Poeta Adélia Prado ganha o Prêmio Camões 2024

Versos da mineira, que Drummond chamou de 'lírica, bíblica, existencial', misturam religião, desejo e morte, falando sobre as angústias das mulheres da família que gostam de sexo e temem a Deus

Por O GLOBO — Rio de Janeiro


A poeta Adélia Prado Nana Moraes

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 13:28

Adélia Prado vence Prêmio Camões 2024

A poetisa Adélia Prado venceu o Prêmio Camões 2024, destacando-se por sua obra poética original e profunda. A premiação de 100 mil euros reconhece sua contribuição à literatura brasileira e portuguesa.

Ela é considerada por muitos a maior poeta viva do Brasil — e as láureas de 2024 parecem confirmar o título. Uma semana após conquistar o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, a mineira Adélia Prado, de 88 anos, foi anunciada, nesta quarta-feira (26), como a vencedora do Prêmio Camões deste ano. Atribuído desde 1989 a autores lusófonos pelo conjunto da obra, trata-se da mais importante recompensa da língua portuguesa. A autora receberá € 100 mil (equivalente a cerca de R$ 580 mil).

“Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética", comentou o júri do Camões, em nota oficial. “É há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”.

Adélia Prado nasceu em 1935, na cidade de Divinópolis, em Minas Gerais. Professora por formação, exerceu o magistério durante 24 anos antes de se consagrar como escritora. O reconhecimento veio aos 40 anos, com o livro de poemas “Bagagem” (1976). Os versos chamaram a atenção do poeta Carlos Drummond de Andrade. “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo”, escreveu ele na época em uma crônica no Jornal do Brasil. Em 1978, ela escreveu “O coração disparado”, com o qual conquistou o Prêmio Jabuti de Literatura, conferido pela Câmara Brasileira do Livro.

Entre poesia, prosa e antologias, Adélia já publicou mais de 20 livros. Os versos dessa católica fervorosa misturam religião, desejo e morte, falando sobre as angústias das mulheres da família que gostam de sexo e temem a Deus.

Novo livro e atuação nas redes

Adélia está a mais de dez anos sem publicar — sua última coletânea de poesia foi “Miserere”, de 2013. A poeta, porém, deverá lançar um novo livro de inéditas no segundo semestre deste ano. Intitulado “Jardim das oliveiras”, sairá pela editora Record.

“É um livro difícil de escrever porque as experiências que produziram os poemas também foram difíceis”, contou Adélia, em um depoimento nas redes sociais. “Mas tem alegria, também. Se for poesia verdadeira, não tem um que não tem alegria, pelo menos uma sombra de alegria, uma pisada na areia, uma pegada. A arte é assim, o pintor pinta um assassinato e você quer colocar na parede”.

A autora também tem emocionado os seus admiradores com leituras de seus poemas em seu perfil do Instagram. Postado no fim do ano passado, seu primeiro vídeo teve mais de 30 mil interações. Adélia disse ter ficado “assustada e emocionada” com a repercussão.

A poeta Adélia Prado na Flip, em 2006 — Foto: Marcos Tristão

“Fiquei alegre demais da conta com o sucesso da primeira experiência, porque todas as pessoas que comentaram, provaram para mim, primeiro, uma coisa muito afetiva com relação a mim”, agradeceu ela em uma postagem. “Não houve nenhuma recusa e todos que vi que realmente é verdade: a poesia tem que fazer parte do cardápio humano”.

Em março de 2020, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) anunciou uma homenagem à poeta na próxima edição do Prêmio Jabuti , em setembro, “por sua obra e seu compromisso intenso com as artes, e principalmente com nossa literatura”. Na época, Adélia confessou desconfiar de homenagens.

— Sempre tenho a impressão de que sou vítima de uma ficção — disse ela ao GLOBO em 2020. — Ao mesmo tempo, como sempre tive a certeza de que a obra é maior que seu autor, socorro-me desta convicção e aceito agradecida a festa.

Entre os brasileiros que já venceram o prêmio Camões estão João Cabral de Melo Neto (1990), Jorge Amado (1994), Antonio Candido (1998), Rubem Fonseca (2003), Lygia Fagundes Telles (2005), Ferreira Gullar (2010), Chico Buarque (2019) e Silviano Santiago (2022). A lista de consagrados pelo Camões inclui ainda o moçambicano Mia Couto, o angolano Pepetela, e os portugueses Agustina Bessa-Luís, José Saramago e Eduardo Lourenço.

O júri que decide o vencedor é composto por dois portugueses, dois brasileiros e dois representantes das demais nações lusófonas: Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Moçambique, Timor Leste e São Tomé e Príncipe. Cada jurado tem um mandato de dois anos.

Veja todos os vencedores do Prêmio Camões

  • 1989: Miguel Torga (Portugal)
  • 1990: João Cabral de Melo Neto (Brasil)
  • 1991: José Craveirinha (Moçambique)
  • 1992: Vergílio Ferreira (Portugal)
  • 1993: Rachel de Queiroz (Brasil)
  • 1994: Jorge Amado (Brasil)
  • 1995: José Saramago (Portugal)
  • 1996: Eduardo Lourenço (Portugal)
  • 1997: Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, o Pepetela (Angola)
  • 1998: Antonio Candido (Brasil)
  • 1999: Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal)
  • 2000: Autran Dourado (Brasil)
  • 2001: Eugénio de Andrade (Portugal)
  • 2002: Maria Velho da Costa (Portugal)
  • 2003: Rubem Fonseca (Brasil)
  • 2004: Agustina Bessa-Luís (Portugal)
  • 2005: Lygia Fagundes Telles (Brasil)
  • 2006: José Luandino Vieira (Portugal/Angola)
  • 2007: António Lobo Antunes (Portugal)
  • 2008: João Ubaldo Ribeiro (Brasil)
  • 2009: Arménio Vieira (Cabo Verde)
  • 2010: Ferreira Gullar (Brasil)
  • 2011: Manuel António Pina (Portugal)
  • 2012: Dalton Trevisan (Brasil)
  • 2013: Mia Couto (Moçambique)
  • 2014: Alberto da Costa e Silva (Brasil)
  • 2015: Hélia Correia (Portugal)
  • 2016: Raduan Nassar (Brasil)
  • 2017: Manuel Alegre (Portugal)
  • 2018: Germano Almeida (Cabo Verde)
  • 2019: Chico Buarque (Brasil)
  • 2020: Vítor Manuel de Aguiar e Silva (Portugal)
  • 2021: Paulina Chiziane (Moçambique)
  • 2022: Silviano Santiago(Brasil)
  • 2023: João Barrento (Portugal)
  • 2024: Adélia Prado (Brasil)

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