Rodrigo Capelo
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Rodrigo Capelo

A CBF é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos. Na hierarquia do futebol, acima dela está a Fifa, da qual ela é filiada. Abaixo dela estão as federações estaduais, que se filiam a ela. É assim que o futebol se organiza. Tudo certo até aqui? Agora puxe uma cadeira, deixe conceitos pré-concebidos sobre os bastidores na gaveta e vamos conversar sobre sugestão que não é minha, mas do advogado Rodrigo Monteiro de Castro — mentor da Lei da SAF.

Suponha que a CBF constitua uma sociedade anônima: a CBF S/A. Uma companhia de capital fechado. Qual seria a responsabilidade dela? Uma vez que o Campeonato Brasileiro será organizado pela liga de clubes — não me pergunte quando, nem de quem —, a S/A ficaria com a administração da seleção brasileira. É o que gera mais dinheiro, com transmissão, patrocínios, amistosos, além de potenciais novas receitas. O que a confederação de fato faz de melhor.

E quem seria o dono desta S/A? Monteiro de Castro sugere que as ações se distribuam entre três entes: a própria CBF, pois a associação de direito privado sem fins lucrativos continuaria a existir, as federações estaduais e os clubes de futebol. Ele não fala em percentuais, até porque é nessa hora que começa a confusão, mas para fins de compreensão vou chutar números: a CBF retém 40%, as federações dividem 30% e clubes de todas as divisões dividem outros 30%.

A graça dessa história em termos de governança é que esses acionistas montariam um Conselho de Administração, a quem o corpo de profissionais da CBF S/A se reportaria, numa estrutura que tende a ser mais sólida e estável do que a amadora, que está em vigor. Avançaríamos. Mas quase ninguém quer debater governança. Então vamos falar em dinheiro.

A seleção brasileira é a única máquina de dinheiro que não falha há 30 anos. Ganhe ou perca em campo, vá bem ou mal a economia brasileira, mesmo que a camisa amarela vire símbolo momentâneo de polarização política, o escrete continua a ser rentável. R$ 1,2 bilhão em receitas em 2023, no primeiro ano do ciclo da Copa de 2026, que costuma ser de baixa nos patrocínios. O que isto implica lá na ponta? Deter um percentual da S/A valerá uma fortuna.

A opção que o presidente de uma federação estadual ou um clube de futebol poderia fazer, adiante, seria a seguinte: vender a participação dele sobre a CBF S/A para um investidor por dezenas de milhões de reais. Ele cederia a este terceiro as prerrogativas comerciais sobre a companhia, logicamente, mas não perderia seus direitos políticos na hierarquia do futebol, pois estes estariam preservados no âmbito das associações de direito privado, que seguem.

Se acho que o plano é viável? Na teoria, faz sentido. A modernização da governança é benéfica mesmo que não se venda nada para ninguém, e ainda dá para levantar dinheiro em cima. Só que a CBF não está quebrada, como os clubes ainda estão, e não será convencida de que precisa de uma SAF pelo mesmo motivo que alguns deles foram. Além do quê, o jogo de poder na confederação e nas federações é diferente daquele jogado nas associações clubísticas.

Se acho que o plano é viável? Na prática, duvido. Mas o trabalho do jornalista não é interditar a troca de ideias com o pessimismo costumeiro da profissão, às vezes até um certo cinismo. Monteiro de Castro e José Francisco Manssur superaram muitas adversidades na concepção da Lei da SAF, que continua a ser machucada pelas práticas do futebol. Por que não, CBF S/A?

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