Exército fala em ‘respeito mútuo’ após crítica do presidente de CPI à farda de Mauro Cid

Por Rafael Moraes Moura e Johanns Eller — Brasília e Rio


O tenente-coronel Mauro Cid (à esq.), ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, ao lado do presidente da CPI mista do 8 de janeiro, Arthur Maia (União-BA) Lula Marques/Agência Brasil

Quase 24 horas após o presidente da CPI do 8 de janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA), criticar a decisão do tenente-coronel Mauro Cid de comparecer fardado ao seu depoimento para o colegiado na última terça-feira (11), o Exército reiterou a versão de que orientou o ex-ajudante a usar o uniforme e falou em “respeito mútuo” entre as instituições.

A Força voltou a se posicionar após ser questionada pela equipe do blog sobre a fala de Maia classificando a presença de Mauro Cid fardado como “ruim” e um “erro” para a imagem do Exército. A instituição manteve o argumento de que o tenente-coronel deveria comparecer uniformizado para prestar informações relativas a um cargo de natureza militar.

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O tenente-coronel afirmou que ficará em silêncio, não respondendo aos questionamentos feitos por deputados e senadores.

“Cabe destacar que o Exército Brasileiro tem pautado suas relações com as demais instituições com base no respeito e na cooperação mútuas”, destacou a nota do Exército.

Após a conclusão do depoimento de Mauro Cid, na última terça-feira, Arthur Maia classificou, em conversa com a equipe do blog, a decisão como um erro.

“Acho que foi errado. Eu acho que foi ruim para a imagem do Exército. Eu sou um entusiasta e uma pessoa que tem muita admiração pelo Exército. Tenho falado isso repetidamente durante a CPMI e acho que para mim era melhor ter separado as coisas”, disse Maia à reportagem na última terça-feira (11).

As expressões do silêncio de Mauro Cid

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Mauro Cid usou de seu direito de habeas corpus e optou por ficar em silêncio em seu depoimento à CPMI.

Fardado, Mauro Cid se recusou ao longo de sete horas de depoimento a responder todas as perguntas dos integrantes da CPI – inclusive sua idade –, o que levou Arthur Maia a anunciar que apresentaria uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal pela recusa a esclarecer questões que não o incriminam.

Isso porque Cid, que foi convocado como testemunha, estava contemplado por uma decisão liminar da ministra do Supremo Cármen Lúcia que lhe garantia o direito de ficar calado ao ser questionado sobre assuntos que poderiam incriminá-lo. Porém, sob juramento, o ex-ajudante de ordens não poderia mentir e deveria responder às perguntas que não o comprometessem na Justiça.

Mauro Cid está preso desde o dia 3 de maio, quando foi alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) que apurava um esquema de falsificação de comprovantes vacinais no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro. Além dele, outras cinco pessoas foram presas.

Entretanto, as diligências da PF no caso encontraram evidências de planos golpistas no celular de Cid e em mensagens trocadas entre o então ajudante de ordens e aliados de Bolsonaro, incluindo outros integrantes da ativa das Forças Armadas. Desde então, o tenente-coronel do Exército é tido como um dos personagens-chave das investigações do 8 de janeiro.

Também por esse motivo, Cid era um personagem de interesse da CPI do 8 de janeiro desde sua instalação, no fim de maio. Entretanto, como publicamos no blog no mês passado, um impasse entre o presidente Arthur Maia e a relatora da comissão, Eliziane Gama (PSD-MA), contribuiu para que o depoimento do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não ocorresse de imediato.

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