Thales Machado
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Thales Machado

Por — Rio de Janeiro

As palavras são de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, ditas há quase seis meses, antes da partida do seu time contra o Botafogo, em casa, pela 12ª rodada do Campeonato Brasileiro.

— É verdade que nada fica decidido hoje, mas queremos jogar para ganhar do primeiro ao último segundo, as contas se fazem no fim — disse o treinador ao SporTV antes da partida, que terminou com vitória alvinegra por 1 a 0. — É uma prova de resistência, mental, não se vai ver agora. A força mental vai se ver nas últimas dez rodadas, vai fazer diferença. Já passamos por lá e sabemos o que é passar pelo Cabo das Tormentas.

Português de Penafiel, cidade próxima ao Porto, Abel conhece bem a história dos Cabo das Tormentas. Por certo aprendeu muito, nas aulas de História na Escola Secundária de Penafiel sobre a região no sul da África do Sul, no Oceano Índico, e que aterrorizava os navegantes portugueses desde sua descoberta, em 1488, por Bartolomeu Dias.

O nome oficial é Cabo da Boa Esperança. Foi Dom João II quem proibiu o apelido — que apagou pegando, “das Tormentas”. Como facilitava o caminho até a Índia, o rei preferiu uma alcunha um pouco mais otimista. Abel parece ter aprendido tudo isso, e aplicado no Brasileirão.

Foram sete vitórias, dois empates e uma derrota no Cabo das Tormentas do torneio, as dez últimas rodadas, no manual de Abel Ferreira. Antes disso, sua embarcação estava atrás de Flamengo, Bragantino e Botafogo, a 12 pontos da liderança. Viu o barco alvinegro afundar, o do Bragantino desacelerar e outro com um ótimo capitão, o rubro-negro, não ter o mesmo fôlego de quem tinha passado lá só um ano antes. No título de 2022, Abel Ferreira já tinha vencido oito e empatado duas nas dez partidas anteriores à confirmação do título.

A previsão de Abel sobre quando o Brasileirão se decidia não é bola de cristal. É puro conhecimento de quem domina o mapa e aprendeu a navegar nas águas tortuosas de um dos campeonatos mais competitivos do mundo como ninguém. E é impressionante que o tenha feito após apenas três anos de contato com o futebol brasileiro.

A prova viva de que Abel sabe os caminhos, pra além da taça, são alguns recortes da pontuação. O que mais me espanta é quando isolamos os seis primeiros colocados do Brasileiro, os classificados à Libertadores, e vemos quantos pontos eles fizeram jogando entre eles. Nesta classificação, o Palmeiras de Abel é último colocado, com apenas oito pontos. Duas vitórias em dez jogos: contra o Grêmio e a épica diante do Botafogo. São oito pontos conquistados, contra 17 do Atlético-MG no mesmo recorte, algo que seria a lamentar não fosse a visão sobre o todo — algo fundamental a qualquer marinheiro.

Antes de chegar ao Palmeiras, Abel estudou o Brasileirão e, entre várias conclusões, planejou que era preciso atenção contra clubes piores, em jogos que por vezes o time, a torcida e até a comunicação social do clube não se dedicavam ao máximo. Aplicou com precisão e venceu mais um Brasileirão.

No duelo entre o líder que prevaleceu e o que ocupou o posto por mais rodadas, a frase de Camões se dividiu. Para o Palmeiras, navegar foi preciso. Para o Botafogo, viver não foi.

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