Ela
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Por — Rio de Janeiro

Quando se dirigia ao Copacabana Palace na noite de premiação do Guia Michelin Rio de Janeiro e São Paulo 2024, a sommelière carioca Maíra Freire não sabia sequer que haveria um prêmio exclusivo para a sua categoria profissional. “Eu não estava acompanhando os vencedores de outros países”, ela conta. “E quando o Rafa (Costa e Silva, chef do Lasai) me disse, no caminho, que era possível que também tivesse no Brasil, nem passou pela minha cabeça ganhar, com tanta gente boa por aí”, diz Maíra, que logo depois se tornaria primeira brasileira laureada com o Prêmio Michelin Sommelier: “Foi um susto, uma surpresa. É muito legal ganhar prêmio, ainda mais um tão importante para a gastronomia”.

Para o diretor internacional dos Guias Michelin, Gwendal Poullennec, “ser sommelier significa ter uma habilidade especial”: “O profissional tem um papel fundamental na melhoria de todas as experiências gastronômicas, compartilhando conhecimento, paixão e antecipando as necessidades dos comensais”, afirma Gwendal, parabenizando Maíra. “Ela tem um trabalho incrível.”

A sommelière, de 43 anos e cerca de 15 na profissão, comanda, desde 2017, a adega do Lasai, no Humaitá, que acaba de entrar para o seleto grupo de restaurantes com duas estrelas Michelin no país — são apenas seis, no total, entre Rio e São Paulo. Sob sua égide estão cerca de 40 rótulos, dos quais 95% são de vinhos naturais, orgânicos e/ou biodinâmicos — elaborados a partir de agricultura biodinâmica, orgânica ou vinificados com o mínimo de intervenção, ou seja, sem adição de insumos, clarificação, filtragem etc. “Para mim, o vinho natural é o único futuro possível”, acredita a sommelière. “Porque a agricultura convencional é destruidora e nociva para nós e para o planeta”, observa Maíra, que não descarta os convencionais, escola pela qual diz ter respeito. “Mas vejo a necessidade dessa mudança de hábito de modo urgente”, diz.

"A apreciação pelo vinho e pela gastronomia entrou junta na minha vida, bem mais tarde” — Foto: Leo Martins
"A apreciação pelo vinho e pela gastronomia entrou junta na minha vida, bem mais tarde” — Foto: Leo Martins

Tais vinhos entraram na sua vida de maneira arrebatadora quando trabalhava no Zazá Bistrô, em Ipanema, em 2014. Para ela, o universo tradicional estava se tornando “enfadonho e repetitivo”: “Eram as mesmas vinícolas, vinhos parecidos, entediantes. Já os naturais mudam a cada ano, têm peculiaridades específicas. É terroir de verdade”, compara a sommelière, que desde então não os abandonou mais. Tornou-se curadora dos mais seletos vinhos deste gênero do país e do mundo. Para Rafa Costa e Silva, a filosofia de Maíra “deu match” com o Lasai porque, a partir da sua seleção rigorosa de garrafas, ela surpreende os comensais: “São escolhas excepcionais, nunca óbvias e, acima de tudo, muito boas. Ela descobre vinhos que pouquíssima gente tem e faz harmonizações que a gente nunca esperaria”, elogia o chef, que também se impressiona com a “capacidade de adaptação” da colega, cujo trabalho de harmonização é quase diário — frequência com que mudam os pratos do restaurante.

Ainda assim, não é a técnica o que mais atrai a sommelière Michelin na profissão, e sim o serviço, sua porta de entrada para o fine dinning, em 2009. “Sou apaixonada por hospitalidade, gosto de receber pessoas e transmitir informações”, explica Maíra, que, apesar de carioca, estreou em São Paulo — no extinto Ají, de comida peruana, comandado pelo chef e então namorado Checho González. “Comecei como garçonete, passei a maître e, por curiosidade, também cuidava da adega, porque o Ají não tinha sommelier”, lembra. Até então, Maíra nunca tinha se interessado por vinhos ou gastronomia, uma vez que os seus pais eram naturalistas. “Lá em casa a comida era só uma questão de saúde, de filosofia de vida. A apreciação pelo vinho e pela gastronomia entrou junta na minha vida, bem mais tarde”, conta. No Ají, decidiu estudar mais a fundo, e logo foi convidada para atuar no hotel Emiliano, também na capital paulista.

Maíra se dedica à militância em prol da divulgação dos vinhos naturais, ainda tão desconhecidos e pouco acessíveis do público em geral — Foto: Leo Martins
Maíra se dedica à militância em prol da divulgação dos vinhos naturais, ainda tão desconhecidos e pouco acessíveis do público em geral — Foto: Leo Martins

De volta ao Rio, acompanhou à distância a inauguração do Lasai, há uma década. Quando soube que o então sommelier da casa, Oliver Gonzales, estava de malas prontas para a Espanha, procurou Rafa e se ofereceu para a vaga. “Tivemos algumas conversas, eu disse que o Lasai era a minha cara e, ao mesmo tempo, seria difícil encontrar alguém no Rio que estivesse caminhando para o universo dos naturais, orgânicos e biodinâmicos”, lembra Maíra.

Maíra se dedica à militância em prol da divulgação dos vinhos naturais, ainda tão desconhecidos e pouco acessíveis do público em geral. Ao lado da chef Manu Zappa, do Prosa na Cozinha, a sommelière comanda a feira Primeira Taça, numa charmosa rua do Horto, onde barracas de pequenos produtores e importadores oferecem taças que custam entre R$ 17 e R$ 70. O evento, anual, é uma ação entre amigos — o design da logomarca foi criado pelo ilustrador Diogo Reis, namorado de Maíra e dono da grife Naked Neuras. A segunda edição aconteceu mês passado, mas o sucesso foi tanto — com o dobro de público esperado — que a ideia da dupla Manu e Maíra é repetir o feito ainda este ano. “O objetivo é colocar esse vinho na rua, fazer feiras, eventos em que as pessoas se sintam livres pra entrar, conhecer, fazer perguntas que teriam vergonha de fazer em outro espaço, dar aulas”, entusiasma-se Maíra, que integra um comitê da Associação Brasileira de Sommeliers dedicado a ensinar o tema.

'O objetivo é colocar esse vinho na rua, fazer feiras, eventos em que as pessoas se sintam livres pra entrar, conhecer, fazer perguntas que teriam vergonha de fazer em outro espaço, dar aulas', diz ela — Foto: Leo Martins
'O objetivo é colocar esse vinho na rua, fazer feiras, eventos em que as pessoas se sintam livres pra entrar, conhecer, fazer perguntas que teriam vergonha de fazer em outro espaço, dar aulas', diz ela — Foto: Leo Martins

A chef Manu Zappa, também antiga entusiasta dos vinhos naturais e parceira de Maíra na missão de democratizá-los, ressalta a importância do trabalho da sommelière em privilegiar pequenos produtores brasileiros. “Ela tem uma seleção única e vem fazendo isso quietinha há alguns anos”, conta a Manu. “Maíra é elegante, humilde, e acho que até agora não se deu conta do que aconteceu. Fiquei muito emocionada com o prêmio e disse para ela: ‘É importante para você, mas é também para nós, mulheres cariocas’”, ressalta Manu.

Maíra considera a sua aclamação pelo Michelin um reconhecimento de que a sua linha de atuação é contemporânea. E, de fato, “a ficha ainda não caiu”, ela brinca: “Mais legal do que o prêmio são as mensagens que tenho recebido, de pessoas que não conheço, quase todas mulheres felizes e se sentindo representadas”, orgulha-se.

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