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Por — Berlim

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GERADO EM: 23/06/2024 - 03:00

Símbolos nacionais na torcida alemã: debate sobre patriotismo

A presença de símbolos nacionais na torcida da Alemanha na Eurocopa 2024 divide opiniões devido ao avanço da extrema direita. O uso de bandeiras e cores do país gera debate sobre patriotismo e nacionalismo, refletindo a atual situação política e histórica da nação.

A Alemanha entra em campo hoje, às 16h, contra a Suíça, com a classificação já garantida para as oitavas de final da Eurocopa. Além do bom desempenho da equipe, outro ponto de destaque da campanha é o clima entre os torcedores, anfitriões da competição neste ano.

“Sommermärchen”, que se traduz para “conto de fadas de verão”, é um termo conhecido dos alemães. A expressão batizou a euforia que tomou conta do país durante a Copa do Mundo de 2006, última vez em que a Alemanha sediou uma competição esportiva de grande porte. Além da economia pulsante e de um verão ensolarado não tão comum, uma das características principais desse momento histórico foi a presença massiva da bandeira alemã pelas ruas.

Multidão alemã em Berlim na Copa de 2006 — Foto: AFP PHOTO DDP/ SEBASTIAN WILLNOW
Multidão alemã em Berlim na Copa de 2006 — Foto: AFP PHOTO DDP/ SEBASTIAN WILLNOW

O movimento marcou uma espécie de libertação para os alemães. Pela primeira vez desde a reunificação em 1990, eles puderam exibir com orgulho os símbolos nacionais de um país assombrado pelos horrores de duas guerras mundiais, do nazismo, do Holocausto, de uma ditadura comunista e de uma divisão que durou 45 anos.

Agora, 18 anos depois, a Alemanha encara novos desafios. Além de uma economia bem menos estável, afetada por crises internas, como a escassez de mão de obra qualificada, e crises externas como as guerras na Ucrânia e em Gaza, o país vive um novo avanço da extrema direita.

No início do mês, o resultado das eleições para o parlamento europeu firmou a consolidação do partido ultradireitista AfD (Alternativa para a Alemanha). Mesmo envolvido em escândalos por propostas e declarações extremistas de líderes da sigla, o AfD garantiu seis cadeiras a mais na União Europeia em relação ao pleito de 2019. Além disso, lidera pesquisas de intenção de voto para eleições estaduais em setembro e tem ganhado cada vez mais popularidade e apoio entre os jovens.

Para o historiador Jens Wagner, o impacto direto desse cenário político na relação dos torcedores com a exibição dos símbolos nacionais é o medo de alimentar o sentimento nacionalista. Diretor de dois memoriais em antigos campos de concentração da Alemanha nazista, ele destaca que a extrema direita “tem se apropriado” dos símbolos nacionais:

— A bandeira alemã com preto, vermelho e amarelo é a bandeira da democracia alemã. E até alguns anos atrás, os extremistas de direita não se apresentavam com ela, mas com a bandeira do Reich alemão, que é preta, branca e vermelha. Eles roubaram e usurparam esses símbolos, e acho que precisamos retomá-los.

Euforia entre mais jovens

Segundo Wagner, o cenário é bem diferente do que a Alemanha viveu em 2006:

— Alguns diziam que aquilo era nacionalista e perigoso. Eu discordo. Foi uma grande festa e não tinha nada a ver com nacionalismo. Foi uma celebração do esporte. Eu gostaria que acontecesse de novo, mas conheço muitas pessoas que têm medo ou são céticas quanto a apresentar esses símbolos, pois isso pode ser mal interpretado no momento.

Em Berlim, os alemães construíram a maior trave de gol do mundo atrás do Portão de Brandemburgo, um dos pontos mais simbólicos da cidade. O local também abriga uma “fanzone” gratuita de tamanho equivalente a dez campos de futebol. No jogo de estreia da seleção alemã, o local, planejado para receber até 50 mil pessoas, atingiu a capacidade máxima antes do apito inicial. Na última partida, contra a Hungria, o mau tempo pode ter contribuído para uma participação menos ativa. Nas duas ocasiões, camisas da Alemanha prevaleciam entre os fãs. No entanto, as cores da bandeira alemã, muito presentes, eram mais frequentes entre os jovens e um pouco mais raras entre o público acima de 40 anos.

Torcedor da Alemanha com camisa e bandeira da seleção — Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP
Torcedor da Alemanha com camisa e bandeira da seleção — Foto: Kirill KUDRYAVTSEV / AFP

Nos bares a céu aberto mais populares da cidade, o clima é parecido, mas apenas nos horários de partidas da Alemanha. Apesar de uma capital mais movimentada na última semana, com muitos turistas e torcedores de outros países, o clima de festa ainda não é tão presente em Berlim.

Um dos torcedores, Sebastian Karl, viajou da Baviera até Berlim com a família para acompanhar a Eurocopa na capital alemã. Fugindo à regra entre o público mais velho e trajado com a camisa da seleção e a bandeira, ele concorda que o clima não é o mesmo e que havia “mais euforia” há 18 anos:

— Apesar de não estar sendo igual, espero que aconteça conforme a equipe for ganhando partidas e avançando. Sei que era outro momento para o país naquela época, mas foi uma grande abertura de portas e, apesar das diferenças, espero que siga o mesmo rumo agora.

Mesmo considerando a influência do cenário político atual, Karl defende que é importante celebrar com os símbolos nacionais:

— Uso porque tenho orgulho. Porque somos um ótimo país, o número um da Europa no que diz respeito à economia, e o número três do mundo. É importante que tenhamos orgulho, mas não é assim que todos se sentem. As pessoas não percebem o quão bem estamos.

Para Anne (nome fictício), de 24 anos, tem sido “estranho” observar tantas bandeiras pelas ruas da capital, especialmente após as eleições de 9 de junho. Vestindo uma roupa “neutra”, a jovem contou que é importante para ela deixar claro que não está usando nenhum símbolo nacional:

— Não me sinto confortável e é algo que nunca fiz por causa de como a expressão de um patriotismo e nacionalismo fortes na Alemanha é marcada pela história. Eu, meus amigos e família temos fortes opiniões políticas e concordamos que não é preciso ser super nacionalista para gostar de esportes.

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