Os tricolores que foram ao Maracanã ontem apresentaram toda a contradição inerente à classe do torcedor de futebol. A vitória do Fluminense por 2 a 1 sobre o Cerro Porteño-PAR, nesta quinta-feira, valeu a classificação antecipada às oitavas da Libertadores e o primeiro lugar do Grupo A — no dia 29, o time joga contra o Alianza Lima, em casa, pela última rodada da fase de grupos. Mas a bronca da torcida com o atual campeão continental está tão entalada que provoca momentos de vaias e aplausos quase simultâneos.
Antes de a bola rolar, com o tricolor dependendo apenas de uma vitória para confirmar a vaga e primeiro lugar, o técnico Fernando Diniz ouviu alguns xingamentos quando seu nome foi anunciado. Eles foram logo abafados por gritos de incentivos de outra parte do estádio.
Nos últimos dias, alguns grupos cobraram a equipe no centro de treinamento, e a faixa “Diniz, para de inventar” transparecia a bronca com o técnico.
Diniz não inventou (muito). Sem Marquinhos, machucado, colocou Guga na lateral direita. Com as ausências de Felipe Melo (suspenso) e Manoel (que também se lesionou no jogo contra o São Paulo), a zaga teve Antônio Carlos e Martinelli.
O quarteto ofensivo que tanta felicidade deu à torcida em 2023 estava lá: Keno, Ganso, Arias e Cano. Os três últimos, pelo menos, apareceram logo de cara. De dentro da área, o argentino teve duas chances. Numa delas, colocou a bola para dentro, mas estava impedido.
Aquele tricolor de toque de bola do ano passado aparecia em lampejos. Como no golaço de Marcelo, que, no mano a mano, deixou o marcador para trás, ajeitou a bola com a canhota e acertou o ângulo de Jean com a direita, aos 14 minutos.
A genialidade do lateral, que atua mais como meia aos 36 anos, tem um preço. Quando ele sobe, o time fica mais exposto. Tudo que os paraguaios queriam era uma chance de contra-ataque. Sem André, que faz bem a proteção à zaga, se repete a fragilidade da defesa que tanto exaspera a torcida. E sobram vaias aos homens de trás.
Gol anulado e expulsão
Foi assim que veio o empate. Alexsander não soube segurar Piris da Mota, que ganhou no corpo e cruzou para Viera empatar. O Cerro aproveitou outra falha defensiva e balançou as redes de novo, mas o gol foi anulado por impedimento. Ainda assim, foi o suficiente para a torcida não perdoar Antônio Carlos, que viu a linha de passe de cabeça dentro da área.
O empate em 1 a 1 desagradava aos torcedores, mas era o suficiente para a classificação tricolor e bom para o Cerro, que decidiria sua vaga em casa contra o Colo-Colo. O time paraguaio Travou o jogo até quando pôde. Mas a expulsão de Báez, que recebeu o segundo amarelo após falta em Ganso aos 24 da etapa final, pôs tudo a perder. Minutos depois, o camisa 10 fez o segundo após bola cruzada de Guga.
Com o resultado a favor, Diniz mexeu no time, e o volante Martinelli, que começou na zaga, terminou na lateral. Por enquanto, o técnico pode celebrar um momento de trégua com a torcida, que renovou a crença no bicampeonato aos gritos de "'Venceremos venceremos, venceremos outra vez, venceremos essa Copa, como foi em 23".