, que ajuda na adoção de padrões de qualidade para exportação, e da Vitrine do Exportador, de promoção de produtos e empresas nacionais no universo digital.

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