Cracolândia: 'a grade não é solução mágica, é parte pequena do trabalho', diz vice-governador

Felício Ramuth, coordenador das ações integradas entre estado e prefeitura para áreas em que há uso de drogas a céu aberto, diz que todos os usuários frequentes na região são conhecidos e mapeados para facilitar abordagem de equipes de atendimento

Por — São Paulo


Grades na Cracolândia nesta sexta-feira (21) Maria Isabel Oliveira

RESUMO

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GERADO EM: 21/06/2024 - 14:01

Cracolândia cercada por grades: vice-governador destaca ação de combate ao tráfico e uso de drogas em SP

A Cracolândia, região com concentração de usuários de crack em SP, foi cercada por grades. Vice-governador destaca que a ação faz parte de um conjunto de medidas para combater o tráfico e uso de drogas na área. Estratégias incluem mapeamento dos usuários e encaminhamento para tratamento. Controvérsias sobre ação humanitária e monitoramento da eficácia da medida também são destacadas.

A cracolândia, como se convencionou a ser chamada a área da cidade em que que há uma concentração de usuários de crack no centro de São Paulo, foi cercada por grades na última terça-feira. A ação, diz o vice-governador do estado, Felicio Ramuth (PSD), é apenas uma parte das de ações que têm sido adotadas na região desde março do ano passado para coibir o tráfico e consumo de entorpecentes no entorno. Ele também é responsável por coordenar um grupo consultivo que reúne estratégias da gestão estadual e municipal sobre o tema.

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Na atual ordenação do espaço — em que os usuários ficam em uma área cercada de grades na Rua dos Protestantes — houve uma facilitação para controlar o acesso de equipes de atendimento aos usuários, diz o vice-governador. O entorno foi chamado de "corredor da saúde".

— A grade não é solução mágica, apenas é parte pequena em relação da grandiosidade do trabalho que tem sido feito, com resultados — disse Ramuth em entrevista ao GLOBO. — A questão das grades é parte de uma centena de ações que temos feitos desde que começamos o plano de ações conjuntas entre a prefeitura e o governo do estado desde o ano passado.

Ele ainda diz que a grade “não é coisa de outro mundo”.

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— Há grades em shows, jogos de futebol, há na Praça Princesa Isabel, e até aqui no Palácio dos Bandeirantes. É natural. É um ordenamento para manter o atendimento de saúde — afirma. — Todos que estão lá dentro estão qualificados (mapeados), sabemos exatamente quem está lá dentro. Claro, quem chegou ontem não tem como saber, mas de forma geral temos qualificados as pessoas em operações. Sei, por exemplo, se a pessoa recebe auxílio ou não. Criou-se uma nova metodologia que permite uma concentração que não seja tão grande (de dia) que auxilia a abordagem das equipes.

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De acordo com Ramuth, o grupo de trabalho que une estado e município desde o ano passado adotou uma estratégia baseada na “jornada de cuidado” dos pacientes. Os usuários abordados são encaminhados para atendimento em que é definido se o paciente será encaminhado para uma comunidade terapêutica ou para um Centro de Atenção Psicossocial (Caps).

A localização das grades na Cracolândia — Foto: Editoria de Arte/O Globo

— Hoje em dia conseguimos tirar de 20 a 25 pessoas por dia da cena aberta de uso de drogas para receberem cuidados. Se a pessoa desiste, nós vamos lá, buscamos e levamos para um equipamento social da prefeitura. Pois assim é possível questionar se ela aceita outro tipo de tratamento. Quem vai até o fim do tratamento, é encaminhado para um programa que oferece qualificação e recursos — diz.

Ramuth afirma que restringir a área com grades é um tema que foi muitas vezes levado à mesa de discussão do grupo de especialistas que coordena, mas que a decisão foi tomada agora pela redução do número de pessoas no fluxo nos últimos meses — resultado, ele diz, das ações coordenadas no centro da cidade. De acordo com a contagem do estado, são cerca de 200 pessoas aglomeradas no “fluxo” pela manhã e uma média entre 200 e 800 pela noite.

— A noite, o fluxo aumenta. São pessoas que não estão comprometidas (ao local), que não dormem e acordam ali. São pessoas que têm sua vida, trabalham, e encontram ali uma facilidade de comprar e usar drogas ali — afirmou.

Sobre os questionamentos de que cercar a região implicaria em questões de ordem humanitária, o vice-governador afirmou que o direito de ir e vir está mantido.

— O direito de ir e vir está muito claro. Mesmo pela dinâmica do fluxo. Se temos 200 pessoas de manhã, 400 a tarde e 800 à noite, as pessoas estão indo e vindo. Entrando e saindo. Não há portaria, eventualmente existem ações, mas não é preciso mostrar cara e crachá pra entrar ali. É uma região delimitada — diz. — É uma grande oportunidade para mostrar nosso trabalho.

O prefeito Ricardo Nunes afirmou na manhã desta sexta-feira que a ação será monitorada e, caso não surta o efeito desejado, as grades podem ser retiradas.

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