Antero Greco tinha medo de elevador. Gostava muito de um cafezinho no meio do expediente. Era um leitor voraz. As características, tão banais em se tratando de um dos maiores craques do jornalismo esportivo nos últimos anos, não são só o que parecem, como Antero também não era. Refazer as memórias do colega, agora que ele se foi, é perceber o quanto tudo era feito pela convivência e para a generosidade. Foi esse gosto pela conversa, por escutar e ouvir, que desaguava no bom humor, cheio de risadas, que o fez ainda mais famoso nos fins de noites no Sportscenter, na ESPN Brasil, ao lado do seu grande parceiro Paulo Soares, o Amigão.
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Um quase atrasado incorrigível, Antero deixava Amigão, um metódico de carteirinha, ansioso em quase todas as noites, quando chegava ao estúdio minutos antes de o programa ir o ar. Como o próprio companheiro de bancada disse, agora o deixou triste por partir tão cedo. Aos 69, com o sonho de ver seus dois netos crescerem, o jornalista morreu na madrugada de ontem, vítima de um tumor no cérebro. Filho de italianos, deixou um legado no jornalismo esportivo escrito e de televisão brasileiro. No Estadão, começou como revisor de anúncios há 50 anos e foi repórter, chefe de reportagem, colunista e editor de Esportes. Na ESPN, foram 30 anos. A capacidade de contar boas histórias, o bom humor e o cuidado com a informação e a opinião eram fundamentos inegociáveis de um sujeito que era bom jornalista, na mesma medida de um jornalista que era um bom sujeito.
O gosto pelo cafezinho no meio das redações, confessou a alguns colegas, nunca foi pela bebida em si. Antero valorizava a prosa. Dizia ser perto da cafeteira onde se reuniam os amigos, e também aqueles que não se gostavam tanto, em conversas fundamentais para a vida e para o jornal. A leitura voraz, alimentada pelo conhecimento dos melhores sebos de São Paulo e as mais escondidas livrarias de Roma, não era só gosto, mas servia de assunto e causos para amigos e familiares.
Até o medo de elevador, coisa séria, servia para agregar. Antero subia pelas escadas até o 6º andar, onde ficava a redação do Estadão, e não era incomum que colegas o acompanhassem para botarem o papo em dia, seja sobre o Palmeiras, a Itália, ou a política. Uma vez, numa cobertura jornalística no Japão, se revoltou com o quarto no 47º andar de um hotel. Brigou para que o mudassem de andar. Conseguiu, e passou os dias subindo pelas escadas até o 12º, onde havia um quarto disponível.
Na última sexta-feira, com Antero já debilitado pela doença, e poucas esperanças de reversão do quadro clínico, surgiram informações desencontradas sobre sua partida, que só aconteceu na madrugada de quarta para quinta, logo após mais uma vitória do seu alviverde imponente — ele deixa mulher, dois filhos e dois netos. “É que ele estava subindo de escada”, brincou o fotógrafo gaúcho Paulo Pinto, o PP, seu colega por anos. Eis a mensagem final de alguém que nos fez sorrir até ao nos dar sua notícia mais triste.